A quebra prematura da correia dentada nos modelos Onix, Onix Pluse Tracker da Chevrolet, tem causado dor de cabeça e custos altos para os proprietários. Mesmo com a garantia esticada para 240 mil quilômetros, o defeito, ligado muitas vezes ao uso de óleo errado, continua sendo um pesadelo para quem roda com esses carros.
Quem tem um Chevrolet Onix, Onix Plus ou Tracker já deve ter ouvido falar do problema da correia dentada. Esse componente importante dos motores 1.0 de três cilindros, tanto aspirados quanto turbo, vem dando o que falar no Brasil. Donos relatam que a correia esfarela, racha ou até rompe bem antes do esperado, causando danos sérios ao motor e deixando contas salgadas na oficina.
A Chevrolet até aumentou a garantia da peça para 240 mil km, mas isso não resolveu a desconfiança de muita gente. O vilão, segundo a marca, é o uso de lubrificante inadequado. Só que, mesmo com revisões em dia, o defeito aparece, e os prejuízos podem passar dos R$ 10 mil.
O grande calo desses modelos está na correia dentada, ou a chamada correia de comando, que sincroniza o movimento das válvulas e dos pistões no motor. Nos Chevrolet com motor 1.0 de três cilindros, usados no Onix, Onix Plus e Tracker, ela é lubrificada pelo óleo do próprio motor, um sistema chamado “banhada a óleo”.
A ideia é boa: tornar a correia mais leve, silenciosa e durável, com troca prevista só aos 240 mil quilômetros ou 15 anos, segundo o manual. Mas a realidade é outra. Muitos motoristas desses carros enfrentam o rompimento ou esfarelamento da peça com menos de 50 mil quilômetros rodados, mesmo seguindo as revisões.
Quando a correia quebra, o motor sofre. As válvulas param, os pistões batem nelas, e o resultado é um cabeçote danificado ou até um motor inteiro para retificar. O custo, segundo mecânicos consultados pelo VRUM, roda entre R$ 3.300 só para trocar a correia, tensionador e rolamento, mas, se o estrago for maior, o conserto pode chegar a R$ 12 mil ou até R$ 20 mil, dependendo do dano no cabeçote e na parte de baixo do motor.
Isso sem contar a bomba de óleo, que sai por cerca de R$ 900, caso precise trocar. É um golpe no bolso, especialmente para quem usa o carro para trabalhar, como taxistas e motoristas de aplicativo.
O causador de tudo isso, segundo a Chevrolet, é o lubrificante inadequado. Nos motores aspirados, o óleo correto é o AcDelco 0W-20 com certificação Dexos 1 Gen 3, enquanto os turbo pedem o AcDelco 5W-30 com a mesma especificação.
Se o óleo não tiver os aditivos certos, a correia pode ressecar, rachar ou esfarelar, soltando pedaços que entopem dutos e prejudicam a lubrificação do motor. Só que há quem diga que, mesmo com o óleo indicado, o problema aparece. Relatos dizem que o projeto da correia banhada a óleo pode ter falhas, ou que combustíveis de baixa qualidade no Brasil aceleram o desgaste.
No site Reclame Aqui, os casos aparecem. Ricardo, taxista de São Paulo, disse que seu Onix Plus 2020 turbo teve a correia quebrada com 132.500 km, em novembro de 2023.
"Estava trabalhando e meu carro quebrou a correia dentada com 132.500 km. No manual a troca de correia dentada é de 240.000 km ou 15 anos. A concessionária disse que eu não tenho direito ao conserto e que eu tenho que pagar pelo mesmo. Falaram que o veículo está fora da garantia e eu não realizei as revisões na Chevrolet, que o carro é de uso comercial e tem o uso intenso/severo. Prefiro fazer revisões com meu mecânico de confiança. E faço as revisões periodicamente. É meu meio de sustento."
por Proprietário de um Chevrolet Onix Plus 1.0 Turbo
A Chevrolet respondeu: “Salientamos que seu veículo está fora do período de garantia e de acordo com a página 233 do manual do proprietário o reparo não será realizado em garantia”.
Outro caso é do Roberto, de São Paulo, com um Onix LTZ 1.0 turbo 2020. Em maio de 2023, com 50 mil km, a correia rompeu.
"Fiz as três primeiras revisões na concessionária, mas depois as outras revisões foram efetuadas em oficinas pelo alto valor das revisões da concessionária (valores quase 200% acima dos valores de mercado). E então o veículo parou e teve que ser rebocado até a oficina. Sendo diagnosticado Quebra Precoce da Correia Dentada. O veículo está com 50 mil km. Conforme o mecânico, deverá ser efetuada a retífica do cabeçote/motor. Quem irá arcar com todos os prejuízos do conserto e dos transtornos de ter o carro parado vários dias. Aguardo um pronunciamento da Chevrolet."
por Proprietário de um Cheverolet Onix LTZ 1.0 Turbo
A marca pediu que ele levasse o carro a uma autorizada, mas não assumiu o reparo por estar fora da garantia.
Bladimiro, dono de um Onix 2023 turbo, relatou em abril de 2024 um caso ainda mais grave. Com apenas 20 mil km, a correia começou a esfarelar. “Usei óleo Motul 5W30 Dexos, superior ao indicado, e a concessionária não tinha o ACDelco correto na revisão. Agora, vou gastar R$ 4 mil para abrir o motor. Chevrolet nunca mais”.
O que é a correia dentada?
A correia dentada é uma peça de borracha com dentes que conecta o virabrequim (parte de baixo do motor) ao comando de válvulas (parte de cima). Ela faz tudo funcionar no tempo certo: válvulas abrindo e fechando enquanto os pistões sobem e descem.
Nos motores antigos, usavam corrente de metal, mais resistente, mas mais pesada e barulhenta. A correia de borracha é leve e silenciosa, mas precisa de troca periódica. No caso da Chevrolet, a inovação foi mergulhá-la no óleo do motor para aumentar a durabilidade. Porém, se algo dá errado, o estrago é grande.
Os modelos afetados
Esse problema atinge os Chevrolet equipados com motores três cilindros da família CSS Prime, lançados a partir de 2019. São eles:
- Onix (hatch, aspirado e turbo)
- Onix Plus (sedã, aspirado e turbo)
- Tracker (SUV, com motor 1.0 turbo
Tanto os aspirados (até 82 cv) quanto os turbo (até 116 cv) usam a correia banhada a óleo, e o defeito aparece nos dois tipos. A diferença está no óleo: aspirados pedem 0W20, e turbo, 5W30, sempre Dexos.
Por que a correia falha?
O esfarelamento, as rachaduras e o rompimento têm causas claras. Primeiro, o lubrificante errado. Se o óleo não segue a especificação Dexos, ele ataca a borracha da correia, que resseca e se desfaz. Pedaços podem entupir a bomba de óleo ou o pescador do cárter, travando o motor.
Segundo, o uso severo – trânsito pesado, estradas ruins ou combustível adulterado – pode acelerar o desgaste. Terceiro, há quem aponte um problema no projeto: a correia, mesmo com óleo correto, parece não aguentar as condições do Brasil.
É comentado por mecânicos que o calor do motor e a qualidade irregular de gasolina e etanol pioram. A Chevrolet diz que, com a manutenção certa, a correia chega aos 240 mil km. Porém, os mecânicos sugerem trocá-la antes, por volta dos 70 mil km, para evitar surpresas.
Garantia estendida resolve o problema?
Em 2024, a Chevrolet anunciou garantia estendida para a correia dentada, subindo de 100 mil km ou três anos para 240 mil km, sem limite de tempo, válida para carros fabricados desde 2020. Só tem um porém: isso só vale se todas as revisões forem feitas na concessionária, com óleo ACDelco Dexos e carimbos no manual.
Para quem faz manutenção fora, nada feito. O motor em si continua com garantia de três anos, ou 100 mil km para uso comercial. Ou seja, a correia ganhou mais cobertura que o resto do motor, mas a exigência de revisões caras nas autorizadas afasta muita gente.
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