Uma fornecedora da Hyundai teria usado trabalho infantil no setor de estamparia metálica de uma fábrica em Montgomery, no estado norte-americano do Alabama. A notícia repercutiu em vários veículos de imprensa dos Estados Unidos, entre os quais o The Drive: famílias de três crianças, além de autoridades locais e funcionários, denunciaram a empresa.
Segundo as denúncias, crianças a partir de 12 anos trabalharam na Smart Alabama LLC, fábrica de estamparia metálica responsável por fornecer componentes para grande parte dos carros e SUVs Hyundai vendidos nos Estados Unidos. De acordo com relatórios, a empresa tem um histórico de violações de segurança e de saúde, o que inclui riscos de amputação e esmagamento.
O problema foi notado a partir do desaparecimento de uma menina de 13 anos, imigrante da Guatemala. A polícia americana achou a criança em outro estado americano dias depois do sumiço, acompanhada de um outro funcionário da empresa. De acordo com a menina, o rapaz (de 21 anos) era um amigo e eles estavam juntos procurando vagas melhores de emprego.
O rapaz foi deportado e, após entregar a criança de volta para a família, a polícia descobriu que seus outros dois irmãos (também crianças) já haviam trabalhado na mesma fábrica. Os três não estavam matriculados na escola. De acordo com as autoridades, a família passava por dificuldades financeiras.
A Smart Alabama, que, segundo o próprio site, tem a capacidade de fornecer componentes para até 400 mil veículos a cada ano, enfrentava dificuldades em 2020 para reter pessoal e atender à demanda. Uma carta enviada por Gary Sport, gerente geral da fábrica, afirmava que havia "uma falta severa de mão de obra na fábrica" e que a Hyundai "não tolera essas deficiências".
Denúncias de exploração infantil fábrica que fornece para a Hyundai
Ouvido sob a condição de anonimato, um imigrante ex-trabalhador da Smart disse que havia cerca de 50 trabalhadores menores de idade nos diferentes turnos de trabalho da fábrica, acrescentando que conhecia alguns deles pessoalmente.
Tabatha Moultry, 39, trabalhou na linha de montagem por diversos anos, até 2019. A mulher disse que o giro de pessoal na fábrica era muito alto e que a empresa dependia cada vez mais de trabalhadores imigrantes, para atender à demanda imensa por produção. Ela disse que se lembrava de ter trabalhado com uma menina imigrante "que parecia ter 11 ou 12 anos".
Pedro Tzi, o pai da menina, também trabalhou para a Smart e agora sobrevive informalmente no ramo da construção civil e madeireiro. Ele disse que lamentava que seus filhos tivessem precisado trabalhar. Segundo ele, a família necessitava de toda renda que pudesse naquele momento, mas agora está tentando seguir em frente.
"Tudo aquilo ficou para trás", ele disse. "As crianças não estão mais trabalhando, e quando as aulas começarem elas estarão na escola".
O que diz a lei
A legislação federal e a do Alabama proíbe o trabalho de menores de 18 anos em operações de estamparia e torneamento de metais, como as da fábrica fornecedora da Hyundai, pois as máquinas perigosas poderiam expô-los a risco. A lei estadual também requer que todas as pessoas até 17 anos estejam matriculadas em uma escola.
A Smart anunciou em comunicado que segue as leis federais, estaduais e municipais e "nega qualquer afirmação de que tenha deliberadamente empregado qualquer pessoa inelegível para trabalhar". A empresa disse que depende de agências de mão de obra temporária para preencher suas vagas, e que sua expectativa é de que "essas agências sigam a lei na hora de recrutar, contratar e colocar trabalhadores em nossas instalações".
Em nota divulgada na última sexta-feira (22), a Hyundai disse que não tolera práticas ilegais de trabalho em nenhuma das entidades da empresa. "Temos políticas e procedimentos em vigor que exigem o cumprimento de todas as leis locais, estaduais e federais", disse.