A guerra travada entre a ex-União Soviética e Estados Unidos, de 1947 a 1991, é um conflito geopolítico sempre lembrado. Com inúmeras consequências para o mundo, não só políticas, mas também avanços e invenções tecnológicas, como o surgimento de dois impressionantes caminhões russos.
Um dos maiores símbolos deste conflito foram as armas nucleares, principalmente os mísseis. Armas poderosas e, consequentemente, com medidas colossais proporcionais ao estrago que faziam. E um dos desafios era construir um veículo terrestre capaz de transportar essas armas com segurança.
Também apelidado no relatório da OTAN como “bom companheiro" ou “homem valente”, o RT-23 Molodets era um míssil intercontinental, que tinha mais de 100 toneladas e podia transportar até dez ogivas nucleares, voando por mais de 10 mil quilômetros até atingir o alvo. O monstro surgiu na década de 1980 e logo exigiu um projeto que solucionasse seu transporte.
Caminhão Russo MAZ-7904
O primeiro veículo desenvolvido no projeto foi o pai do modelo MAZ-7907: o MAZ-7904, que tinha 32 metros de comprimento, 6,8m de largura e 3,45m de altura. E cada pneu tinha 3m de diâmetro.
Uma curiosidade é que os pneus só puderam ser fabricados por meio de uma mentira, já que a URSS alegou à produtora Bridgestone que os itens eram para um caminhão de mineração em desenvolvimento, e não para o transporte de arma nuclear.
O modelo era equipado com dois motores, um marítimo turboalimentado, V12 de 42 litros, e outro de operação estacionária que alimentava as bombas hidráulicas, geradores elétricos, sistema de refrigeração do motor V12 e outros itens.
Entretanto, o veículo consumia 400 litros de diesel em uma hora e, devido ao seu peso, causava uma pressão de até 60 toneladas por eixo. A máquina chegou a ser testada no Cazaquistão, mas além de provar não ser nada prático, seu raio de giro de 50 metros dificultava muito na hora de manobrar.
Caminhão russo MAZ-7907
Todos estes erros e observações serviram de lição na construção do seu sucessor, o MAZ-7907. Um caminhão soviético de 12 eixos que é um dos maiores veículos sobre rodas do mundo. O projeto, do designer bielorrusso Boris Lvovich Shaposhnik, desenvolvido dentro da Minski Awtomobilny Zavod, ou MAZ, surgiu em 1983.
O plano rendeu duas unidades de veículo, mas só a primeira se tornou operacional. Medindo 28,1 metros de comprimento, 4,69m de largura e 4,45m de altura, com tração 24×24, em todas as rodas. E oito eixos direcionais, sendo os quatro dianteiros e quatro traseiros, com um raio de giro de quase 28 metros.
Devido ao comprimento do veículo, existia receio de que ele quebrasse. Por isso, o chassi era dividido em duas partes, com uma articulação limitada no meio. E a suspensão era independente em cada roda.
O motor ficava sob a cabine e tinha potência total de 1.250cv, trabalhando com um gerador de energia. A eletricidade era enviada para 24 motores elétricos de 30kW cada um, posicionados em cada uma das rodas.
A cabine era operada por um motorista e mais dois assistentes, e funcionava como um quadro de comando. Vazio, o veículo pesava 68 toneladas e conseguia transportar cargas de até 150 toneladas.
Caminhão russo perde para os ferroviários
O gigante chegou a ser testado, nas rodovias da região de Minsk, na Bielorússia. Rodou nas estradas, na época fechadas pelos militares, por mais 100 quilômetros. Apesar de tudo, mesmo apresentando bom funcionamento, o projeto do MAZ-7907 foi cancelado. O míssil acabou sendo transportado por trens.
Com o fim da Guerra Fria, o caminhão russo foi deixado em uma fábrica da MAZ, onde permaneceu até 1996, quando foi alugado para transportar uma embarcação de 40 metros e 88 toneladas.
A viagem durou dois meses, já que a velocidade média atingida era de apenas 10km/h. Mas a embarcação chegou em perfeito estado ao seu destino.
Depois do episódio, o colossal caminhão MAZ-7907 voltou para a fábrica e segue parado. Talvez algum dia chegue a fazer parte de um museu.
(*) Estagiária sob supervisão do editor Enio Greco
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