Quando se fala em BYD no Brasil, poucos sabem qual foi o primeiro veículo de passeio da marca por aqui. Muitos lembram do Dolphin como o marco inicial, e de fato ele foi importante. No entanto, o primeiro carro da marca no país foi o SUV elétrico de sete lugares, o BYD Tan.
Ele faz parte de um nicho bem específico da BYD no Brasil, principalmente por conta do seu preço elevado de R$ 539.000, muito acima dos outros modelos da marca. É o único SUV elétrico de sete lugares disponível no mercado, enquanto seus concorrentes, como o Volvo XC90 e o Land Rover Discovery Sport, são híbridos plug-in. Já o Audi Q8 e-tron, que também é elétrico, tem um preço significativamente maior. Ou seja, o Tan se destaca como único em seu segmento.
A questão que fica é: será que o BYD Tan consegue competir de igual para igual com os europeus, que já estão há tanto tempo no mercado, ou a BYD está mais interessada em usar o Tan como uma vitrine de sua tecnologia, conforto e luxo no Brasil?
DIMENSÕES
Entre seus rivais, o Tan é o maior, com quase 5 metros de comprimento. Ele está 10 cm maior que o modelo anterior, com 4,97 m de comprimento, 1,95 m de largura, 1,74 m de altura e 2,82 m de distância entre eixos. O SUV também está 2 cm mais alto e 5 mm mais largo.
Mesmo sendo o maior, ele tem o menor entre-eixos. Mas isso não significa que ele tenha pouco espaço interno — muito pelo contrário, há espaço de sobra para quem vai atrás, mesmo com os bancos recuados ao máximo.
Além disso, há saídas de ar-condicionado com regulagem de temperatura, além de portas USB para carregamento. O túnel central é baixo, como é comum em elétricos, e o conforto é ainda mais ampliado pelos bancos que reclinam bastante, o que torna as viagens mais agradáveis.
Quem procura um Tan certamente precisa de um veículo que acomode mais de cinco ocupantes, e nesse quesito ele cumpre bem o seu papel. O espaço na terceira fileira é adequado para crianças de até 14 anos, mais ou menos. Já para adultos maiores, o conforto é limitado. No entanto, a segunda fileira de assentos pode ser ajustada no trilho para oferecer mais espaço para quem está na terceira fila. Além disso, há saídas de ar-condicionado para os passageiros da terceira fileira.
O porta-malas é adequado para o tamanho do veículo. De acordo com a medição da BYD, ele oferece ótimos 940 litros com os bancos da terceira fileira rebatidos (medidos até o teto), mas, com os sete lugares em uso, essa capacidade cai para 240 litros.
Ainda assim, supera a capacidade de um Fiat Mobi, que possui 200 litros (e, para referência, o Kwid tem 290 litros), embora seja bem menor que a de seus rivais, como o Volvo XC90, que chega a 500 litros.
DESIGN
Além de ser o primeiro veículo de passeio da marca no Brasil, o Tan foi o primeiro a receber uma reestilização, que ocorreu em abril deste ano. Ele ganhou uma grade frontal totalmente nova, substituindo a grande grade que remetia a um carro a combustão por uma barra, dando um visual mais limpo ao modelo, conectando os faróis de LED que permanecem inalterados. O para-choque também ficou mais arredondado.
As laterais mantêm as mesmas rodas de 22 polegadas, enquanto a traseira recebeu mudanças mínimas. O novo para-choque traseiro conta com luzes refletoras que saem da peça em plástico e sobem um pouco. E só, sem grandes alterações.
COMO ANDA O BTD TAN?
O BYD Tan teve pequenas alterações em seu powertrain nesta última atualização. Isso porque a bateria que era de 86,4 kWh foi para 108,8 kWh, o que fez seu peso aumentar 151 kg, indo para 2.630 kg. Desta forma, a potência permanece a mesma de 517 cv, mas o torque aumentou para 71,4 kgfm de torque (antes era 69,3 kgfm).
O conjunto de suspensão do Tan oferece uma sensação bem suave e confortável na prática. Na cidade, o comportamento é agradável, com suspensões macias do tipo McPherson na dianteira e multilink na traseira.
A condução é macia, mas, em alguns casos, a suavidade excessiva faz com que a cabine balance um pouco mais ao passar por buracos maiores. Algo bem característico dos carros chineses. Mas mesmo assim, esse movimento não chega a ser exagerado ou desconfortável.
No caso do Tan, a suspensão ganha um toque especial por ser inteligente (não adaptativa, não confunda). Ela se chama DiSus-C, a mesma utilizada no Yangwang U8, um enorme SUV da marca na China que consegue até “dançar” e “pular”, embora esse não seja o caso do Tan — apenas o conjunto de suspensão é o mesmo.
A suspensão funciona detectando rapidamente, por meio de sensores, situações que exigem ajustes, deixando a condução mais suave. Pelo sistema multimídia, o motorista pode ajustar a rigidez, tornando ela mais firme — o que faz com que os impactos dentro da cabine sejam mais duros — ou mais macio. O ideal é utilizar a calibragem mais firme na estrada, para garantir mais firmeza em velocidades mais altas.
Na estrada, o BYD Tan oferece exatamente o que se espera de um carro desse valor: extremo conforto e suavidade — o SUV é muito agradável de conduzir e entrega um nível elevado de conforto. Quando é necessário mais potência, ele responde com facilidade, sem aparentar pesar quase três toneladas. A aceleração é rápida, bastando um leve toque no acelerador.
O 0 a 100 km/h divulgado pela BYD é de 4,9 segundos, mas em nossos testes, no modo esporte, ele atingiu a marca em 5,3 segundos. Apesar de ser um pouco mais lento que o divulgado, esses são números excelentes para um carro de sete lugares tão pesado. A velocidade máxima, limitada para preservar a bateria, é de 190 km/h.
Em termos de estabilidade, o Tan se comporta bem para sua categoria, se ficou firme tanto em velocidades de cruzeiro quanto em velocidades mais altas, com boa segurança em linha reta e pouquíssimo balanço de carroceria, quase imperceptível. A resposta do volante, como é de se esperar, é um pouco lenta devido ao peso e tamanho do veículo, mas ainda assim é bastante agradável.
Nas curvas, o SUV de sete lugares também se mostrou estável em trajetórias mais acentuadas, sem apresentar sinais de perda de aderência ou descontrole. A firmeza nas curvas é auxiliada pelo peso da bateria, que abaixa o centro de gravidade do carro, pelos pneus largos de 265/40 e pela tração integral (AWD), que mantém o carro bem controlado.
Já os freios se mostraram eficientes e pararam o carro com tranquilidade.
AUTONOMIA
A autonomia do BYD Tan, de acordo com o Inmetro, é de até 430 km. Já o ciclo WLTP chega a 530 km. Considerando nossos testes, em um uso misto entre cidade e estrada, podemos supor que a autonomia ficaria em torno de 490 km, o que permitiria, talvez no limite, uma viagem de São Paulo ao Rio de Janeiro.
Segundo a BYD, a bateria Blade do Tan pode ser carregada de 30% a 80% em apenas 30 minutos usando um carregador DC, que suporta até 170 kW. No carregamento AC, a capacidade é de até 11 kW. Além disso, a BYD fornece um carregador portátil que varia entre 3 a 7 kW.
INTERIOR E ERGONOMIA
O interior do Tan oferece uma excelente visibilidade, graças aos grandes vidros e ao para-brisa amplo e inclinado, que inicialmente dá a sensação de estar dirigindo uma van. Porém, o conforto é garantido pelos bancos com ajustes elétricos e pelo volante também ajustável eletricamente, o que oferece um espaço privilegiado e uma posição de dirigir confortável. Os bancos ainda contam com extensor do assento, aumentando o conforto em longas viagens.
O acabamento, como era de se esperar, é de boa qualidade, com materiais macios ao toque tanto no tabelier, painel quanto na parte superior das portas. As portas também são bem revestidas e acolchoadas. Há também suede em algumas partes da cabine, além de filetes de LED que podem mudar de cor e fica bem bonito
Mas, notei algumas falhas na unidade que testamos. O pegador interno para abrir a porta, feito de plástico, já apresentava barulhos ao ser manuseado. Além disso, o extensor do banco, mesmo quando fechado, se mexia e causou desconforto. Por fim, o mecanismo plástico para abrir e fechar o extensor do assento também estava quebrado no banco do passageiro. Ou seja, senti falta de cuidados nessas peças.
O painel de instrumentos de 12,3 polegadas tem uma boa resolução, mas achei alguns ícones pequenos, como os do piloto automático, temperatura e horário, que poderiam ser melhor aproveitados. A tela central giratória de 15,6 polegadas continua a mesma, e, segundo a BYD, o software foi atualizado. Porém, achei o sistema mais confuso.
A qualidade da central é muito boa, mas o Waze, por exemplo, apresenta bugs frequentes, saindo da rota de vez em quando. Sempre que ligava o carro em um novo dia, ele não conectava automaticamente ao Apple CarPlay (ou Android Auto) sem fio, pois o Bluetooth do carro se desligava automaticamente. Além disso, vários acessos estão bem escondidos, algo comum em veículos chineses. A BYD, no facelift, trouxe o HUD (head-up display), que projeta a velocidade no para-brisa.
O console central elevado oferece bons apoios para os braços e conta com um baú generoso. Há também um carregador de celular por indução. A parte central do console tem um design que lembra bastante o do irmão menor, o Song Plus. Nessa área, estão localizados o botão de Start Stop, os controles de modo de condução e regeneração, sistema de áudio, sensores, entre outros.
Mas o Tan também traz alguns inconvenientes que a BYD poderia ter melhorado nesse facelift. Um exemplo é o radar que identifica as placas de sinalização. Quando se está em uma rodovia, ele acaba identificando as placas de vias de acesso, o que faz com que fique apitando constantemente ao passar por elas. Embora seja possível desativar essa função, ela volta a ser ativada automaticamente toda vez que o carro é ligado, o que obriga o motorista a desativá-la repetidamente.
O sistema de ar-condicionado também exige que se saia do CarPlay para ajustá-lo manualmente. Todavia, uma grande ajuda é o botão de microfone no volante, que ativa o assistente de voz. Com ele, é possível pedir ajustes no ar-condicionado ou ventilação, além de realizar outros comandos, como baixar os vidros, abrir o teto solar e ativar a ventilação dos bancos dianteiros, entre outras funções.
SEGURANÇA
O BYD Tan vem equipado com diversos recursos de assistência à condução, que, segundo a marca, são menos intrusivos. Entre eles, estão o controle de cruzeiro adaptativo com função Stop & Go, aviso de colisão frontal com frenagem automática de emergência, aviso de colisão traseira, detecção de ponto cego, alerta de tráfego cruzado, assistente de permanência em faixa com alertas e centralização, faróis automáticos com luz alta automática, sensor de chuva e freio lateral traseiro em caso de colisão, entre outros.
Além disso, o veículo conta com câmeras de 360°, sensores dianteiros e traseiros, mas senti falta de um sistema de Park Assist, especialmente considerando o preço do carro. O Tan também oferece um total de sete airbags, incluindo cortinas laterais integradas tanto na parte dianteira quanto na traseira.
O modelo oferece cinco anos de garantia ou 500.000 km. A bateria tem oito anos de garantia sem limite de quilometragem. São três cores disponíveis: Snow White (branca, do teste), Mountain Grey e Silver Sand Black (preto). O acabamento no interior pode ser marrom, como esse no teste, ou preto.
RESUMO DA ÓPERA
O BYD Tan apresenta o que há de melhor em conforto e exclusividade na linha da montadora chinesa, com um pacote tecnológico robusto, bom espaço interno e excelente desempenho para um SUV elétrico. Sua autonomia e potência são satisfatórias, mas o preço de R$ 539.000 posiciona o modelo em uma faixa muito acima, onde marcas premium já consolidadas, como Mercedes, BMW, Volvo, Land Rover e Audi, oferecem opções mais atrativas e com maior confiança dos consumidores.
Mesmo que o Tan tenha qualidades relevantes, ele mostra ser mais uma vitrine da capacidade tecnológica da BYD do que um concorrente direto no mercado. Além disso, o mercado brasileiro ainda enfrenta desafios de infraestrutura para carros elétricos, e o público que poderia investir esse valor tem receios quanto à transição para essa tecnologia. Assim, o Tan cumpre o papel de demonstrar o potencial da BYD, mas não de conquistar grandes volumes de vendas.
Ficha técnica: BYD Tan EV
Motor |
Elétrico com bateria de 108,8 kWh |
Potência |
517 cv |
Torque |
71,4 kgfm |
Câmbio |
Automático de 1 marcha |
Tração |
Integral |
Suspensões |
Dianteira: Independente McPherson Traseira: Independente mutilink |
Direção |
Com assistência elétrica progressiva |
Freios |
Dianteiro: A disco ventilado Traseiro: A disco ventilado |
Dimensões |
Comprimento: 4,97 m Largura: 1,95 m Altura: 1,74 m Entre-eixos: 2,82 m Porta-malas 5 lugares: 940 litros Porta-malas 7 lugares: 235 litros |
Peso |
2.630 kg |
0 a 100 km/h | 4,9 segundos |
Rodas e pneus |
Pneus: 265/40 R22"
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