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HISÓRIA COMPLETA

A história do motor Fire: como ele revolucionou a Fiat no Brasil e no mundo

Do Palio ao Mobi, passando pelo Mille e pela Strada, o motor Fire marcou gerações, e agora se despede após quase 40 anos de história

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Fiat Uno Mille Fire Economy Flex modelo 2009 quatro portas prata cofre do motor 1.0 Fire estático na terra
Fiat Uno Mille Fire Economy Flex modelo 2009 quatro portas prata cofre do motor 1.0 Fire estático na terra Foto: Marlos Ney Vidal/EM/D.A Press

O motor Fire (Fully Integrated Robotized Engine) nasceu em 1985 na Itália, no auge da transformação tecnológica da Fiat. A ideia era clara: criar um motor compacto, eficiente e de fácil produção. Seu nome completo praticamente já traduz muita coisa: ele foi desenvolvido com processos totalmente robotizados, ou melhor, o primeiro motor feito por computadores. 

O Fire trouxe uma nova era para a Fiat, já que ele era mais barato de produzir e fácil de manter, o que o tornava atraente tanto para a Fiat quanto para os consumidores. Porém, depois de 40 anos, o Fire diz "adeus".

O motor Fire era perfeito para o cenário europeu, onde eficiência energética sempre foi uma prioridade devido aos altos custos dos combustíveis. Eram poucas peças, em torno de 273, e por isso ele era chamativo pelo custo-benefício. 

O primeiro modelo a receber esse motor foi o Autobianchi Y10, um pequeno hatchback destinado ao mercado europeu, que rapidamente se ficou famoso pela economia de combustível e baixa emissão de gases. Ele era vendido pela Lancia, marca comprada pela Fiat em 1969. 

Com blocos iniciais de 1.0 e 1.1, o Fire entregava potências entre 45 e 55 cv, um marco para a época, quando o foco era atender às exigências ambientais e reduzir custos de produção.

Em 1986 o Fire começou a conquistar o coração, tanto da Fiat, quanto dos consumidores. Com isso, o propulsor estreou no Panda e no Uno. Rapidamente conquistou espaço como um dos compactos mais vendidos da Fiat. 

Ambos os modelos aproveitaram ao máximo a confiabilidade e eficiência do Fire, que já nas versões iniciais apresentava baixos custos de manutenção e consumo reduzido de combustível.

Nos anos 1990, o Fire continuou a aumentar sua presença, equipando sucessivas gerações do Uno e do Panda, além de outros modelos como o Fiat Punto e o Lancia Ypsilon com motores 1.1 e 1.2 Fire de oito válvulas. Ele conseguia gerar entre 55 a 80 cv de potência dependendo do ano e configuração. 

Em 1995, o lançamento da versão 16V do motor 1.2 Fire marcou um passo importante, já que ele oferecia maior potência sem sacrificar a eficiência. Modelos como o Fiat Bravo e o Fiat Brava foram alguns dos primeiros a adotar essa configuração.

Com o passar dos anos, no entanto, o Fire começou a enfrentar desafios. A introdução de normas de emissões cada vez mais rigorosas na Europa, especialmente o Euro 5 e o Euro 6, pressionou a Fiat a investir em novas tecnologias. 

Mesmo que o Fire tenha sido atualizado ao longo do tempo, com a adoção de sistemas de injeção eletrônica mais avançados e melhorias nos materiais, ele começou a perder espaço para motores mais modernos, como o Firefly, que dão melhor eficiência energética e reduções maiores de emissões.

Com isso, a descontinuação de diversos carros acabou matando aos poucos a motorização Fire. Porém, na Europa, somente um veículo utiliza ele: o 500 Abarth, que utiliza o 1.4 Multiair 16 válvulas de 180 cv de potências 

A chegada ao Brasil no Fiat Palio como pioneiro em 2000

O motor Fire desembarcou no Brasil em maio de 2000, equipando a segunda geração do Fiat Palio. Até então, os motores Fiasa, que equipavam Uno, Palio e outros, dominavam a gama de compactos da Fiat no país. 

Com a chegada do Fire, a montadora inaugurou uma nova era, dando motores mais modernos, silenciosos e econômicos. Palio foi o carro escolhido para estrear o Fire no Brasil. Inicialmente, apenas o motor 1.3 16V com 80 cv, que equipou o Siena e o Palio Weekend também. Em 2001, chegou a variante 1.0 16V com 70 cv. Os motores utilizavam injeção multiponto. 

O sucesso foi imediato: a combinação de economia, desempenho e baixa manutenção atraiu os consumidores. O Fire transformou o Palio em um dos modelos mais vendidos do Brasil nos anos 2000, sendo constantemente atualizado até 2018, quando o modelo saiu de linha, dando o lugar ao Argo.

Em 2003, o Fire começou a ser flex. Em 2004, o Fire chegou ao icônico Fiat Uno Mille, substituindo os antigos motores Fiasa. O Mille então ganhou um novo fôlego com o Fire. Em 2005, o Mille também virou flex, o que ajudou muito a aumentar a potência do modelo.

No mesmo ano, em 2005, o motor que era o 1.3 virou 1.4 pelo deslocamento que foi alterado para 1.368 cc. O cabeçote de 16V também saiu para criar o de oito válvulas. A grande vantagem foi o torque em baixas rotações que foi melhorado.

A configuração inicial trazia um motor 1.0 8V, com potências de 66 cv (etanol) e 65 cv (gasolina). O resultado foi um carro mais econômico, com desempenho melhorado para sua proposta urbana. 

O Mille Fire foi importantíssimo para consolidar a Fiat no mercado de carros populares, já que oferecia um veículo acessível, com custo de manutenção baixo e excelente consumo de combustível.

O Mille equipado com motor Fire se tornou o carro preferido de milhares de brasileiros, sendo produzido até 2013, quando deixou de atender às normas de segurança exigidas na época.

O motor Fire também desempenhou um papel central no sucesso do Fiat Siena, a versão sedã do Palio. Assim como o hatch, o Siena ganhou os motores Fire a partir de 2000, inicialmente nas versões 1.0 16V e posteriormente, em 2001, na 1.3 16V.

Com o tempo,  a evolução do Fire foi aumentando para atender às demandas do mercado. Assim, em 2010, a Fiat lançou o Fire Evo, que trouxe de novidade o variador de fase no comando de válvulas. Pistões e bielas também mudaram. Assim nascia o 1.4 Evo, que ficou em linha até 2024, quando mudou. 

  • Essa foi a última mudança do motor Fire no Brasil 

A Fiat Strada, lançada em 1998, recebeu os motores Fire em sua linha a partir de 2001. Para a picape compacta, o Fire trouxe um novo nível de eficiência e desempenho, especialmente para versões voltadas ao trabalho, como a Working 1.3 8V.

O motor Fire permaneceu como opção na Strada por quase duas décadas, sendo substituído pelo Firefly em modelos mais recentes. Falando em recente, o Fiat Mobi, lançado em 2016, foi o último carro a utilizar o motor Fire no Brasil. 

Inicialmente equipado com o 1.0 Fire Evo, o Mobi oferecia potências de 73 cv (etanol) e 70 cv (gasolina). Mesmo que compacto, o Mobi carregou o legado do Fire até 2025, quando a Fiat finalmente aposentou o motor devido às novas regras ambientais do Proconve L8.

Por que o Fire saiu de linha?

O motor Fire foi descontinuado porque não atendia às exigências do Proconve L8, que visa reduzir drasticamente as emissões de poluentes eficiência exigidos pela nova legislação.

Além disso, o mercado está exigindo motores mais modernos, como o Firefly, que já equipava a maioria dos modelos da Fiat. Com opções 1.0 e 1.3, o Firefly oferece maior potência, menor consumo e atende às normas ambientais mais rígidas.

São quase 40 anos de história no mundo e 25 anos no Brasil. Esse é o motor Fire. Ele transformou a Fiat em líder no segmento de compactos, por ser relativamente potente pelo seu tamanho, simples, durável, e além de tudo, econômico. 

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