Lançado no Brasil em 2009, o Volkswagen Tiguan sempre foi um SUV bem respeitado entre os brasileiros, especialmente em uma época com pouca concorrência no segmento. Em 2018, chegou a segunda geração, uma verdadeira máquina de guerra com o motor 350 TSI de 220 cv, além do competente 1.4 TSI nas versões de entrada. No entanto, a Volkswagen decidiu tirar o modelo de linha em 2021, para trazê-lo de volta dois anos depois.
A decisão de interromper a produção foi motivada pelas novas exigências de emissões, que tornaram o antigo motor inviável. Em outubro de 2023, o Tiguan retornou ao mercado, mas com mudanças bem importantes em relação ao antecessor: o motor forte e até a tração integral foram eliminados.
O portal Vrum testou a única versão disponível do modelo, a R-Line Allspace, que atualmente custa R$ 292.990 e é importada do México. Com concorrentes fortes, especialmente entre os híbridos, um mercado saturado de SUVs e a terceira geração já sendo vendida na Europa, será que o Tiguan ainda tem espaço ou foi um tiro no pé?
MOTORIZAÇÃO E COMO ANDA
Vamos inverter a ordem tradicional das avaliações e começar pelo que mais importa: a motorização. Anteriormente, o Tiguan usava um motor 2.0 turbo com 220 cv e 35,7 kgfm de torque, um verdadeiro canhão. O desempenho era de impressionar, quase como dirigir um Golf GTI em forma de SUV.
No entanto, para atender às novas leis de emissão, a Volkswagen precisou fazer ajustes e reduziu significativamente essa potência.
O motor 2.0 turbo a gasolina EA888 foi mantido, mas agora na versão Gen3. O câmbio DSG de sete marchas, que era usado apenas nas versões com tração integral (4Motion) produzidas na planta do México, foi substituído por um automático de oito marchas.
Com essas mudanças, a potência foi reduzida para 186 cv 3.940 rpm e o torque para 30,6 kgfm 1.500 rpm. Agora, o foco está muito mais na economia de combustível do que na potência bruta, o que desagrada a maioria dos consumidores que comprava o Tiguan principalmente pela motorização.
O desempenho também mudou com 34 cv a menos, 5,1 kgfm de torque a menos e agora apenas com tração dianteira, atingindo 0 a 100 km/h em 9,4 segundos em nossos testes, contra os 7 segundos do modelo anterior. Números razoavelmente bons, mas o Tiguan anterior fica saudoso. Esse desempenho poderia ser ainda melhor se o carro não patinasse um pouco na dianteira — a falta da tração integral realmente se faz sentir.
Além disso, o motor agora conta com injeção direta, variador de abertura de válvulas de admissão e novos coletores de escape refrigerados a água para melhorar o ciclo. Contudo, em nossos testes, a diferença não foi tão grandes, com consumo de 6 km/l na cidade de São Paulo, em trânsito moderado, e 12 km/l na estrada.
O Inmetro divulga 9,2 km/l na cidade e 11,3 km/l na estrada. Ou seja, na economia de combustível não espere o rei do consumo porque está longe de ser. Se for pegar no papel, a Volkswagen tirou mais potência do que o consumo ganhado.
Porém ao todo, o que temos é um SUV grande que responde bem, tem potência, e desenvolve bem, a perda principal dessa potência fica bem visível no começo, mas depois que o Tiguan embala, desenvolve bem, claro que o anterior bem mais, mas isso não tornou ele manco por completo. Um carro que ganha potência com certa facilidade e é bem estável e firme, algo que a VW faz com facilidade.
Velocidades mais altas ou de cruzeiro você sente um carro bem centrado e firme, sem balanço de carroceria, algo que o Tiguan antigo tinha de sobra e souberam aproveitar bem aqui. É um carro, que para quem nunca dirigiu o modelo antigo, vai falar: “poxa, anda bem esse carro”. Agora quem pegou o modelo antigo vai falar “Falta potência em algumas situações”.
O câmbio, automático, responde bem também, porém no modo “Eco” ele fica bem lento nas ultrapassagens e demora para acordar. Na cidade, ele quer sair de segunda e isso acaba incomodando para quem não liga pra pouca diferença na economia que esse modo faz.
Mesmo sem a eletrônica, o Tiguan consegue efetuar bem as curvas, mesmo entrando mais forte, sem sentir que ele vai sair, consegue se manter firme e nem parece um SUV grande. Grande ajuda também fica nos pneus largos, 235/50 R19.
A grande ajuda nas curvas também fica na suspensão independente nas quatro rodas que tem uma calibragem mais dura/firme, típica dos VW, calibrado tanto para o conforto mas também boa performance.
Há deficiência em pisos mais irregulares, o que o Taos, consegue trazer melhor calibração. O Tiguan absorve bem, mas poderia ser melhor e não transmitir tanta imperfeição dentro da cabine. O negócio do Tiguan é estrada.
Os freios também fazem bom seu trabalho, e não por mais disco ventilado na frente e sólido na traseira. O isolamento acústico deixou muito a desejar, principalmente seu preço. Na estrada, senti batidas na parte superior esquerdo do painel, como algo estivesse solto. Em pisos paralelepípedo, na parte superior esquerda da porta também ouvi batidas, mesmo que todo o painel e portas tenham revestimento em soft-touch.
Tirando essas questões de coisas aparentemente soltas, o Tiguan tem um silêncio a bordo muito bom, típico até de Audi.
DIMENSÕES E POSIÇÃO DE GUIAR
Como todo bom SUV familiar, o Tiguan se destaca por oferecer sete lugares, um diferencial importante (válido para o modelo anterior 350 TSI) . Ele mede 4,72 metros de comprimento, 1,83 m de largura e 1,66 m de altura, com entre-eixos de 2,79 m, ou seja, um bom espaço interno.
O porta-malas, quando a terceira fileira está rebatida, oferece 686 litros de capacidade, superando concorrentes como o Commander, que possui 592 litros. Com os sete lugares em uso, a capacidade cai para 216 litros, ainda assim superior à do Commander.
O Tiguan também apresenta ângulos de entrada de 18,3 graus, saída de 22,2 graus e um ângulo central de 19,5 graus. A altura mínima do solo é de 216 mm, o que ajuda na hora de enfrentar terrenos irregulares. Mesmo assim, ele tem um comportamento bem estável e assentado ao dirigir, como já citado, o que o torna prazeroso de conduzir.
Com um tanque de combustível de 60 litros, ele tem capacidade razoável, adequada para seu porte e consumo. No espaço traseiro, com o banco dianteiro ajustado para mim (com 1,88 m de altura), ainda sobrou um pouco de espaço para os joelhos.
O banco traseiro é ajustável em profundidade, permitindo mais flexibilidade para acomodar melhor os passageiros da terceira fileira, além de oferecer ajuste de inclinação, o que adiciona conforto a mais quem senta atrás.
Na parte traseira, o Tiguan é bem completo: conta com saída de ar-condicionado com controle de terceira zona, carregador USB-C e uma tomada de 12 volts.
A posição de dirigir do Tiguan é boa, com sensação de altura, mesmo com o banco mais baixo. A ergonomia é bem trabalhada, com ajustes de volante e bancos, incluindo lombar. O volante tem boa empunhadura, semelhante ao do Jetta GLI, e dá um controle firme do carro.
A direção tem peso ideal e consistência elétrica progressiva. O volante também conta com aquecimento, mas os botões touch podem ser acionados acidentalmente, o que acaba não sendo a melhor escolha, embora a Volkswagen já tenha aceitado que irá retirar esses volantes touch dos seus carros.
O banco, mesmo sendo confortável na lombar e com ajustes, deixa a desejar na parte superior, principalmente nos ombros para mim. A falta de apoio adequado para essa região não foi das melhores em viagens longas, principalmente levando em conta o valor do carro. O banco poderia ser melhor trabalhado, como os da Amarok.
INTERIOR E EQUIPAMENTOS
O Volkswagen Tiguan entrega um interior bem montado visualmente e confortável, com acabamento macio no painel, no tabelier e na parte superior das portas. Visualmente, os encaixes dos materiais são bem feitos, mas como já citado, em nossa unidade apresentou alguns ruídos internos, o que compromete a percepção de qualidade.
O sistema multimídia, porém, já demonstra certa defasagem. Trata-se de uma tela de 8 polegadas, menor que a de rivais diretos, mas ainda funcional, com boa responsividade e suporte a Apple CarPlay e Android Auto sem fio. Diferente de sistemas mais modernos, mantém botões físicos ao redor, algo que pode agradar quem prefere praticidade no dia a dia.
O painel de instrumentos digital, Active Info Display de 10,25”, é um ponto sempre bom de destacar nos carros da VW: tem boa resolução, boa intuitividade e apresenta informações de forma clara. O Tiguan também oferece o ar-condicionado de três zonas, permitindo ajustes individuais para motorista, passageiro e ocupantes traseiros.
A iluminação ambiente com 30 opções de cores dá um toque moderno, mas algumas ausências chamam atenção, como o sistema Auto Hold. Assim como o Taos, os modelos apresentam freio de estacionamento eletrônico, porém não possui o sistema Auto Hold que impede o carro de se mover quando está parado.
A lista de equipamentos inclui ainda piloto automático adaptativo com Stop and Go, alerta e frenagem automática de emergência com reconhecimento de pedestres, assistente de estacionamento, alerta e correção de saída de faixa (mas não mantém o carro centralizado), além de alerta de pontos cegos com frenagem automática em manobras.
Porém, o Tiguan carece de itens comuns no segmento, como um conjunto de câmeras 360 graus, algo que facilitaria manobras e estacionamento, especialmente para um SUV de grandes dimensões.
Entre os itens de série estão: freios ABS, controle de tração e estabilidade, seis airbags e monitoramento da pressão dos pneus. Lembrando que o modelo conquistou cinco estrelas no Latin NCAP em 2019.
Também conta com câmera de ré, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, controle automático de descida, assistente de partida em rampa, direção elétrica progressiva, ajuste de altura e profundidade do volante, retrovisores externos elétricos com aquecimento e retrovisor interno fotocrômico.
Os vidros dianteiros e traseiros são elétricos com função one touch, sistema de acendimento automático dos faróis, sensor de chuva e há também chave presencial.
O SUV também tem sistema Start-Stop, carregador de celular por indução, porta-malas com abertura elétrica e computador de bordo. O Tiguan também oferece volante multifuncional e quatro modos de condução (Eco, Normal, Sport e Individual), ajustando parâmetros como a sensibilidade do acelerador e o comportamento do câmbio e do motor.
O Tiguan oferece faróis com tecnologia IQ.Light, que utilizam um sistema avançado de iluminação inteligente da Volkswagen. Com LEDs de alto desempenho, eles oferecem maior alcance e uma amplitude lateral mais ampla. A iluminação se adapta automaticamente à velocidade do veículo e à presença de outros carros, ajustando o feixe de luz para evitar ofuscamento dos motoristas à frente, enquanto mantém excelente visibilidade ao redor.
RESUMO DA ÓPERA
Com rivais como o Jeep Commander e o Caoa Chery Tiggo 8, que custa R$ 199.990, o Tiguan sofre por estar desatualizado frente à nova geração já disponível na Europa e também aos rivais. Além disso, concorrentes chineses como o GWM Haval H6 e o BYD Song Premium (ou Plus também), mesmo que não tenham os cinco lugares, oferecem tecnologias mais modernas e preços mais competitivos.
Outro ponto que decepciona diversos consumidores é a redução de potência do motor, que caiu de 220 cv para 186 cv. Embora tenha havido pequenas melhorias no consumo, elas não são suficientes para compensar a perda de performance.
Por outro lado, o Tiguan mantém suas principais virtudes, como boa dirigibilidade, desempenho satisfatório, espaço interno razoável e um porta-malas amplo.
Porém, considerando o custo-benefício e a tecnologia defasada, quem gosta de um Volkswagen, o Taos pode ser uma escolha mais interessante para quem não precisa de sete lugares, já que oferece uma plataforma mais moderna e um interior mais atualizado.
Em resumo, o Tiguan ainda é competente no que sempre entregou, mas está distante de ser o destaque que já foi no segmento.
FICHA TÉCNICA
Motor: Dianteiro, transversal, 4 cilindros, 2.0 turbo a gasolina, 16 válvulas injeção direta
Potência: 186 cv a 3.940 rpm
Torque: 30,6 kgfm entre 1.500 rpm
Câmbio: Automático de oito marchas, com conversor de torque, tração dianteira
Direção: Elétrica progressiva
Suspensão: McPherson (diant.) e Multilink (tras.)
Freios: Discos ventilados na frente e sólidos atrás
Pneus e rodas: 235/50 R19 (diant. e tras.)
Dimensões
Comprimento: 4,72 m
Largura: 1,83 m
Altura: 1,66 m
Entre-eixos: 2,79 m
Tanque: 60 litros
Porta-malas: 686 litros (5 lugares) e 216 litros (7 lugares)
Peso: 1.794 kg
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