Atualmente, no Brasil, escolher um carro para comprar é uma situação difícil. São tantas opções e versões que o consumidor acaba ficando confuso sobre qual escolher. E quando falamos de SUVs compactos, a situação piora. Esse segmento domina o mercado brasileiro com tantas opções que chega a ser difícil decidir. Mas, e se eu te dissesse que, em meio a tantas opções, um modelo se destaca? Hyundai Creta. Anota esse nome.
Sim, o Creta é, atualmente, uma das melhores — senão a melhor — opções de SUV compacto no Brasil. Esqueça o preço por um momento e foque no produto: espaçoso, muito bem equipado e com um motor de dar inveja. Aqui, claro, estamos falando da versão topo de linha.
Mas, como todo carro, ele também tem seus defeitos, e irei falar sobre eles nesta avaliação feita com o Creta Ultimate, a versão mais completa, equipada com o motor 1.6 turbo. A Hyundai espera que 20% das vendas venham dessa versão. Preço? R$ 196.990.
TUDO COMEÇOU EM 2017
O Creta foi lançado no final de 2016, mas começou a ser vendido de fato em 2017. Seu visual não era exatamente marcante: um carro bonito, mas simples, sem nada que chamasse muita atenção. Em 2021, a Hyundai decidiu inovar, trazendo um design bem mais ousado e transformando o modelo, que chegou à sua segunda geração.
Estreou também o motor Kappa 1.0 turbo flex, o mesmo do HB20, e manteve o 2.0 aspirado na versão topo de linha, com um leve ganho de potência. Apesar da polêmica em torno do design, o consumidor aprovou o veículo e comprou. O resultado? O Creta foi o SUV (e o carro) mais vendido no varejo em 2023.
E é aí que está a resposta do consumidor: as vendas no varejo refletem quem realmente vai até a concessionária, escolhe e compra o carro. Em 2024, já em janeiro, na Índia, o Creta recebeu um novo visual. Um design um pouco menos polêmico, mas com grandes mudanças, tanto no interior quanto no exterior. Muitos acham que é uma nova geração, mas, na verdade, trata-se de uma reestilização profunda e bem feita.
A Hyundai promoveu diversas mudanças no Creta para essa reestilização. Na dianteira, a grade ficou maior e mais imponente, com recortes largos em formato de retângulos. Em vez do tradicional cromado, a grade agora é pintada em preto, trazendo um visual mais moderno. A iluminação permanece dividida: o DRL em LED fica na parte superior, com uma faixa que conecta as luzes, enquanto os faróis principais estão posicionados abaixo. O para-choque também ganhou novos elementos que reforçam a sensação de altura e robustez.
Nas laterais, o destaque vai para as novas rodas de 18 polegadas (215/55) diamantadas, com detalhes em preto, que são bastante harmoniosas e elegantes. Na traseira, as lanternas antes polêmicas foram substituídas por um conjunto que se conecta de ponta a ponta, invadindo a tampa do porta-malas com uma faixa de LED. O para-choque também foi revisado, com novos detalhes que ressaltam a altura, além de refletores redesenhados.
DIMENSÕES E ESPAÇO INTERNO
A reestilização trouxe um aumento de 30 mm no comprimento do novo Creta, enquanto as demais dimensões foram mantidas. Agora, ele mede 4,33 metros de comprimento, 1,79 m de largura, 1,63 m de altura e conta com 2,61 m de distância entre-eixos, medidas bastante próximas às do Honda HR-V. O porta-malas continua com a mesma capacidade de 422 litros, o que o coloca à frente de rivais como o VW T-Cross (373 l), Peugeot 2008 (374 l) e Chevrolet Tracker (393 l).
Apesar da impressão de que o ângulo de ataque foi aumentado, ele na verdade diminuiu, passando de 20,4º para 19,9º. Ainda assim, é difícil que o Creta raspe em obstáculos, a menos que o motorista se esforce bastante. A altura do solo continua em 190 mm, o que dá uma boa aptidão para enfrentar as irregularidades do dia a dia.
A posição de guiar é muito bem projetada e se destaca entre os SUVs. O espaço para a cabeça é excelente, independentemente da posição do banco, e a extensão do assento ajuda bastante para o motorista encontrar rapidamente uma posição confortável.
No entanto, o ajuste de altura e profundidade do volante pode, em alguns casos, comprometer a visão do painel de instrumentos. Já os vidros são amplos e dão excelente visibilidade.
Na parte traseira, com o banco ajustado para a minha altura de 1,88 metros, o espaço foi satisfatório. Mesmo que confortável, meus joelhos tocaram o banco da frente. Comparando com o T-Cross, por exemplo, o modelo da Volkswagen consegue aproveitar melhor o espaço interno. Por outro lado, o túnel central do Creta é baixo e oferece
conforto para quem vai no meio, além de contar com saídas de ar para os passageiros traseiros.
MOTORIZAÇÃO
O Hyundai Creta Ultimate abandonou o antigo motor 2.0 aspirado flex de 157/167 cv e 19,2/20,6 kgfm de torque para adotar o novo 1.6 turbo a gasolina. Esse motor entrega 193 cv a 6.000 rpm e 27 kgfm de torque a partir de 1.700 rpm, o que faz o Creta o SUV compacto mais potente à venda no Brasil.
Para efeito de comparação, ele supera o Fiat Fastback Abarth, que oferece 176 cv e 27,5 kgfm de torque com seu motor 1.3 turbo.
O novo motor está associado ao câmbio automatizado de dupla embreagem (DC7), um sistema que historicamente gerou polêmicas por problemas de durabilidade, como Ford, Volkswagen e Audi. Porém, a Hyundai diz que essa nova geração do câmbio foi aprimorada para oferecer maior confiabilidade.
Na prática, o DC7 utiliza atuadores elétricos que acionam as embreagens, com uma configurada para marchas ímpares e outra para marchas pares e a ré. As engrenagens são lubrificadas com um óleo de transmissão de viscosidade aprimorada, projetado para reduzir o desgaste.
Segundo a Hyundai, os discos de embreagem foram redesenhados, assim como conectores e chicotes elétricos, e o sistema ganhou uma junta selada para evitar vazamentos.
Esse câmbio já foi utilizado e permanece no Hyundai Tucson com o mesmo tipo de motorização e teve poucos relatos de problemas, diferente de casos mais conhecidos como o PowerShift da Ford.
Mas ainda é motivo de receio dos consumidores brasileiros. A Hyundai aposta que essas melhorias aumentarão a confiança no sistema. A durabilidade ao longo do tempo será o verdadeiro teste.
Voltando para a parte gostosa, na prática, o motor 1.6 turbo do Hyundai Creta anda bem na estrada. Durante nossos testes, ele confirmou o 0 a 100 km/h em 7,8 segundos, exatamente como a Hyundai divulga. Já a velocidade máxima divulgada pela Hyundai é de 210 km/h, número respeitável para a categoria.
É um motor que entrega força, com trocas de marchas relativamente saudáveis. Mas, ao pisar no acelerador, o Creta inicialmente dá a sensação de ser pesado. Contudo, assim que embala, ele ganha velocidade e realiza boas ultrapassagens, mesmo que haja uma leve demora nas respostas.
O câmbio, mesmo que seja bom na maior parte do tempo, às vezes parece confuso em escolher a marcha certa, principalmente em situações de trânsito intenso ou subidas. Apesar disso, no dia a dia, ele funciona bem, e consegue deixar as rotações baixas para economizar combustível.
Já a suspensão é um dos grandes destaques do Creta. Mesmo com eixo de torção na traseira, ela consegue equilibrar maciez e firmeza, absorvendo buracos e irregularidades com tranquilidade. A cabine não balança tanto, e o conforto geral é muito bom para um SUV compacto.
Nas curvas, o Creta faz um bom trabalho. A carroceria dá aquela dobrada, mas o controle de tração e estabilidade entra rapidamente em ação e mantém o carro bem alinhado. A direção é surpreendentemente responsiva para o segmento e faz bem o trabalho até em curvas mais fechadas.
Na estrada, o isolamento acústico é agradável, mas você ainda ouve um pouco de ruído de rodagem – algo esperado por conta do perfil mais baixo dos pneus.
Os freios, por outro lado, poderiam ser mais precisos. Eles exigem uma pisada mais forte para o carro parar — passou a sensação de falta de sensibilidade. É um detalhe que poderia ser melhorado.
O consumo do Hyundai Creta, segundo o Inmetro, é de 11,9 km/l na cidade e 13,5 km/l na estrada, lembrando que ele só aceita gasolina. Nos nossos testes, porém, os números foram um pouco abaixo disso, especialmente na cidade de São Paulo, onde registramos 9 km/l em condições normais e 6,5 km/l em situações de trânsito intenso. Já na estrada, conseguimos atingir 13,8 km/l. O tanque de combustível permanece com 50 litros de capacidade, o mesmo do modelo anterior.
INTERIOR E EQUIPAMENTOS
O Creta Ultimate tem um interior que segue o padrão da categoria, com acabamento predominante em plástico. O tabelier, o painel e a parte superior das portas são feitos nesse material, mas há um bom acolchoamento no apoio das portas. Os encaixes são bem feitos e os arremates mostram qualidade, com tudo bem fixo e montado.
O painel de instrumentos tem 10,25 polegadas e oferece boa resolução, é fácil de usar e uma interface intuitiva. Já a multimídia, também tem 10,25 polegadas, porém tem bastante crítica.
Apesar da tela ser de boa qualidade, ser rápida e intuitiva, ela não oferece Apple CarPlay e Android Auto sem fio, o que é difícil de aceitar em um carro dessa categoria e preço. Outro detalhe incômodo é que o Apple CarPlay não ocupa a tela inteira, mesmo com a Hyundai promovendo o contrário em fotos de divulgação do interior.
Além disso, toda vez que o carro é ligado, o sistema pede autorização para o Blue Link (serviço de segurança da marca), o que deixa a experiência bem irritante e invasiva por não poder desativar essa função. Um ponto positivo é a presença de uma câmera 360° com boa resolução, que ajuda bastante nas manobras.
A climatização é algo forte no Creta. Ele oferece ar-condicionado de duas zonas e ventilação no banco do motorista, este último nenhum rival do segmento possui, o que é um grande diferencial, especialmente para o clima quente do Brasil. Mas o excesso de botões na parte inferior do painel pode causar confusão no dia a dia com a parte de climatização.
O modelo também conta com freio de estacionamento eletrônico com função auto hold, algo que nem todos os rivais oferecem. Porém, comigo pelo menos, o freio de estacionamento exigiu que eu puxe ele umas três ou quatro vezes para ele ser ativado — algo que aconteceu praticamente toda vez que eu estacionava.
Na iluminação interna, os botões das portas não tem iluminações, exceto o botão do vidro do motorista, o que na prática dificulta o uso à noite.
Em relação aos ajustes dos bancos, o motorista conta com ajuste elétrico apenas de profundidade, enquanto a altura é manual. Embora isso seja inexplicável, nenhum rival do segmento oferece sequer ajustes elétricos, o que deixa o Creta em vantagem.
Nos equipamentos, o modelo entrega tudo que se espera: piloto automático adaptativo com função Stop and Go, alerta de ponto cego com tráfego cruzado, assistente de faixa com centralização, alerta de colisão frontal com frenagem autônoma, chave presencial, Start-Stop , além de três modos de condução (Eco, Normal e Sport).
A iluminação dos faróis é em LED, e ele também conta com vidros e travas elétricas, volante multifuncional. O sistema ADAS funciona bem, mas o assistente de faixa pode ser invasivo, já que emite alertas constantes e uma direção que força demais o volante, o que pode incomodar.
No quesito airbags, o Creta oferece seis airbags (dois frontais, dois laterais de tórax e dois de cortina). O SUV também oferece duas câmeras nos retrovisores, que além de complementar as câmeras 360, também são acionadas e aparecem no painel de instrumento na hora que é colocado seta — isso além dos auxiliares de ponto cego.
A Hyundai oferece cinco anos de garantia para o Creta (para a transmissão também), sem limite de quilometragem. As cores disponíveis para o modelo são Preto Onix, Branco Atlas, Prata Brisk, Prata Sand, Azul Sapphire, Cinza Silk, Cinza Shadow.
RESUMO DA ÓPERA
O Hyundai Creta mostrou ser um carro muito competente em diversos aspectos: tecnologia embarcada, equipamentos, condução, conforto e espaço interno. É claro que ele tem seus deslizes, como a questão da multimídia sem conectividade sem fio, mas isso é algo que um simples adaptador resolve. Nada que comprometa a experiência no geral.
O modelo entrega argumentos sólidos para se destacar entre os concorrentes, que em muitos casos já estão ficando para trás. Não é por acaso que o Creta é o SUV mais vendido no varejo desde 2023, ou seja, reflete a preferência do público brasileiro. No entanto, o que pesa mesmo nessa versão Ultimate é o preço, que já está batendo na casa dos R$ 200 mil. O Creta é, sim, muito bom, mas o preço já começa a passar dos limites.
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