No setor automotivo, quando se fala de uma série especial de qualquer modelo logo se imagina uma versão mais completa, recheada com os mais diversos equipamentos. Mas parece que essa não foi bem a ideia da General Motors com a S10 Midnight, edição idealizada nos Estados Unidos que estreia no Brasil com a picape, que já havia sido mostrada como conceito no Salão do Automóvel de São Paulo de 2016. Com o visual totalmente preto, a S10 ganhou aspecto mais esportivo, enfatizado por santantônio estilizado e belas rodas aro 18 polegadas. O motor 2.8 turbodiesel, o câmbio automático de seis velocidades e o sistema de tração 4x4 formam uma trinca eficiente em diferentes pisos. Mas a picape fica devendo itens básicos obrigatórios em um veículo que custa mais de R$ 160 mil.
A ideia da edição Midnight é sugerir um veículo customizado, com predominância da cor preta. E na S10 isso foi feito de forma radical, já que até a gravata da logomarca perdeu seu tradicional tom dourado e foi escurecida. A grade frontal também é preta e os faróis contam com luz diurna com LED. O teto plano parece um pouco maior graças ao santantônio esportivo, o mesmo da versão High Country. As rodas de liga leve aro 18 polegadas têm desenho esportivo e acabamento escurecido acetinado. A caçamba conta com protetor e capota marítima, além de tampa com chave. A série especial é identificada por emblemas Midnight nas portas dianteiras e na tampa traseira.
AUSÊNCIAS O visual monocromático é visto também no acabamento interno, como no revestimento do teto e das colunas das portas. Estranhamente, os bancos são revestidos em tecido Jet Black, e não em couro, o que seria mais comum em um modelo de edição especial. O painel traz detalhes em preto brilhante e o nome da edição reaparece grafado na placa de aço escovado junto às maçanetas internas das portas dianteiras. E é só. No mais, a S10 Midnight figura entre as versões LT e LTZ, e tem um pacote de itens de série que deixa a desejar em alguns aspectos. A edição especial não traz airbags laterais, não conta com sistema de fixação de cadeiras infantis, o volante só tem ajuste de altura e faltam nichos para guardar objetos maiores, como uma mochila. Tem um pequeno compartimento sob o banco traseiro, que não dá para guardar quase nada, e atrás do encosto só mesmo objetos finos.
O acabamento interno é de boa qualidade, mas outros deslizes logo são notados. Os vidros elétricos são do tipo um toque apenas para o motorista e faltam saídas do ar-condicionado para quem senta no banco traseiro. O banco do motorista não tem comandos elétricos e o do passageiro não tem regulagem de altura. A caçamba tem bom volume, mas a capota marítima, quando enrolada para o transporte de carga, não tem fixação fácil junto ao santantônio. O espaço no banco traseiro é bom para três pessoas, mas falta o apoio de cabeça central e o assento é muito baixo e não apoia bem as pernas. Como se trata de um veículo alto, os estribos laterais são providenciais para o embarque e desembarque. E o sensor de estacionamento traseiro ajuda a minimizar o problema das dimensões avantajadas na hora das manobras em garagens.
DIRIGINDO Mas nem tudo está perdido com a S10 Midnight pelo fato da ausência de alguns equipamentos. A picape também tem seus pontos positivos. Um deles é o conjunto mecânico composto pelo eficiente motor 2.8 turbodiesel, o câmbio automático de seis marchas sequenciais e o sistema de tração 4x4. Com seus 200cv e 51kgfm de torque, o propulsor “rosna” ao menor estímulo ao acelerador. As reações são imediatas nas arrancadas e mesmo com controle de tração é preciso dosar o peso do pé no pedal para evitar as cantadas de pneus. As retomadas de velocidade são seguras, já que o câmbio “conversa” de maneira fácil com o motor, fazendo as reduções de maneira inteligente, sem trancos nas trocas de marchas.
O sistema 4x4 é facilmente acionado por meio de um seletor giratório no console, que permite escolher entre a tração somente traseira, nas quatro rodas ou reduzida. Isso associado à boa altura em relação ao solo faz da S10 Midnight uma picape valente em estradas de terra e terrenos irregulares. Na estrada ela tem um rodar macio e confortável, e o ruído de funcionamento do motor não chega a incomodar. No trajeto misto, com trecho de cidade e rodovia, o computador de bordo apontou um consumo médio de 10,5km/l. No ambiente urbano, o assistente de partida em rampa é providencial para as arrancadas em subidas íngremes. E na terra a picape conta com o controle de velocidade em descida.
A direção com assistência elétrica progressiva garante leveza nas manobras e cargas adequadas em velocidades elevadas, mas o diâmetro de giro é ruim e dificulta a vida do motorista em espaços apertados. As suspensões foram bem calibradas e garantem boa estabilidade, desde que não haja abusos. O controle eletrônico de estabilidade é item de série muito útil nas horas que o motorista se excede. Mas a picape ainda pula um pouco quando vazia, e roda mais firme quando carregada. O sistema de freios com ABS com assistente de frenagem de urgência atuou de forma eficiente. O estepe fica instalado debaixo da caçamba, em suporte basculável, e a operação de troca não é das mais fáceis.
Pelo preço de R$ 166.690, a S10 Midnight deveria oferecer mais conteúdo. Ela só não é mais cara do que a Ford Ranger 3.2 turbodiesel XLT (R$ 183.490) e a Toyota Hilux 2.8 turbodiesel SRV (R$ 172.120). Mas o preço da picape média da Chevrolet ultrapassa o da Nissan Frontier 2.3 diesel SE (R$ 152.390), da Volkswagen Amarok 2.0 diesel Trendline (R$ 158.690) w da Mitsubishi L200 Triton 2.4 GLS (R$ 139.990).
CONECTIVIDADE O sistema multimídia Chevrolet MyLink está presente na série especial Midnight da picape S10. Ele pode ser operado a partir da tela tátil de sete polegadas, por meio da qual é possível acessar informações sobre o carro, agenda do celular, sistema de áudio e imagens. O equipamento não traz leitor de CD/DVD, restando o rádio, apenas uma entrada USB e auxiliar, além do Bluetooth, que inclui conteúdo em streaming. Para espelhar o display do smartphone é preciso usar um cabo USB, e com o auxílio das interfaces Android Auto ou Apple CarPlay conectar a sistemas de navegação. A função de telefonia oferece leitura de mensagens SMS (que quase ninguém mais usa) com respostas pré- definidas. O comando de voz não está disponível, mas a picape vem equipada com o sistema On Star, que oferece serviços de concierge, recuperação de veículo furtado e contato com atendimento médico de emergência. Fazem falta a câmera de ré e os comandos do sistema de áudio no volante. Falha grave para um modelo com esse preço. E vale lembrar que até o Onix, que custa menos da metade do preço, tem muitos desses equipamentos.
FICHA TÉCNICA
MOTOR
Dianteiro, longitudinal, quatro cilindros em linha, 16 válvulas, 2.776cm³ de cilindrada, turbo diesel, que desenvolve potência máxima de 200cv a 3.600rpm e torque máximo de 51kgfm a 2.000rpm
TRANSMISSÃO
Tração 4x4 com reduzida e câmbio automático de seis marchas, com opção de troca manual
SUSPENSÃO/RODAS/PNEUS
Dianteira, independente com braços articulados, molas helicoidais e barra estabilizadora; e traseira do tipo eixo rígido com feixe de molas semi-elípticas de dois estágios / 7,5 x 18 polegadas (alumínio) / 265/60 R18
DIREÇÃO
Do tipo pinhão e cremalheira, com assistência elétrica
FREIOS
A discos na frente e tambores na traseira, com sistema antiblocante (ABS), distribuição da força de frenagem (EBD) e assistência de frenagem de emergência (BAS) nas quatro rodas
CAPACIDADES
Tanque de combustível, 76 litros; capacidade de carga (passageiro e carga), 1.134kg
EQUIPAMENTOS:
DE SÉRIE
Grade frontal e logos Chevrolet em preto, carroceria com pintura metálica Ouro Negro, santantônio e capota marítima, estribos laterais, rodas aro 18 polegadas com acabamento escurecido acetinado, faróis com DRL em LED, emblemas Midnight nas portas dianteiras e na tampa traseira, controles eletrônicos de estabilidade e tração, assistente de partida em rampas, direção elétrica progressiva, volante com revestimento em couro e ajuste de altura, freios ABS com assistente de frenagem de urgência, faróis e lanternas de neblina, travas e vidros elétricos comandados por controle remoto, sensor de estacionamento traseiro, retrovisor eletrocrômico, multimídia MyLink com Android Auto e Apple Car Play, sistema de telemática avançada OnStar, airbags dianteiros, alarme, alerta de pressão dos pneus, regulagem de altura dos faróis, ar-condicionado eletrônico, computador de bordo, controlador de velocidade de cruzeiro e controle de velocidade em declive.
OPCIONAL
Pintura metálica
Quanto custa?
A Chevrolet S10 2.8 turbo diesel 4x4 é vendida na versão de entrada, LT com câmbio manual por R$ 153.390. A mesma versão com câmbio automático vai para R$ 153.990. A versão testada, a Midnight, tem preço sugerido de R$ 166.690. Já a versão LTZ vai para R$ 179.490, enquanto a High Country chega aos R$ 191.490. A pintura metálica custa R$ 1.650.
Notas (0 a 10)
Desempenho 8
Espaço interno 8
Caçamba 7
Suspensão/direção 8
Conforto/ergonomia 8
Itens de série/opcionais 8
Segurança 8
Estilo 9
Consumo 7
Tecnologia 8
Acabamento 8
Custo/benefício 7