O Peugeot 2008 foi uma das grandes apostas da marca francesa para voltar a ser competitiva no segmento de SUVs. Com uma geração de ausência, o 2008 renovado chegou ao Brasil em agosto de 2024 com preços competitivos, mas não faz tanto sucesso nas vendas. O que pode explicar isso?
O 2008 apresentado no ano passado é a “segunda fase” da segunda geração do SUV, que foi apresentado na Europa em 2019 e só esteve disponível por aqui na variante 100% elétrica.
Com visual similar ao hatchback 208, o 2008 traz faróis em LED e três luzes simulando garras de leão como principais detalhes visuais na dianteira. A seção ainda exibe o novo logotipo da marca francesa e a nova linguagem visual, complementada por frisos verticalizados na grade e o nome do modelo no alto da peça.
Foi justamente o SUV que estreou o novo visual da marca por aqui, uma vez que mantinha as mesmas linhas da primeira geração desde 2013, quando foi apresentado. O 208, por sua vez, já havia sido renovado, mas chegou em setembro.
As mudanças seguem na lateral, que ostenta rodas de 17” com acabamento diamantado e dividem opiniões. O destaque, entretanto, fica por conta dos vincos em V nas portas, que ajudam a dar uma sensação de volume ao SUV. É bem verdade que as fotos não conseguem sempre refletir esse visual, mas é um detalhe interessante.
Na traseira o 2008 traz lanternas em LED bem compridas com três elementos visuais, dando um ar de modernidade. O destaque fica por conta do para-choque traseiro bem volumoso e linhas mais arredondadas da carroceria.
Uma crítica de estilo fica no acabamento escurecido da escrita “Peugeot”, que por ficar posicionado em uma peça já na cor preta, acaba tendo a visualização atrapalhada.
Muito mais que uma plástica
Apesar do nome ser o mesmo, o Peugeot 2008 só lembra o modelo antigo no fato de ser “o SUV do 208”. A plataforma CMP é muito mais moderna que a PF1 usada no passado e reflete os avanços da indústria.
Na geração anterior, o 2008 media 4,16 metros de comprimento, 1,74 m de largura, 1,58 m de altura, 2,54 m de entre-eixos e contava com 355 litros de capacidade no porta-malas.
Agora, o modelo possui 4,30 m de comprimento, 1,77 m de largura, 1,54 m de altura, 2,61 m de entre-eixos e 419 litros de capacidade no porta-malas. A evolução é notória, principalmente no espaço para bagagens.
A mudança da base obrigou a Stellantis a mudar a produção do SUV, de Porto Real (RJ) para El Palomar, na Argentina. Essa alteração reduz custos, uma vez que a planta também fabrica o hatchback 208, com quem o 2008 compartilha muitas peças.
Muitas dessas peças compartilhadas estão no interior. O visual da cabine é interessante e traz teclas que lembram um piano e a versão mais moderna do I-Cockpit. Na versão GT, topo de linha, os bancos são revestidos em material sintético e contam com costuras verdes.
A multimídia é de 10,25 polegadas e permite conexão com Android Auto e Apple CarPlay sem o uso de fios e apresenta bom funcionamento.
A crítica, porém, fica no fato da central abrigar os controles de ar-condicionado, o que em diversas situações é um pouco irritante e pode causar certa desatenção até o condutor estar familiarizado com os comandos. Pelo menos existem teclas físicas para acionar o ar-condicionado no máximo, ou desligar a ventilação.
A cabine é complementada ainda pelo carregador de celular sem fio, que fica oculto em um compartimento preto brilhante e é uma boa alternativa para proteger o dispositivo. O principal diferencial da versão GT é o teto solar panorâmico. De série, o modelo ainda oferece freio de estacionamento eletrônico e entradas USB-A e USB-C.
I-Cockpit
Ame ou odeie, mas a Peugeot continua apostando no I-Cockpit para seus carros. O cockpit é composto por um volante menor que os tradicionais, o que é bem interessante. Porém, senti dificuldades em encontrar a posição ideal para dirigir e enxergar as informações do painel de instrumentos.
A ideia é que o condutor observe o painel por cima do volante, o que demanda certo trabalho, especialmente de quem prefere uma posição de dirigir mais alta, ou próxima do painel do carro.
Também não gostei dos comandos do sistema de controle de cruzeiro, que estão posicionados em uma segunda haste no lado esquerdo, abaixo do comando de seta. No lado direito, na mesma haste dos comandos de vidro elétrico, o condutor altera as informações do hodômetro parcial. Poderia ser um sistema mais simples e controlado pelo volante, como acontece em outras marcas.
Motor de Fiat, Citroën e 208
Equipado com motor 1.0 turbo, também conhecido como T200, o desempenho do Peugeot 2008 não fica devendo para o uso urbano e em estradas. São 130 cv no etanol e 125 cv na gasolina e o torque sempre de 20,4 kgfm independente do combustível.
Como é tradicional desse motor, o consumo de combustível é elevado no ciclo urbano, onde mal passei dos 9 km/l. Mas na estrada foi possível conseguir médias de 14 km/l, sempre utilizando gasolina.
Segundo o Inmetro, as médias de consumo do Peugeot 2008 com etanol são de 8,6 km/l na cidade de 9,8 km/l na estrada. Com gasolina, os números sobem para 12,3 km/l e 13,7 km/l.
Vale ressaltar que em algumas situações de ultrapassagem o 2008 parece um pouco amarrado, especialmente se o condutor precisar ir acima dos 120 km/h para realizar uma ultrapassagem. Nem mesmo o modo sport ajuda muito. Entretanto, o botão é capaz de deixar o carro bem mais espero em acelerações a baixa velocidade e aumentar a agilidade do 2008 no trânsito.
É interessante também ressaltar a diferença de calibragem do conjunto mecânico entre as marcas da Stellantis. No C3 e Strada com esse mesmo motor, o carro parece desenvolver melhor e apresentar mais fôlego em velocidades elevadas, enquanto o 2008 é mais amarrado. A principal explicação pode estar nos 1.300 kg da versão GT, enquanto o C3 You pesa 1.115 kg.
Outra diferença importante na motorização é que o 2008 não apresenta um ruído muito elevado do eletroventilador, ao contrário de todos os modelos da Citroën (Basalt e Aircross) com esse motor.
Conforto na medida
O Peugeot 2008 possui um conforto regular no uso do dia a dia. O acerto de suspensão dianteiro é firme na medida, mas sem comprometer o conforto nas cidades. A suspensão traseira é de eixo rígido tradicional e não é muito rebuscada, mas é padrão dos carros desse segmento.
Em algumas situações, especialmente com o carro vazio, era possível sentir o carro quicar, o que era incômodo. Esse comportamento era notável principalmente ao passar por lombadas.
Assistentes ficam devendo
Um dos pontos de maior crítica no Peugeot 2008 foi justamente a ausência de um piloto automático adaptativo. A versão GT, que custa R$ 173 mil, apesar de ser vendida por R$ 158 mil, já poderia contar com essa função. O que é oferecido é o controlador de velocidade tradicional dos carros da Stellantis.
O modelo até é equipado com alerta e correção de permanência em faixa, que é bem permissivo, o que é positivo, mas nem sempre corrigiu algumas saídas propositais da faixa para testar o sistema.
Um item que merece muito destaque é o sistema de câmeras 360º presentes no Peugeot 2008 a partir da versão intermediária Allure. A resolução das câmeras é muito melhor do que o apresentado por carros bem mais caros, como o Honda Civic híbrido, que custa R$ 100 mil a mais que o SUV.
Vale a pena?
Quem compra carro pensando no visual, terá no Peugeot 2008 uma das escolhas certeiras no segmento. Com bons equipamentos já desde a versão de entrada e o visual muito próximo da versão de topo, quem quer passar uma boa imagem ou ter um carro bonito na garagem, estará muito bem servido.
O pacote de equipamentos é bem interessante, principalmente a opção de teto solar panorâmico por esse preço. Mas o consumo de combustível em ciclo urbano não é dos melhores. A posição de dirigir bem específica também pode dificultar alguns motoristas a encontrarem o ajuste perfeito.
Entretanto, o que me afastaria de comprar um Peugeot 2008 é justamente a ausência de um piloto automático adaptativo, item oferecido por Honda HR-V EX - com motor aspirado e custa R$ 156 mil -, e também pelo Volkswagen Nivus Comfortline, já 1.0 turbo e que parte de R$ 143 mil.
Respondendo a questão inicial, mesmo compartilhando motores e outros componentes com diversos carros e uma rede de concessionários em expansão, o Peugeot 2008 ainda não figura entre os líderes do segmento, embora suas vendas tenham saltado de 5.100 unidades em 2022 para mais de 7.800 em apenas quatro meses de mercado em 2024.
Apesar de bem equipado e com motores confiáveis, e uma lista de equipamentos bem generosa, o 2008 está em um caminho positivo, mas parece que ainda falta a cereja do bolo para alavancar ainda mais as vendas.
Se posicionar entre um segmento mais premium, faz a exigência ser ainda maior. No caso do 2008, alguns sistemas mais avançados de condução semiautônoma poderiam fazer diferença no mercado. Resta ver se a Peugeot irá atualizar o modelo no futuro.
Ficha Técnica Peugeot 2008 GT 20255
Motor: 999 cm3, dianteiro, transversal, três cilindros, 12 válvulas, turbo, injeção direta, 130 cv de potência a 5.750 rpm, 20,4 kgfm de torque a 20,4 kgfm, flex
Câmbio: automático do tipo CVT de sete marchas simuladas, tração dianteira
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson independente na dianteira e eixo rígido na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira e tambor na traseira
Pneus: 215/60 R17
Dimensões: 4,30 metros de comprimento; 1,77 m de largura (1,99 com espelhos); 1,54 m de altura; 2,61 m de distância entre-eixos; porta-malas de 419 litros;
Tanque de combustível: 47 litros
Peso em ordem de marcha: 1.300 kg
Consumo PBEV: Urbano: 12,3 km/l (gasolina) / 8,6 km/l (etanol) Estrada: 13,7 km/l (gasolina) / 9,8 km/l (etanol)
- Acompanhe o VRUM também no YouTube e no Dailymotion!