A Fiat usou muitos artifícios de marketing para fazer a Titano ficar em alta. A primeira picape média da fabricante italiana no Brasil era cercada de expectativa, afinal, a Strada é o automóvel mais vendido do país e a Toro criou um segmento próprio, onde é rainha absoluta. O mercado prova que se tem alguma fabricante que entende o brasileiro e sua necessidade por utilitários é a Fiat, portanto, ninguém melhor que ela para fazer a anti-Hilux, certo? Em tese, sim, na prática, a Titano decepciona.
Ainda não falemos de preço, somente do objeto picape média. A Titano sabe se apresentar, principalmente na versão Ranch, a topo de linha e a testada. O desenho chama a atenção e se destaca. As luzes de rodagem diurna em LED dessa versão dão um ar especial ao farol, bem como o projetor de LED. Entretanto, o farol alto utilizar lâmpadas halógenas decepciona.
A posição alta do capô é bem imponente, as rodas de 18 polegadas com acabamento diamantado também são bonitas. Na traseira, o desenho não tem muitos detalhes, mas orna bem. Entretanto, os já citados LEDs dessa versão entregam o passado da Titano: É um Peugeot de nascimento.
Cara de Peugeot, Interior de Peugeot, mas vendido como Fiat
Originalmente, o projeto nasceu de uma parceria entre a Peugeot e a chinesa Changan, e teve sua primeira versão lançada em 2019, na China. Desde então, foi prometido para o Brasil como Peugeot, mas após a fusão entre FCA e PSA, que culminou na criação da Stellantis, os executivos decidiram que a picape seria vendida como Fiat no Brasil, Peugeot Landtrek em alguns mercados, e até Ram 1200. Com as únicas mudanças visuais sendo a grade e os logotipos.
Entender o passado dessa picape é fundamental para compreender o que é visto ao entrar na cabine. É comum que as marcas usem identidade nos seus carros. Na Volkswagen por exemplo, ao entrar num Polo Track ou numa Amarok, há elementos que fazem saber que está em Volkswagen, aqui, existem elementos que te dizem que está em um Peugeot. A central multimídia de 10,3 polegadas é praticamente a mesma usada por Peugeot e Citroën.
Aproveitando para falar do multimídia, ele parece piorado em relação ao utilizado pelos Peugeot e Citroën atual. A interface é exclusiva e não demonstra nenhuma conexão com Fiat ou Peugeot. Parece ser um sistema chinês apenas traduzido e conta com grafismos até tristes.
Apesar disso, funciona de forma satisfatória, ainda mais considerando que multimídia raramente será o foco de uma picape. Vale ressaltar que há navegação embutida, o que poderia ser um ponto positivo, mas o uso é bem complexo. É mais fácil conectar o telefone, mas as entradas USB são do tipo A, um sinal de que o projeto é ultrapassado. Entradas do tipo C, as mais comuns nos telefones atuais, são disponíveis como acessório de concessionária.
É importante mencionar as câmeras nos retrovisores que projetam imagens na central multimídia e ajudam na hora de realizar manobras, principalmente para motoristas que não estão acostumados com o tamanho de uma picape média. Com a seta acionada e abaixo dos 20 km/h, as imagens são projetadas automaticamente na multimídia.
Continuando no interior, o volante tem dois raios, mas oferece ajustes de altura e profundidade. O painel de instrumentos conta com ponteiros analógicos e uma pequena tela de LCD que funciona como computador de bordo e funciona de forma satisfatória. O alerta de saída de faixa se mostrou extremamente incômodo, e além disso, altera ainda o menu em exibição na tela de LCD.
Os bancos dianteiros são revestidos em couro sintético e contam com ajustes elétricos tanto para o motorista quanto para o passageiro. O ar-condicionado tem duas zonas e saída para o banco traseiro.
É importante ressaltar que em dias quentes, caso a picape fique estacionada sob o sol quente, os plásticos do painel irão começar a fazer um ruído de estalo bem frequente, principalmente após o sistema de ar-condicionado ser acionado.
Como anda a Fiat Titano?
O motor 2.2 turbodiesel é velho conhecido do público brasileiro. Diferente dos demais motores diesel de Jeep/Ram/Fiat, a Titano conta com o mesmo motor do utilitário Ducato, mas que foi retrabalhado para o uso na picape e entrega 180 cv de potência e 40,8 kgfm de torque, com câmbio automático de seis marchas nas versões Ranch e Volcano. Na versão Endurance, a transmissão é manual de seis velocidades e o torque cai para 37,7 kgfm.
O motor consegue puxar a picape, mas não espere um desempenho sensacional. O 0-100 acontece em 12,4 segundos, mas as pretensões não são esportivas. O câmbio conta com três modos de condução: Normal; Eco, que proporciona um comportamento extremamente modorrento para a picape e o Sport, que ajuda a realizar ultrapassagens.
A Titano é o que podemos considerar de picape raíz. Ao dirigir, essa robustez é sentida em todos os momentos, apesar de não ser extremamente desconfortável, principalmente em estradas. É claro que ao menor sinal de asfalto ondulado, recapeado, ou com os buracos remendados de qualquer jeito, os ocupantes vão sentir o sacolejar da picape, principalmente em estradas de terra.
Não espere mimos como sistemas de auxílio ao condutor muito elaborados. Somente os já citados como as câmeras ao redor do veículo, sensor de estacionamento, alerta de saída de faixa e limitador de velocidade, que é bem brando, diga-se de passagem.
Em linha reta, a Titano é bem razoável, não irá incomodar. No trânsito pesado, a tremedeira por conta do motor diesel chega até ao pedal do acelerador, o que a partir de certo momento começa a incomodar bastante.
Na condução rodoviária em curvas mais fechadas ou mais rápidas, evite ao máximo qualquer buraco, ou ondulação, por menor que seja. Nessa situação a suspensão dianteira fica extremamente boba e parece que o carro “flutua” por microssegundos, é bem rápido, mas dá uma sensação de falta de controle que é bem incômoda.
Segundo a Fiat, o consumo da Titano é de 9,2 km/l na estrada. Em nossa avaliação, alcançamos os 9,8 km/l em um trajeto com subida de serra, em viagens, passar dos 10 km/l é bem fácil, desde que os limites da via sejam obedecidos.
Há de se ressaltar ainda um detalhe: mesmo com o carro trancado pelo sistema de alarme, a caçamba não ficou trancada. Há o espaço para fechar o compartimento com a chave do veículo, entretanto, é necessário certo esforço, uma vez que a chave é presencial e tirar a parte física da chave não é simples.
Arla 32:
Por ser movida a diesel, a Titano conta com sistema de Arla 32, que é uma mistura de ureia com água desmineralizada e serve para reduzir as emissões do motor diesel. Não foi necessário abastecer o Arla, entretanto, quando o nível atingiu os 38%, o carro começou a emitir alertas de atenção e pedir para adicionar AdBlue (Arla) e que a partida do veículo ficaria impossibilitada dentro de 2.400 km, justamente a autonomia do tanque de Arla.
Apesar de válido alerta, com tanta autonomia restante, o aviso poderia acontecer somente em níveis mais baixos, ou quando o alcance estivesse na casa dos 1000 km. Uma vez que esse aviso aparece, duas luzes se acendem no painel da picape, mas logo se apagam, e retornam somente quando o veículo for ligado.
Fiat Titano vale a pena?
Antes de responder a pergunta e explicar, vamos comparar os preços:
Versão | Preço |
Titano Endurance | R$ 219.990 |
Titano Volcano | R$ 239.990 |
Titano Ranch | R$ 259.990 |
Modelo | Preço |
Nissan Frontier SE | R$ 256.390 |
Ford Ranger XLS 2.0 | R$ 264.490 |
Mitsubishi L200 Triton Sport Outdoor | R$ 267.990 |
Toyota Hilux SR | R$ 277.890 |
Chevrolet S10 Z71 | R$ 285.990 |
VW Amarok Comfortline | R$ 309.990 |
*versões de entrada excluindo as opções voltadas para o trabalho
O principal argumento da Titano nas vendas é o preço abaixo das rivais, principalmente com as promoções, já que é possível encontrar a versão Volcano por R$ 196.990, mais em conta que a Fiat Toro, por exemplo.
Pensando somente no preço e no custo x benefício, a Titano faz sentido, principalmente para quem é produtor rural ou empresário e precisa considerar cada centavo investido na empresa, por exemplo. A ampla rede de concessionários Fiat também é um bom argumento.
Para o comprador que vai usar a picape como veículo de dia a dia, mas sem o uso intenso do trabalho, a Titano é razoável e se destaca por já contar com capota marítima desde a versão intermediária, por exemplo, e pode fazer a diferença.
Entretanto, a Titano deve ser o carro ideal para quem sai de uma Toro, quer um carro maior e não quer deixar a Fiat, ou desconfia de outras marcas. Ou então para quem planeja começar a conhecer o mundo das picapes médias e quer gastar menos para entender se um carro desse porte cabe na sua rotina.
Considerando o valor cheio, Frontier e Ranger 2.0 estão pouco mais caras que a Titano Ranch e podem entregar mais conforto (e muito mais modernidade no caso da Ford), mas a picape da Fiat não é completamente descartável, mas precisa mudar bastante para ter muito mais argumentos do que o preço na hora das vendas.
Ela não é a melhor do segmento, nem a mais potente, nem mais empolgante, nem a mais confortável, só a mais barata. Se esse é um ótimo argumento, só o tempo vai dizer; entretanto, a Fiat Titano é competente, especialmente para quem quer um carro só para o trabalho. Com suas particularidades que podem incomodar muitos, mas considerando os preços com descontos, se mostra um negócio interessante.
Ficha Técnica Titano Ranch 2025:
Motor: 2.179 cm3, dianteiro, longitudinal, quatro cilindros, 16 válvulas, turbo, injeção direta, 180 cv a 3.750 rpm, 40,78 kgfm de torque a 2.000 rpm, diesel
Câmbio: automático de seis marchas, tração 4x4 com reduzida
Direção: hidráulica, com diâmetro de giro de 14,0 metros
Suspensão: McPherson na dianteira e eixo rígido com feixe de molas na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira e tambor na traseira
Pneus: 265/60 R18
Peso: 2.150 kg
Dimensões: 5,33 metros de comprimento; 1,96 m de largura (sem espelhos); 1,85 m de altura; 3,18 m de distância entre-eixos; 235 mm de altura mínima do solo
Capacidade de carga: 1.020 kg
Volume útil da caçamba: 1.220 litros
Tanque de combustível: 80 litros
0-100 km/h (divulgado): 12,4 segundos
Velocidade máxima: 175 km/h
- Acompanhe o VRUM também no YouTube e no Dailymotion!