O empresário Manuel Agostinho Rodrigues de Miranda, 66, foi assassinado no último domingo (29) dentro de seu Toyota Corolla blindado. O caso, que ocorreu em Del Castilho, zona norte do Rio de Janeiro, chamou a atenção pela brutalidade.
Foram mais de 30 tiros de fuzil calibre 7,62 mm atingidos na lateral do veículo. Apesar da blindagem, o empresário não resistiu aos disparos. A polícia civil investiga o caso como possível vingança por conta do jogo do bicho. E desta forma, o episódio levanta uma pergunta sobre a real segurança oferecida pela blindagem automotiva e como ela funciona.
A blindagem automotiva é uma técnica que envolve o reforço estrutural de diversas partes do veículo para resistir a tiros e ataques. O processo, geralmente, começa com a retirada do revestimento interno do carro, para depois inserir materiais como aço balístico, aramida (similar ao Kevlar) e vidro espesso. Essas partes reforçadas, chamadas de painéis balísticos, são colocadas nas portas, teto, laterais e, em alguns casos, no porta-malas e nas colunas do carro.
Já os vidros blindados são feitos com uma combinação de camadas de vidro e policarbonato, um material leve e resistente que ajuda a absorver o impacto de projéteis.
No Brasil, os níveis de blindagem mais comuns variam de I a III-A, com o nível III-A sendo o mais utilizado. Este nível é capaz de resistir a disparos de armas de fogo comuns, como pistolas e revólveres de calibre .44 Magnum e .357 Magnum, além de suportar até três tiros concentrados no mesmo ponto.
Conheça os tipos de níveis balísticos usados no Brasil:
- Nível I-A: Protege contra armas de calibres .22 e .38, comuns em revólveres e pistolas pequenas, como Taurus PT22 ou Rossi .38. É permitido para uso civil.
- Nível II-A: Resiste a tiros de pistolas 9mm (como a Glock 17) e revólveres Magnum .357. Também liberado para civis.
- Nível III-A: O mais comum, suporta disparos de revólveres Magnum .44 e submetralhadoras Uzi. Usado em mais de 90% dos carros blindados civis.
- Nível III: Resistência a fuzis AK-47, AR-15, FAL, G3, entre outros. Essa blindagem é restrita a uso militar e não pode ser aplicada a veículos civis.
- Nível IV: Protege contra metralhadoras, como a .338 Lapua Magnum e granadas, mas também é restrita para uso militar.
- Nível V: Suporta projéteis de metralhadoras de calibre .50 BMG, proibido para civis.
A blindagem automotiva protege várias partes essenciais do veículo, e o processo envolve:
- Portas: São revestidas com aço balístico ou aramida para proteger contra disparos diretos.
- Vidros: Utilizam camadas de vidro e policarbonato com espessura de 21-22 mm (nível III-A).
- Teto: Reforçado para resistir a projéteis que poderiam vir de disparos superiores.
- Laterais e Colunas: Protegem as áreas entre portas e estruturas principais do veículo.
Porém, há algumas partes do carro não podem ser blindadas por conta de limitações estruturais , como:
- Junções entre portas: As áreas entre portas, onde ocorrem os encaixes, não permitem a colocação do revestimento balístico.
- Maçanetas: Não podem ser revestidas devido ao mecanismo de abertura das portas.
- Vãos de janelas: O mecanismo de abertura e fechamento impede a blindagem completa nas junções.
- Sistema de escape: Não é possível blindar o escapamento.
- Caixas de rodas: A blindagem nessas áreas é limitada para preservar a mobilidade do veículo.
Manutenção da blindagem
Um ponto importante para a segurança de veículos blindados é a manutenção periódica. Os materiais de blindagem, especialmente os vidros, podem sofrer desgaste ao longo do tempo, o que compromete a resistência. É recomendado revisar o estado dos vidros, painéis de aço e possíveis fissuras no revestimento a cada dois anos.
Além disso, a blindagem pode aumentar o peso do carro em até 200 kg, o que demanda revisões mais frequentes no sistema de suspensão e freios, além de cuidados com o alinhamento e balanceamento.
No Brasil, as blindagens mais eficazes, como as de nível IV e V, não podem ser usadas por civis por conta das restrições legais. Esse nível é exclusivo para instituições como transportadoras de valores e uso militar.
A razão principal dessas restrições é garantir que civis não tenham acesso a blindagens de alta resistência, o que poderia complicar a ação das forças de segurança em situações de conflito ou criminalidade. Além disso, essas blindagens mais pesadas deixariam os carros muito pesados e afetariam o desempenho e outros componentes.
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