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Chery Face 1.3 16V - Leitura dinâmica

Mesmo com um test-drive controlado e curto, foi possível descobrir alguns pontos sobre o compacto da Chery

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Itu/São Paulo - O test-drive escolhido não chegou a poucos minutos e igualmente escassos quilômetros, menos de 8 km, um percurso de estrada de mão dupla na SP-079 em Itu. O trecho não permitiu avaliar o Face em relação ao seu fôlego de retomada ou a capacidade de sua suspensão em absorver imperfeições. Uma opção que não ajuda na tarefa de se desmistificar os preconceitos contra os automóveis chineses. Ainda assim, com a companhia de outros jornalistas especializados no carro foi possível colher impressões comuns que ajudam a avaliar em parte o lançamento.

Nos primeiros momentos do teste, logo se detecta um barulho, uma espécie de ronco agudo provocado sempre que se pisa no acelerador. Ao se subir de rotações e ganhar velocidade, este ruído é obliterado pelo pelo próprio motor 1.3 16V, que fala mais alto por precisar girar para entregar desempenho e deslanchar. A disposição maior acima dos 3 mil giros não é auxiliada pelo câmbio manual de cinco marchas, que tem engates um tanto duros e ruidosos. O escalonamento do câmbio deixa a rotação cair muito na passagem para a terceira e quarta marchas, deixando as respostas lentas.

Ainda que o carro estivesse carregado com quatro pessoas, o que tolhe ainda mais o rendimento, o desempenho não é empolgante nem no papel. A Chery divulga uma aceleração até os 100 km/h em longos 16 segundos e uma velocidade máxima de 156 km/h. Na prática, a aceleração é mais morosa do que em muitos 1.0 do mercado, como o Volkswagen Gol 1.0 Ecomotion e o Chevrolet Celta 1.0 VHCE, ambos melhor dispostos.

Confira a galeria de fotos do Cherry Face 1.3!

A direção é lenta e pouco comunicativa, no que não ajuda o volante de três raios de má pega. A posição de dirigir também não é beneficiada pelos bancos, que falham em acomodar bem os passageiros por conta da densidade mal calculada. Ao se acelerar um pouco mais, acima dos 100 km/h, nota-se uma certa imprecisão da direção que junto com a oscilante suspensão, não transmite a sensação de segurança esperada, algo reforçado pelo comportamento dinâmico, que deixa o carro flutuar nesta situação.

Dinâmica pouco afinada

Em desvios curtos de trajetória e em poucas curvas, o Chery Face apresentou uma inclinação lateral acentuada. Da mesma forma, em frenagens, a frente afunda e nem sempre a trajetória é mantida, mas sem travamentos, mérito do sistema ABS. O consumo também não foi divulgado, mas o indicador de consumo instantâneo no centro do velocímetro marcou em velocidade de cruzeiro de 80 km/h cerca de 13,5 km/l.

As acomodações mostram-se suficientes para quatro passageiros, já que um hipotético ocupante central traseiro ficará espremido e inseguro, dada a ausência de um simples encosto de cabeça e de um cinto de três pontos. O entre-eixos de 2,39 m é 5 cm maior que o do subcompacto QQ, o que deixa espaço longitudinal para as pernas, mas os ombros e as cabeças, para passageiros com mais de 1,80 m, não contam com a mesma mesura. O porta-malas, de volume não divulgado, foi suficiente para acomodar a bagagem de mão de três pessoas, mas não parece ser capaz de levar malas de cinco ocupantes, o que deixa clara a orientação mais urbana do projeto - um catálogo do Salão de Paris indica minguados 190 litros, mas a assessoria da marca indicou um número muito maior (324 l com os bancos na posição normal).

Com desenho estilo "pá", a alavanca do freio de mão não tem acionamento fácil



As colunas dianteiras grossas na base atrapalham a visão em manobras tal como os retrovisores externos. Em manobras de estacionamento os sensores fazem o seu papel, com um visor gráfico localizado no teto, acima do lugar central traseiro. O visor indica em barrinhas coloridas e números a proximidade do obstáculo, um sistema que permite a visualização pelo retrovisor interno, no que em muito lembra os Mercedes-Benz da década de 90, como o cupê CLK.

Chamam a atenção, mais como curiosidade, os cinzeiros no painel, logo abaixo do acendedor de cigarros, e também no console, junto aos pés dos passageiros traseiros, algo essencial para um carro na China. No Brasil, os argumentos são outros e o que deve valer para o consumidor é a sedução do bolso.

A questão é se a marca, que pretende construir uma planta no Brasil com investimentos de US$ 1 bilhão para a produção de compactos mais encorpados, vai conseguir conquistar os consumidores de modelos nacionais de entrada menos generosos em oferta de equipamentos, mas que se mostram antigos conhecidos, ainda que com defeitos. Por enquanto, como foi dito no próprio lançamento, os concorrentes principais, na prática, são os outros chineses, que acenam com a mesma lógica do custo-benefício.