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SUV elétrico da VW!

ID.4 é o Volkswagen mais complicado do Brasil e não pode ser comprado

Apesar de encantar pelo visual e desempenho ser satisfatório, uso complicado e planos caros fazem o modelo ser raridade nas ruas

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Volkswagen ID.4
Volkswagen ID.4 Foto: Maurício Campelo

Volkswagen significa carro do povo em alemão, e de fato, fornecer um veículo para locomover as massas foi por muito tempo o objetivo da marca. Com os lendários Gol, Fusca e Kombi na sua história, a marca oferece desde agosto de 2023 um carro elétrico no Brasil, o ID.4, que jamais irá repetir o sucesso de qualquer outro VW nas ruas, afinal, não é vendido pela marca.

O que é o ID.4?

Lançado em setembro de 2020, o ID.4 é um SUV da família de elétricos “ID”, sendo o segundo representante da linha, lançado após o ID.3. O modelo foi descrito por Scott Keogh, CEO da marca nos Estados Unidos da seguinte forma: “Performance de GTI, porte e equipamentos de Tiguan e propósito do Fusca”. 

Medindo 4,58 metros de comprimento, 1,85 m de largura, 1,63 m de altura e 2,76m de entre-eixos, o ID.4 fica posicionado entre o Taos (4,46 m) e o Tiguan (4,72m), mas a impressão que passa é de que é até maior que os modelos a combustão.

 

ID.4 é 12 cm maior que o Taos e se destaca pelo entre-eixos de 2,76m
ID.4 é 12 cm maior que o Taos e se destaca pelo entre-eixos de 2,76m Foto: Maurício Campelo/EM

A versão Pro é uma das mais equipadas do modelo globalmente, e a única oferecida no Brasil. Oferecendo apenas motor traseiro, são 204 cv de potência e 31,6 kgfm de torque, estes entregues de forma instantânea. As baterias de 77 kWh garantem 370 km de alcance no ciclo do Inmetro, o que é mais do que suficiente para o uso urbano ou viagens curtas.

Como o ID.4 se comporta?

Logo ao entrar no ID.4, tudo é parecido, mas ao mesmo tempo distante dos demais Volkswagens. O banco do motorista se ajusta eletricamente e o volante lembra o do Nivus e T-cross, mas revestido em couro sintético na cor branca, te faz lembrar que é um Volkswagen, mas de luxo. O interior desta unidade conta com revestimento nas cores preta, marrom e branca. Os detalhes em branco, confesso que incomodam, especialmente por estarem no volante, apoio de braço nas portas, central multimídia e outras áreas onde as mãos sempre estarão em contato.

Interior mistura elementos em três cores e iluminação interna pode ser configurada
Interior mistura elementos em três cores e iluminação interna pode ser configurada Foto: Maurício Campelo/EM

Os bancos com ajustes elétricos garantem a posição de dirigir ideal. O volante tem um bom diâmetro e pode ser ajustado manualmente. Mas existem alguns detalhes pra lá de complexos e que incomodam na experiência. 

Basta afivelar o cinto do motorista que o carro já está ligado. Pressione o pedal do freio e coloque o câmbio em D e o ID.4 já se move. 


O comportamento dinâmico não é muito diferente de outros carros elétricos. Com rodas de 21 polegadas e pneus 225/40, o ID.4 gosta de fazer curvas, ajudado pelas baterias posicionadas no assoalho, o que garante um baixo centro de gravidade, entretanto, ele é um carro alto, e inevitavelmente, há um pouco de rolagem de carroceria em curvas. Os pneus de perfil baixo podem deixar algumas imperfeições da rodovias serem sentidas na cabine, apesar do ótimo trabalho da suspensão.

Fazer ultrapassagens, mudanças de faixa, ou qualquer manobra no trânsito é bem fácil para o ID.4, que apesar de medir 4,5 metros e pesar quase 2 toneladas, é bem ágil. A aceleração de 0 a 100 km/ em 8,5 segundos e o torque instantâneo, sempre te lembrarão da agilidade do modelo.

Apesar disso, rodar com o ID.4 nos grandes centros pode ser complicado, já que ele passa a impressão de ser maior do que realmente é. Essa rodagem pode ser prejudicada ainda mais pela falta de visibilidade em algumas situações, especialmente quando há trafego no lado direito. A coluna C é muito grande e o vidro traseiro é pequeno, portanto, confie somente no retrovisor externo.

Complicações em excesso

Posição de guiar é boa, mas posição do seletor de marchas incomoda
Posição de guiar é boa, mas posição do seletor de marchas incomoda Foto: Maurício Campelo/EM

Sair do lugar com o ID.4 é bem fácil, mas dirigi-lo, não. Certa vez, com alguns colegas da imprensa, alguém brincou que era necessário fazer um curso para entender o modelo, e no contato com o veículo, acompanho o colega. 

O painel de instrumentos é bem pequeno e se divide para mostrar a velocidade, porcentagem da bateria, alcance e a navegação, mas pode ser configurável. Apesar de pequeno, as informações aparecem de forma bem clara. A central multimídia tem 10 polegadas e ativar o Android Auto, por exemplo, não é tarefa fácil. 

Central multimídia de 10" tem boa câmera, mas uso é difícil
Central multimídia de 10" tem boa câmera, mas uso é difícil Foto: Maurício Campelo/EM

Em diversos outros modelos, basta conectar o Bluetooth que a multimídia já abre o Android Auto. No caso do ID.4 foi necessário o uso de cabo, e mesmo assim, procurar o menu de espelhamento com o aplicativo e então conseguir usufruir da função. Mas vale ressaltar que esse processo é demorado e nem sempre funciona de primeira.

O vidro elétrico pode ser considerado genial ou economia de custos. São apenas dois botões, mas servem para controlar os vidros dianteiros e traseiros, basta apertar a tecla “Rear”, posicionada acima dos botões, que o comando passa a controlar os vidros traseiros.

Particularmente, prefiro quatro botões. E vale ressaltar que se o carro não estiver ligado, os vidros não funcionam. Até aí tudo bem, mas é complicado entender quando o carro está ligado, já que não faz nenhum ruído. Basta entrar no carro com a chave no bolso, por exemplo, e pisar no freio que ele já está ligado, entretanto, em apenas uma semana, não dá para se acostumar com isso.

Botão vidro elétrico Volkswagen ID.4
Botão vidro elétrico Volkswagen ID.4 Foto: Divulgação/Volkswagen

Outro fator que incomoda é a posição dos controles de iluminação. Apesar de faróis automáticos, caso o motorista queira acender as luzes de neblina, ou os faróis altos, é necessário acessar um menu no lado esquerdo. É necessário tirar a atenção da via para enxergar os botões, o que pode ser perigoso. 

Funções como controle de cruzeiro adaptativo e limitador de velocidade, por exemplo, são mais fáceis de ser acessadas. O modelo até conta com Park Assist (que estaciona o carro automaticamente), frenagem autônoma de emergência e diversos outros itens de segurança como os sete airbags.

Muitos carros elétricos são equipados com o sistema One Pedal Drive, que permite que o motorista controle o carro somente pelo pedal do acelerador, bem como borboletas atrás do volante que controlam a intensidade da frenagem regenerativa. O ID.4 não conta com essas funções, entretanto, em uma descida de serra, por exemplo, o carro consegue controlar a distância para o veículo da frente de forma automática graças aos sensores do ACC (controle de cruzeiro adaptativo).

Visual

Volkswagen ID.4 impressiona pelo porte e visual diferenciado
Volkswagen ID.4 impressiona pelo porte e visual praticamente exclusivo Foto: Maurício Campelo/EM

Disponível nos tons Blue Dusk (o mesmo das fotos) ou Moonstone Gray (Cinza similar ao do Nivus), o ID.4, pelo menos na pintura azul, chama a atenção por onde passa. Quem gosta de ser o centro das atenções, a bordo do SUV elétrico irá atrair diversos olhares, seja de pessoas que se perguntam que raio de carro é esse, e outras que parecem confusas com o logotipo da Volkswagen em um veículo que não se parece com nada que a marca oferece por aqui. As rodas de 21 polegadas com acabamento diamantado e o belíssimo tom de azul destacam ainda mais o SUV.

Na dianteira é possível ver que o ID.4 está ligado aos demais modelos da VW por conta de acabamentos no para-choque que lembram o Nivus, por exemplo. Os faróis de LED são bem bonitos e garantem uma iluminação muito satisfatória.

Na traseira, ele não esconde que é um SUV Volkswagen e traz as lanternas de LED, com um desenho até futurista, envolvidas por uma moldura preta, lembrando, novamente, o Nivus. O teto é pintado de preto, mas não é possível perceber isso, já que as laterais contam com um aplique prateado, uma solução que deixa o visual mais elegante.

Volkswagen ID.4
Volkswagen ID.4 Foto: Maurício Campelo/EM

Compensa?

Antes de responder essa pergunta é necessário explicar a oferta do ID.4. Disponível no programa Volkswagen Sign & Drive, o modelo pode ser alugado no plano de 24 meses com franquia de 1500 km/mês por 6.990/mês. Há ainda a opção de 2000 km de franquia (R$ 8.490) e 2500 km (R$ 8.890).

Respectivamente, após os dois anos, o consumidor terá pago R$ 167.760, R$ 203.760 ou R$ 213.360, dependendo do plano. Claro que o cliente terá encargos com licenciamento, manutenção, impostos e taxas, e seguros cobertos pela Volkswagen, mas não consigo entender um cenário vantajoso.

É possível que existam pessoas interessadas por esse tipo de negociação, especialmente as que não têm certeza se um carro elétrico cabe na sua rotina, não queira lidar com a desvalorização ou mesmo a incerteza sobre a vida útil das baterias, mas pagar o equivalente a um T-Cross Comfortline, ou Taos Highline ao longo de apenas dois anos, e não ficar com o carro, não parece um negócio vantajoso, em minha opinião. 

Pagando um pouco mais do que o necessário para assinar o ID.4, o cliente pode levar para casa um BYD Yuan Plus (R$ 235.800), Renault Megane E-tech (R$ 279.900) ou Volvo EX30 (R$ R$ 229.950), ou até mesmo o recém lançado BYD Yuan Pro (R$ 182.800) . 

É possível que ao calcular o possível preço do ID.4 por aqui a Volkswagen tenha percebido que ele acabaria brigando com rivais mais refinados, ou com pretensões mais esportivas, e que dificilmente faria sucesso por aqui. Todavia, será raro ver um ID.4 nas ruas. 

Na Europa, é possível encontrar o ID.4 Pro por 48 mil euros, o equivalente a R$ 295 mil em conversão direta. Por lá, um concorrente nesse preço é o Volvo XC40, vendido no Brasil por R$ 342.950, ou BMW ix2, disponível por aqui a partir de R$ 443.950. 

Novamente, não acredito que seja vantajoso alugar um ID.4 por 24 meses. Por mais que o carro seja bem legal, os detalhes de funcionamento que incomodam são questões de costume. Apesar disso, pelo valor pedido, é possível encontrar carros tão divertidos quanto, que você poderá vender após dois anos. Quem se preocupa mais com revenda e desvalorização do que em aproveitar o carro, pode ser vantajoso assinar.