A gasolina E30, nova mistura que aumenta o teor de etanol de 27% para 30%, está prevista para chegar ainda em 2025, conforme aprovado pelo Ministério de Minas e Energia (MME). Porém com essas mudanças, o carro que não é flex pode sofrer danos? É isso que vamos entender.
A mudança, prevista na Lei do Combustível do Futuro sancionada em outubro de 2024, traz benefícios como a diminuição de até R$ 0,13 no preço do litro, a redução de 760 milhões de litros de gasolina importada por ano e a queda de 1,7 milhão de toneladas de emissões de gases de efeito estufa, como fosse tirar 720 mil carros das ruas.
Antes de falar dos riscos, vale entender como a gasolina funciona hoje no Brasil. A gasolina que abastecemos nos postos é chamada de gasolina C, uma mistura de gasolina A (pura, sem etanol, produzida em refinarias como as da Petrobras) com etanol anidro. Desde 2015, a proporção obrigatória é de 27% de etanol anidro e 73% de gasolina A, conhecida como E27.
Essa mistura com etanol é definida pelo governo e pode variar entre 18% e 27,5%, dependendo de fatores como a oferta de álcool e os preços no mercado. O etanol anidro, com 99,5% de pureza, é adicionado pelas distribuidoras diretamente nos caminhões-tanque, e o movimento do transporte permite a homogeneidade da mistura antes de chegar aos postos.
A gasolina C atende às especificações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), com octanagem mínima de RON 93 e baixo teor de enxofre (50 mg/kg), o que diminui emissões de poluentes como monóxido de carbono e óxidos de nitrogênio.
Carros flex, que dominam a frota brasileira – mais de 76% dos carros leves, segundo a Auto Indústria – não devem ter problemas com a E30. Esses motores ajustam a queima automaticamente por meio da sonda lambda, que detecta a proporção de etanol e adapta a injeção de combustível. “Para o motor flex, o consumo de combustível vai aumentar, considerando que o poder calorífico do etanol é menor”, comentou Rogério Gonçalves, diretor de combustíveis da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA).
Em 2015, quando o teor de etanol subiu de 25% para 27,5%, testes da Anfavea mostraram um aumento de consumo entre 1% e 2% em carros flex, e a expectativa é que a E30 siga um padrão semelhante.
A situação muda para veículos não flex, como importados, híbridos e modelos fabricados antes de 1993, quando os motores brasileiros começaram a ser calibrados para misturas com etanol. Esses carros, projetados para gasolina com mais etanol podem ter problemas.
O etanol anidro é mais corrosivo que a gasolina e tem maior relação com água, o que pode causar desgaste em peças do sistema de alimentação, como bomba de combustível, bicos injetores, mangueiras e vedações.
Além disso, a queima menos não tão eficiente em motores não adaptados pode aumentar o consumo e diminuir a potência do carro, além de dificultar a partida a frio em temperaturas abaixo de 15 C.
Fernando Falcão, mecânico em São Paulo, disse que já viu casos de importados com falhas após o uso de gasolina brasileira. “O etanol a mais pode corroer peças que não foram feitas para isso”. Ele sugere que donos de carros não flex usem gasolina premium, como a Petrobras Podium, que mantém 25% de etanol, e façam revisões mais frequentes no sistema de injeção e arrefecimento.
Os testes do Instituto Mauá de Tecnologia, realizados entre janeiro e março de 2025, analisaram 15 carros e 13 motos, incluindo modelos antigos (de 1992 a 1996) e mais recentes (padrão PL8). Segundo Renato Romio, gerente do laboratório, disse que os resultados foram positivos e confirmou que o aumento da mistura não causa danos aos motores nem afeta o desempenho ou a dirigibilidade.
O ministro Alexandre Silveira reforçou: “Testamos 17% da frota que roda só a gasolina, incluindo importados, e a E30 foi aprovada”, em entrevista ao G1.
Porém especialistas dizem ao contrário e híbridos a gasolina importados podem sofrer. Um deles, como o Honda Accord e:HEV, são calibrados para gasolina com menos etanol, e a E30 pode afetar o sistema de injeção. Híbridos e motos também estão no radar.
"Os carros que vão sofrer mais são os novos importados e os híbridos, pois o sistema de condução de combustível, bico injetor e bomba de combustível terão que passar por revisões constantes para que esses veículos consigam funcionar adequadamente. O híbrido vem com um padrão elétrico/gasolina geralmente. Se a gasolina vai ser modificada e ele foi homologado para funcionar com a mistura entre 22% e 27% de etanol na gasolina, o carro precisará passar por revisões e até ajustes para não ter prejuízos."
por doutora em Engenharia Mecânica e professora do UniBH, Lucimar Amaral, na Fecombustíveis.
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