A disputa no segmento dos utilitários-esportivos no Brasil é acirrada em qualquer tamanho, seja entre pequenos, médios ou grandes. E para se manter competitivo nessa batalha é preciso novidades. E como a linha 2015 do Chevrolet Trailblazer manteve exatamente o mesmo visual, restou à GM investir na modernização do motor V6, que ganhou sistema de injeção direta de combustível, denominado SIDI (Spark Ignition Direct Injection). Para que o pacote de mudanças ficasse apenas com esse (importante) recheio, a empresa também realizou pequenas mudanças no habitáculo, para deixá-lo com uma aparência mais chique.
EFICIÊNCIA Essa é a principal vantagem que a nova tecnologia (que injeta a mistura ar/combustível diretamente na câmara de combustão) trouxe ao motor V6 3.6. Seja no desempenho ou no consumo. Os 38cv a mais (a potência saltou de 239cv para 277cv) e o aumento do torque em 2,2kgfm (de 33,5kgfm para 35,7kgfm) se fazem presentes principalmente nas retomadas de velocidade, evitando aqueles sustos nas ultrapassagens mais apertadas. É preciso considerar que estamos falando de um utilitário que, sem motorista, passageiros e bagagens, pesa mais de duas toneladas. As acelerações também ficaram mais vigorosas, pois o motor “enche” com mais facilidade.
CONTROLADO Quanto à redução no consumo, a GM diz que ela foi da ordem de 4%. Na prática, com dois adultos, em estrada de pista dupla com pouco movimento e ar ligado, o computador de bordo registrou picos de 9,2km/l. Para os mais pães-duros, existe um gráfico no computador de bordo que ajuda o motorista a ter uma tocada mais econômica. Número razoável para veículo desse porte. As outras novidades do motor são os quatro comandos de válvulas continuamente variáveis, que ajudaram na redução do consumo; o bloco em alumínio com camisas de ferro fundido nodular, que tem como objetivo aumentar a durabilidade e facilitar a manutenção; e o coletor de exaustão integrado ao cabeçote, que favorece o rápido aquecimento do catalisador, reduzindo as emissões de poluentes.
NA MACIOTA Outra mudança (em menor escala) foi realizada no câmbio automático de seis velocidades, que recebeu uma nova calibração em função do aumento na potência e torque. O resultado é positivo, pois os engates são suaves e o kick-down (quando se pisa fundo no pedal do acelerador para reduzir rapidamente as marchas) foi eficiente nas retomadas de velocidade e acelerações. Mas, num veículo de preço tão elevado, que é vendido apenas na versão topo de linha (LTZ), é inadmissível não ter alavancas junto ao volante para as trocas manuais, que são feitas apenas na alavanca, pelo menos de forma sequencial (ainda bem que não colocaram aquele famigerado botão no pomo, que é pouco prático). Também falta a opção de troca esportiva. Uma outra alteração mecânica está na suspensão dianteira, que ganhou buchas mais rígidas.
POR DENTRO As mudanças visíveis no interior aparecem no painel central, que ganhou acabamento em preto brilhante, e no revestimento em couro bicolor (preto e marrom) dos bancos. Elas deram um ar mais chique ao habitáculo do utilitário. Mas falta um cuidado maior no encaixe de plásticos, como o que fica na base do banco do motorista e que já estava soltando. O espaço interno é um ponto positivo e o Trailblazer é vendido apenas na opção de sete lugares. Verdade seja dita, o espaço nos dois últimos bancos (que ficam escamoteados no piso e têm fácil acesso, apoios de cabeça e cintos de três pontos) oferecem conforto apenas para crianças e, ao usar a terceira fila, o porta-malas praticamente desaparece, obrigando o motorista a levar a bagagem de férias no teto. Assim como na picape S10, o acionamento da tração 4x4 (normal e reduzida) é feito por um botão no console central.
SEGURANÇA Embora a suspensão garanta um bom equilíbrio, como se trata de um veículo com centro de gravidade alto, a tração 4x4 ajuda e os controles de tração e estabilidade fazem um papel importante de anjo da guarda naquelas curvas mais fechadas. Mas o conforto é um pouco prejudicado. Também merecem destaque os sete airbags, o controle de descida e a câmera de ré, já que a visibilidade traseira é ruim. O sistema multimídia MyLink é bem completo (CD, DVD, navegação etc.) e fácil de usar. Há um bom número de porta-trecos no habitáculo. Mas a regulagem somente em altura da coluna de direção é “economia de palito” num carro que custa quase R$ 150 mil.
FICHA TÉCNICA
MOTOR
Dianteiro, longitudinal, seis cilindros em V, 24 válvulas, 3.564cm³ de cilindrada, gasolina, que gera 277cv de potência máxima a 6.400rpm e torque máximo de 35,7kgfm a 3.700rpm
TRANSMISSÃO
Tração traseira (opção de 4x4 com reduzida) e câmbio automático de seis marchas
SUSPENSÃO/RODAS/PNEUS
Dianteira, independente, com braços articulados e barra estabilizadora; e traseira, eixo rígido com multibraços e barra estabilizadora/7,5 x 18 polegadas, em liga leve/265/60 R18
DIREÇÃO
Do tipo pinhão e cremalheira, com assistência hidráulica
FREIOS
Discos ventilados nas quatro rodas, com ABS e EBD
CAPACIDADES
Tanque, 76 litros; e de carga (passageiros %2b bagagem), 616 quilos
EQUIPAMENTOS DE SÉRIE
Airbags duplos frontais, laterais e de cortina; alarme; ar-condicionado digital com difusores no teto; assistente de partida em aclive; banco do motorista com ajustes elétricos; chave do tipo canivete com controle remoto; controles de estabilidade e tração; espelho retrovisor interno eletrocrômico; estribos laterais; faróis e luzes de neblina; regulagem elétrica de altura dos fachos dos faróis; interior em couro; rodas de liga leve de 18 polegadas; sensor de estacionamento traseiro; sistema Isofix; vidros, travas e retrovisores com comando elétrico; volante multifuncional; e sistema multimídia MyLink.
OPCIONAL
Não há.
QUANTO CUSTA?
O Chevrolet Trailblazer V6 3.6 tem preço básico sugerido de R$ 148.290. Com a pintura metálica, sobe para R$ 149.290. A versão com motor turbodiesel 2.8 custa R$ 173.990.
Notas (0 a 10)
Desempenho 9
Espaço interno 9
Porta-malas 7
Suspensão/direção 8
Conforto/ergonomia 8
Itens de série/opcionais 8
Segurança 8
Estilo 8
Consumo 9
Tecnologia 8
Acabamento 7
Custo/benefício 7
AVALIAÇÃO TÉCNICA
ACABAMENTO DA CARROCERIA
A tampa traseira e o capô têm montagem razoável. As quatro portas têm pontos com desnivelamento entre si e a carroceria. A pintura contém alguns pontos com impurezas. NEGATIVO
VÃO DO MOTOR
Os itens de verificação constante têm fácil manuseio e acesso. O resultado do isolamento acústico em relação ao habitáculo é satisfatório. O motor V6 tem acesso à manutenção satisfatória na área frontal, razoável nas laterais e limitado na posterior. Quando aberto, o capô, que é pesado, é sustentado por vareta manual, com ângulo de abertura razoável. REGULAR
ALTURA DO SOLO
Toda a parte inferior do conjunto motopropulsor tem proteção por chapa em aço de boa espessura. Os ângulos de ataque e saída satisfazem. Não foram notadas interferências com o solo no percurso misto de provas, mesmo com 600 quilos de carga útil. POSITIVO
CLIMATIZAÇÃO
Sistema apresentou ótimo funcionamento e está bem vedado. São quatro difusores de ar no painel e quatro (de formato circular que giram 360°) no teto, com quatro opções independentes de velocidade da vazão de ar, que proporcionam em pouco tempo a sensação de conforto em todo o habitáculo. POSITIVO
FREIOS
O ABS apresentou boa resposta. As reações nos dois eixos foram bem distribuídas e a desaceleração é satisfatória nas várias situações testadas sobre piso seco/molhado. O pedal de freio tem sensibilidade e relação aceitável. O freio de estacionamento atuou normalmente. POSITIVO
CÂMBIO
As trocas de marchas são suaves e rápidas, e a resposta do kick down é boa. As relações de marchas satisfazem a dirigibilidade no uso misto. POSITIVO
MOTOR
O novo V6 rende bem mais que o antigo. O aumento de potência e torque se reflete numa melhor dirigibilidade. A aceleração é muito boa e as retomadas de velocidade são vigorosas. Não tem opção flex. O funcionamento é bem silencioso, sem vibrações e com ótima elasticidade. Mesmo com o veículo carregado e o ar-condicionado ligado, a performance satisfaz bem. POSITIVO
VEDAÇÃO
Boa contra água. POSITIVO
NÍVEL INTERNO DE RUÍDOS
Os ruídos no habitáculo surgem ao trafegar sobre piso irregular de asfalto, paralelepípedo e terra. O efeito aerodinâmico inicia-se a 100km/h e é crescente. NEGATIVO
SUSPENSÃO
A estabilidade é razoável numa utilização normal e dentro da lei, passando a mais delicada no limite de aderência. Sobre piso de baixo atrito é bom selecionar a tração 4x4 alta para melhor a precisão no contorno de curvas e nas retas. O conforto de marcha é limitado, pois há transferência das irregularidades do piso. Conforme o grau do choque das suspensões com o solo ocorre uma imediata transferência de trepidação/vibração para toda a carroceria, chegando aos ocupantes e ao sistema de direção. REGULAR
DIREÇÃO
A leveza em manobras de garagem tem certo peso. O volante tem boa pega, mas a coluna de direção tem ajuste somente em altura, com curso curto para cima. O diâmetro de giro é grande (11,8m) e incomoda em manobras de garagem e estacionamento. A velocidade do efeito retorno é aceitável. Os pneus têm discreta eficiência sobre piso de baixo atrito. A precisão na reta e em curvas é razoável sobre piso bem conservado, e deixa de ser precisa na estabilidade direcional e lateral em velocidade elevada sobre piso ondulado. NEGATIVO
ILUMINAÇÃO
Não tem sensor crepuscular. Há luzes de cortesia no porta-malas (dupla) e para-sóis. Os faróis têm duplo refletor e apresentaram boa eficiência no baixo/alto. Existe regulagem elétrica de altura em função da carga transportada. O quadro de instrumentos tem iluminação permanente e boa leitura, assim como o console central, mas os interruptores dos vidros e da regulagem dos espelhos retrovisores não têm identificação noturna, exceto a porta do condutor, que tem a tecla do vidro elétrico com iluminação. No teto existem três sessões de lanternas bem divididas, com ótimo resultado em iluminação. REGULAR
ESTEPE/MACACO
O estepe com pneu 245/70R16 Bridgestone tem aro em aço e está instalado debaixo do vão de carga, em suporte basculável por meio de mecanismo dentro do porta-malas. A medida do estepe é diferente dos pneus de uso. A operação de troca (macaco do tipo garrafa) não é fácil nem limpa, além de ser demorada. O conjunto de uso danificado cabe perfeitamente no local do estepe. NEGATIVO
LIMPADOR DO PARA-BRISA
As áreas varridas no para-brisa e no vidro traseiro são boas. Os esguichos são eficientes, sendo do tipo spray no para-brisa e jato único no vidro traseiro. As palhetas apresentaram boa qualidade, mas o sistema não tem sensor de chuva. O acesso ao reservatório d’ água (instalado dentro do vão do motor) é fácil. REGULAR
FERRAMENTAS
Tem uma chave de fenda combinada com Phillips e uma chave de boca 14x12mm. POSITIVO
ALARME
A chave de ignição é codificada e tem teclas de travar e destravar as portas. Ao dar comando de travar as portas, os vidros sobem automaticamente. As quatro portas têm função um toque para descer/subir os vidros. O sistema antiesmagamento atuou com precisão. Existe proteção perimétrica das partes móveis, mas falta a volumétrica contra invasão pela quebra dos vidros. NEGATIVO
VOLUME DO PORTA-MALAS
O declarado pela fábrica é 285 litros e o encontrado na nossa medição foi de 184 litros, sem utilizar o fundo falso do assoalho traseiro e sem ultrapassar a altura do encosto do 6º e 7º bancos.
(*) Avaliação do engenheiro Daniel Ribeiro Filho, da Tecnodan
www.danieltecnodan.com.br