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Colecionador de carros, Milei causa dúvidas na indústria do setor

Presidente eleito da Argentina promete acabar com impostos de importação, o que pode causar grandes impactos nos fabricantes locais

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Milei usou imagens de carros na campanha, entre as quais a de um Cadillac 1970
Milei usou imagens de carros na campanha, entre as quais a de um Cadillac 1970 Foto: X/Reprodução

Eleito novo presidente da Argentina no último domingo, com 55,69% dos votos, Javier Milei (53), do partido A Liberdade Avança, é, aparentemente, um entusiasta de carros. Tanto que mantém até uma pequena coleção, formada por pelo menos três modelos: um Cadillac Sedan DeVille 1961, um Mazda MX-5 Miata 1988 e um Peugeot RCZ. 

Durante a campanha presidencial, Milei, inclusive, chegou a utilizar o Cadillac em peças publicitárias. Assim, não chega a ser surpresa que a plataforma política do economista contemple o setor automobilístico. Porém, o caso é que as propostas do novo presidente da Argentina para essa questão são, no mínimo, bastante controvertidas.

É que, durante a campanha, Milei se posicionou contra o acordo do Mercosul em diferentes ocasiões. A plataforma de governo até prevê que os membros do bloco econômico sigam gozando de livre comércio, mas o presidente eleito da Argentina promete isentar as tributações de importação também para produtos oriundos de outros países.

E é nesse ponto que surgem as controvérsias. Afinal, Brasil e Argentina são grandes parceiros comerciais. Carros, veículos pesados e autopeças representam cerca de 30% de todas as exportações para o país platino. Para se ter uma ideia, 80% de todos os automóveis importados pela Argentina têm produção nacional. Em 2022, a indústria brasileira enviou 137.135 veículos para o mercado vizinho.

Por outro lado, o Brasil também é um grande importador da Argentina: também em 2022, o país vizinho enviou 202.406 veículos para o mercado nacional. Considerando todos os setores, o Brasil é o destino de 62,8% das exportações platinas.

Possíveis impactos das medidas de Milei sobre o setor automobilístico

O que preocupa o setor automobilístico é que, caso Milei realmente abra as portas da Argentina para veículos importados, a indústria local sofrerá forte impacto. Isso, porque produtos estrangeiros, em especial os asiáticos, têm preços muito mais baixos, por diversos fatores, que incluem preço da mão de obra, tributação e escala industrial, entre outros. 

Alguns analistas preveem até a possibilidade de fechamento de fábricas de veículos na Argentina. E esse cenário pode se repetir também no Brasil, já que o país vizinho é um grande consumidor de produtos nacionais. Caso isso realmente aconteça, ambos os países podem passar por um processo de desindustrialização, que incluiria a demissão em massa de trabalhadores.

Todavia, há de se considerar ainda que muitas dessas medidas dependem de aprovação no Congresso da Argentina. Assim, Milei, que está na política há apenas dois anos, precisará de muita habilidade para negociar com os parlamentares, já que o partido A Liberdade Avança tem poucos representantes na casa. Resta aguardar as medidas do presidente eleito, que tomará posse no próximo dia 10.