Quando se fala em picapes, muitos imaginam veículos enormes, ainda mais com o nome Ram envolvido. Porém, a Rampage foge dessa regra. Mesmo que alguns a chamem de “Fiat Toro disfarçada”, por compartilhar a mesma plataforma, será que é apenas isso?
Se a Fiat Toro é um sucesso de vendas, por que a Rampage não seria? A Stellantis percebeu algo que as rivais não viram: aproveitou a fórmula vencedora da Toro e criou uma novo veículo sob a mesma plataforma e juntou a um motor extremamente potente e competente — o Hurricane 2.0 turbo de 272 cv.
Com um novo veículo, acabamento superior, não há motivo para preconceito: ela é uma picape muito bem ajustada. Testamos a versão R/T, topo de linha, inspirada na icônica Dakota R/T, com preço de R$ 292.990.
Aliás, no último ano, a Ram conseguiu aumentar suas vendas em 236%, e boa parte desse sucesso se deve à Rampage. A receita já consagrada pela Fiat com a Toro agora se reflete com mais brutalidade com a Ram e com um veículo muito além de disfarces, e sim de personalidade.
DIMENSÕES E ERGONOMIA
A Rampage tem boas dimensões para uma picape urbana: são 5,02 metros de comprimento, 1,88 m de largura, 1,77 m de altura e 2,99 m de distância entre-eixos. O ângulo de ataque de 25º é eficaz, e ela atravessa até 500 mm de profundidade em travessias com água, graças aos também 257 mm de altura livre do solo.
A caçamba oferece uma capacidade razoável de 980 litros, superior à da sua rival Ford Maverick, e à da Fiat Toro, que possui 937 litros. Porém, a Rampage perde bastante na capacidade de carga, suportando apenas 750 kg, enquanto a Toro aguenta até 1.010 kg. Ainda assim, supera a Maverick, que carrega 617 kg.
A posição de dirigir é muito boa. O console central é elevado, com os comandos ao alcance das mãos, e o banco com ajustes elétricos oferece bons ajustes de ergonomia e assegura bem os passageiros. O volante também tem uma excelente extensão. Gostei bastante. É algo típico, claro, dos carros da Stellantis, como o Jeep Compass e o Commander.
O volante tem uma boa pegada e é agradável de manusear, porém achei um pouco pesado. Para uma caminhonete, isso é aceitável, mas como a Rampage é mais voltada para a cidade, acredito que poderiam ter deixado o volante um pouco mais leve, o que aumentaria o conforto. Lembrando que a assistência é elétrica.
Na parte traseira, com o banco ajustado para a minha altura de 1,88 m, ou seja, todo recuado, o espaço fica bem limitado para pessoas mais altas. No entanto, para pessoas menores, o espaço é aceitável. O túnel central é um pouco elevado devido à tração integral, mas há boas saídas de ar e ótimas quatro portas USB (duas do tipo A e duas do tipo C).
MOTORIZAÇÃO
A Rampage, na versão R/T, utiliza o excelente motor Hurricane 2.0 turbo, de quatro cilindros a gasolina, que entrega potentes 272 cv a 5.200 rpm e impressionantes 40,8 kgfm de torque a 3.000 rpm, acoplado a um câmbio automático de nove marchas com conversor de torque.
É espetacular o que a Stellantis conseguiu com a Rampage. O segredo da performance da picape está aí: quando ela ultrapassa os 3.000 rpm, ganha força e vai embora. A aceleração é rápida e consistente, com retomadas ágeis e eficientes, graças à excelente resposta do câmbio, que também oferece conforto quando necessário.
O câmbio consegue otimizar as rotações altas quando é preciso e garante eficiência em ultrapassagens e oferece potência quando necessário com respostas rápidas. Em nossos testes, o 0 a 100 km/h foi feito em 7 segundos, enquanto a marca divulga 6,9 segundos, ótimos números considerando os 1.917 kg do veículo. A velocidade máxima divulgada é de 220 km/h.
E esse é um dos destaques: a plataforma Small Wide, onde o pessoal brinca por ser usada na Toro, mas também utilizada no Compass, Renegade e Commander. Ela é muito bem equilibrada em altas velocidades na Rampage, a ponto de você nem perceber que está dirigindo uma picape. O equilíbrio é tão grande que, em altas velocidades, é preciso olhar para o velocímetro para perceber quão rápido está.
Não há balanço na parte da caçamba, nem ruídos. Outro ponto que merece elogios é o coeficiente aerodinâmico, que ajuda a picape a fluir bem com o vento. Ao tirar o pé do acelerador, o carro segue suavemente, muito bem acertado e estável.
Nas curvas, a Rampage também não decepciona. O volante, em altas velocidades, responde rapidamente e se comunica muito bem com o carro como um todo. Mesmo em curvas mais fechadas, a segurança e o alinhamento com a estrada são evidentes, sem sensação de saída de trajetória ou risco de capotamento. As rodas largas, 235/55 R19, também contribuem muito nesse caso.
Na cidade, a Rampage é suave de dirigir, mas o peso excessivo do volante compromete o conforto. Senti esse peso tanto na estrada quanto no uso urbano, e faltou uma calibração mais leve para melhorar esse aspecto e trazer mais conforto.
A suspensão, com McPherson na dianteira e Multilink na traseira, reforça que a picape é voltada para o ambiente mais urbano, não para cargas pesadas. Nesse contexto, ela cumpre bem seu papel. A calibragem é bem firme, e apesar de ser dura, você sente bem o que está passando, e claro, sem encontrar fim de curso ou solavancos excessivos.
Algo que incomoda na cidade é o sistema Start-Stop, que desliga o motor quando você para no sinal. Mesmo que o condutor desative essa função, ela se reativa automaticamente toda vez que o carro liga, forçando você a desativá-la toda vez que para. Bem irritante.
O “Creeping” também é rápido, e a picape anda a 7 km/h ao tirar o pé do freio, o que dificulta um pouco as manobras de estacionamento. Por outro lado, os freios são bem eficientes e param o veículo de forma segura, além de serem bastante sensíveis.
Por fim, o consumo me decepcionou em relação aos números divulgados pelo Inmetro, que indicam 8 km/l na cidade e 10 km/l na estrada. No nosso teste, obtivemos um desempenho bem abaixo na cidade, com apenas 4,5 km/l, isso com o ar-condicionado ligado. Na estrada, conseguimos alcançar 11,6 km/l, o que são bons números. Lembrando que o veículo aceita apenas gasolina.
Levamos a Rampage para uma estrada de terra e, como esperado, ela se saiu muito bem. A potência, mais do que suficiente, torna a picape robusta nesse tipo de terreno. O dia estava seco, então não encontramos muito barro, mas a colocamos em situações um pouco mais desafiadoras, com inclinações mais acentuadas, e ela enfrentou tudo sem problemas, com a ajuda da tração integral sob demanda.
Para quem precisa da Rampage em ambientes mais rurais, a Ram oferece a versão Rebel, que vem equipada com pneus All Terrain, mais adequados para enfrentar terrenos isolados e desafiadores.
INTERIOR, EQUIPAMENTOS E SEGURANÇA
No quesito de tecnologia e segurança, a Rampage é bem equipada, como esperado em um veículo que beira os R$ 300 mil. Ela conta com uma tela multimídia de 12,3 polegadas com o sistema Uconnect, de interface intuitiva com boa qualidade de tela, além de compatibilidade com Apple CarPlay e Android Auto sem fio. Só os ícones do CarPlay poderiam ser maiores e melhor distribuídos.
O painel de instrumentos em TFT, de 10,3 polegadas, também é completo e de fácil leitura. Porém, algo surpreendente é que ele não exibe a autonomia restante. Até um Renault Kwid tem esse recurso, mas a Rampage não.
O acabamento da Ram é boa nas portas é material macio na parte superior, nas laterais é acolchoado com Suede, e também um couro para apoiar o braço, porém ele aparenta desgastar bastante. Já o tabelier é todo soft touch, enquanto o painel também tem uma mistura com plástico e Suede.
Porém o que eu percebi que o couro do carro ele aparenta desgastar bastante. A unidade que testamos com 13.000 km já aparenta estar bastante desgastada tanto o apoio de braço central, como os bancos entre outras partes com o couro
Na parte de matérias de plásticos senti falta de um maior cuidado na qualidade de construção. O terceiro raio do volante, na parte de baixo, é feita de plástico, e tem uma saliência bem desconfortável. Ela acaba até arranhando a mão dependendo da forma como você segura.
A Rampage vem bem equipada com uma lista extensa de itens de série, incluindo: acendimento automático dos faróis, ajuste elétrico de altura do farol com comutação automática, lanternas em LED, retrovisores externos com rebatimento elétrico, além de retrovisores e travas elétricas.
Em segurança, há alerta de colisão frontal com frenagem autônoma de emergência, incluindo detecção de pedestres e ciclistas, sensores de ponto cego com assistente de tráfego cruzado, e piloto automático adaptativo com sistema Stop & Go, que funciona muito bem.
Outros itens incluem freio de estacionamento eletrônico com função Auto Hold, limitador de velocidade, partida remota pela chave, alerta de saída de faixa, monitoramento de pressão dos pneus, sensor de chuva, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, ar-condicionado de duas zonas, carregador de celular por indução, e volante com regulagem de altura e profundidade.
O retrovisor interno é eletrocrômico, e no quesito segurança, a picape oferece sete airbags (dianteiros, laterais, de cortina, traseiro e de joelho para o motorista).
A garantia da Rampage é de três anos, e ela está disponível em várias cores, como Preto Diamond, como sólida, e Maximum Steel + teto preto, Prata Billet + teto preto, Azul Patriot + teto preto, Branco Perola + teto preto, Sting Grey + teto preto e Vermelho Flame + teto preto.
RESUMO DA ÓPERA
O veredito é que a Rampage é uma escolha certeira para quem busca uma picape versátil, sem grandes complicações, e principalmente para quem deseja fazer trilhas medianas e carregar pouco peso na caçamba. Além disso, oferece um nível de sofisticação superior na categoria.
No entanto, a versão R/T, com um preço que beira os R$ 300 mil, é voltada para quem busca pura exclusividade, já que a opção Laramie, é a que traz o melhor custo-benefício, com itens atrativos e a mesma potência. Mas não se engane: a Rampage não oferece o conforto de um carro de passeio, longe disso.
O volante, embora seja elétrico, é bem pesado, até mesmo em altas velocidades, e a suspensão é bem rígida. O espaço no banco traseiro também não é dos mais generosos. Porém, sua potência impressiona, e a lista de equipamentos é extensa, o que a destaca na categoria.
E, para quem leu até aqui, deu para perceber que a Rampage está longe de ser uma “Toro disfarçada”. Ela tem sua própria identidade e oferece muito mais do que a zoeira que ela recebe.
MOTOR | Dianteiro, quatro cilindros, com 1.995cm³ de cilindrada, turbo, a gasolina, que desenvolve potência de 272cv a 5.200rpm e torque máximo de 40,8kgfm a 3.000rpm |
TRANSMISSÃO | Tração 4x4 Auto e 4x4 reduzida com acionamento eletrônico, e câmbio automático de 9 marchas |
SUSPENSÃO/RODAS/PNEUS | Dianteira, independente tipo McPherson; e traseira, independente, multlink / EM liga leve de 19 polegadas / 235/55 R19 |
DIREÇÃO | Do tipo pinhão e cremalheira, com assistência elétrica progressiva, diâmetro de giro, 12m |
FREIOS | Discos ventilados nas quatro todas, com ABS e ESC |
CAPACIDADES | Do tanque, 55 litros; de carga útil (passageiros mais bagagem), 750 quilos |
DIMENSÕES | Comprimento, 5,02m; largura, 1,88m; altura, 1,77m; entre-eixos, 2,99m |
CAÇAMBA | Capacidade volumétrica, 980 litros; comprimento com a tampa fechada, 1,05m; altura, 59cm; largura máxima, 1,38m; largura entre o vão das rodas, 1,05m |
PESO | 1.917 quilos |
ÂNGULOS | De entrada: 25 graus De saída: 24,5 graus De rampa: 23,1 graus Vão livre do solo: 25,7cm |
DESEMPENHO | Velocidade máxima: 220 km/h Aceleração até 100km/h: 6,9 segundos |
CONSUMO |
Cidade – 8 km/l Estrada – 10 km/l |
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