A despedida da Volkswagen Kombi, que deixou de ser vendida desde 2014, abriu uma lacuna no segmento dos furgões que ainda não foi preenchida em sua totalidade. Deixando de fora o aspecto nostálgico que envolve o modelo, assim como seu projeto para lá de ultrapassado, qual outro veículo tão compacto carregava uma tonelada de carga e com um custo de aquisição tão acessível? De acordo com nossa tabela publicada em dezembro de 2013, a Kombi 1.4 Furgão custava R$ 47.477, quantia suficiente para comprar, à época, um VW Voyage 1.6 Highline, por exemplo.
Mas é claro que, aos poucos, vão surgindo opções no mercado, hora por um veículo com preço acessível, hora por um modelo com dimensões semelhantes, hora por um utilitário com a mesma capacidade para o trabalho. E quanto mais um veículo reúne essas características, mais chance tem de alcançar o mesmo sucesso da “Velha Senhora”, um dos apelidos carinhosos da Kombi. O recém-lançado Citroën Jumpy, furgão de porte intermediário montado no Uruguai, chega ao mercado brasileiro com uma receita que equilibra bem esses ingredientes de sucesso.
O modelo chegou para teste e surpreendeu pela atenção que despertou nas ruas, talvez devido ao estilo moderno, com grade e faróis no mesmo estilo dos automóveis da marca, provando que os veículos comerciais ocupam um espaço especial no imaginário das pessoas. O preço, a partir de R$ 80 mil, não é nenhuma barbada como a Kombi, mas pode ser considerado competitivo para um veículo com projeto tão atual e com bons atributos para o trabalho.
NA LIDA Para manusear a carga, o Jumpy conta com porta lateral corrediça à direita, importante para acomodar também no fundo a carga pesada, que precisa ser colocada com a ajuda de uma empilhadeira. Já a porta traseira é bipartida, podendo ser aberta com 90 graus ou 180 graus. O compartimento de carga conta com dois pontos de iluminação, uma tomada de 12V e ganchos. As colunas estruturais trazem furos para fixar divisórias, caso o cliente opte por customizar o compartimento. O pacote de conteúdo da versão testada conta com um sistema de extensão do compartimento de carga, que passa de um volume de 6,1m³ para 6,6m³. Basta suspender o assento da direita na cabine de passageiros e remover uma pequena placa da divisória para acomodar objetos de até 4 metros de comprimento. Mas é preciso deixar claro que se trata de um espaço bastante restrito. Para não ocupar espaço dentro do veículo, o estepe fica sob o assoalho de carga, mais vulnerável ao furto. E para proteger a carga transportada, é possível destravar as portas da cabine separadamente.
VIDA A BORDO O interior do Jumpy traz painel de instrumentos como o de um veículo de passeio, com direito a velocímetro digital e computador de bordo. O motorista se acomoda com conforto, já que seu banco conta também com ajuste de altura e o volante com regulagens de altura e distância. O espaço foi pensado para levar três ocupantes e conta com apoios de cabeça e cintos de segurança de três pontos para todos, mas o conforto do passageiro central fica prejudicado pela alavanca de câmbio. O acesso à cabine não é dos mais fáceis, já que o veículo é alto, e alças de apoio seriam muito bem-vindas.
Existem diversos porta-trecos distribuídos pela cabine. Somente na porta são três nichos, com destaque para o mais baixo, que acomoda no mínimo duas garrafas de 2 litros. Abaixo do banco central também há um compartimento com isolamento térmico. No encosto do assento central está embutido uma mesinha capaz de fixar um tablet ou computador portátil. Apesar de usar materiais simples, só plástico, o acabamento tem boa aparência e qualidade. Os bancos são forrados em tecido. Já os tapetes de borracha são opcionais. Como testamos o Jumpy equipado com um pacote extra de equipamentos, é possível contar com mimos como ar-condicionado e vidros elétricos tipo “um toque”. Espelhos nos para-sóis fazem falta.
Atrás do volante, salta aos olhos a falta de visibilidade traseira, já que o compartimento de carga é fechado. Opcionais como sensores traseiros de estacionamento e retrovisor esquerdo com sistema Tilt-Down são fundamentais, mas para manobrar com segurança mesmo seria necessário contar com uma câmera traseira.
RODANDO O motor 1.6 turbodiesel compartilha bom fôlego com baixo consumo de combustível. A turbina de geometria variável permite bom torque também em baixas rotações. O câmbio manual de seis marchas é bem escalonado, tendo a primeira marcha bem reduzida. Com nível mediano de carga, até uns 500kg, o conjunto não toma conhecimento do peso adicional.
Conseguimos lastrear o furgão com duas bobinas de papel que totalizaram uma tonelada. Juntando isso com a massa do motorista, conseguimos um total de 1.080kg. Aí o motor já sente o peso da responsabilidade e não espere por um consumo exemplar de combustível, já que será necessário trabalhar com giro elevado. No plano, o veículo desenvolve mais lentamente. Ao arrancar em uma subida, foi possível colocar o pequeno motor à prova. Mesmo com a ajuda do assistente de partida em rampa, foi possível perceber os limites da tração dianteira, com uma leve cantada de pneus e um forte cheiro de queimado, que pode ter vindo da embreagem.
Mesmo sem carga, a suspensão se mostrou confortável, mantendo também o veículo equilibrado e assegurando boa estabilidade. A direção conta com assistência eletro-hidráulica, com pesos adequados para cada situação de rodagem. Com 5,31m de comprimento, a agilidade durante as manobras é notável. Já a baixa estatura, apenas 1,93m, permite entrar em estacionamentos que outros veículos comerciais não têm acesso.
CONCORRENTES Além do seu irmão gêmeo Peugeot Expert (ambas as marcas pertencem ao grupo PSA), o Jumpy tem um concorrente com características semelhantes: o Mercedes-Benz Vito 111 VTI. O único porém é que o furgão da marca alemã, que também tem versões para passageiros, custa a partir de R$ 105 mil, uma diferença considerável de R$ 25 mil ao comparar as versões de entrada. O Vito conta com uma porta deslizante na lateral e outra na traseira que abre para cima, quando fica num ângulo de 90 graus, não ultrapassando o nível do teto.
Mas a Citroën considera mesmo como concorrentes os igualmente irmãos Hyundai HR e Kia Bongo. Oferecidos apenas na configuração chassi, ambos os modelos têm preço semelhantes (na faixa dos R$ 74 mil), motorização 2.5 a diesel, com 130cv de potência e 25kgfm de torque, e capacidade de carga de 1.530kg (já com carroceria). Mas é preciso deixar claro que as medidas de comprimento e entre-eixos são bem inferiores, motivo pelo qual, quando encarroçados com baú (que mais se assemelha com um furgão), o compartimento de carga fica muito alto, impossibilitando esses veículos de entrarem em garagens baixas.
CONECTIVIDADE
O furgão traz de série sistema de som com frente destacável da marca Blaupunkt, modelo Rio de Janeiro 120BT, não integrado ao painel e com controle remoto. Seu “algo mais” é a função de telefonia, que, por contar apenas com microfone embutido, não é das mais eficientes. O som conta com entradas USB e auxiliar, além de conexão Bluetooth e rádio.
FICHA TÉCNICA
MOTOR
Dianteiro, transversal, turbodiesel, quatro cilindros em linha, 1.560cm³ de cilindrada, que desenvolve potência máxima de 115cv a 3.500rpm e torque máximo de 30kgfm a 1.750rpm
TRANSMISSÃO
Tração dianteira, câmbio manual de seis velocidades
SUSPENSÃO/RODAS/PNEUS
Dianteira independente, tipo Pseudo McPherson, com molas helicoidais, amortecedores hidráulicos e barra estabilizadora; e traseira independente, com braço triangular, molas helicoidais, amortecedores hidráulicos e barra estabilizadora / de aço 16 polegadas / 215/65 R16
DIREÇÃO
Do tipo pinhão e cremalheira, com assistência eletro-hidráulica
FREIOS
Discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com assistência ABS
CAPACIDADES
Do tanque, 69 litros; e de carga, 1.500 quilos
EQUIPAMENTOS
DE SÉRIE
Airbag duplo; freios ABS; controle de estabilidade; assistente de partida em rampa; vidros elétricos; travas elétricas; tomada dianteira 12V; reparador de carga; computador de bordo; rodas de aço aro 16 polegadas; volante com regulagens de altura e distância; banco do motorista com regulagem de altura; limitador e regulador de velocidade; indicador de troca de marcha; três lugares; protetor de cárter; rádio Blaupunkt modelo Rio de Janeiro (FM/AM/MP3/Bluetooth/USB); dois alto-falantes dianteiros e dois tweeters; ar-condicionado; extensor do compartimento de carga (ModuWork); retrovisores elétricos; sistema com trava seletiva do compartimento de carga; função “um toque” dos vidros elétricos; tomada traseira 12V; faróis de neblina; e suporte escritório móvel
OPCIONAIS
Pintura metálica (R$ 1.690); sensor de estacionamento traseiro (R$ 334); jogo de tapetes de borracha dianteiro (R$ 169); espelho retrovisor com função Tilt-Down (R$ 145).
QUANTO CUSTA
O Citroën Jumpy Furgão 1.6 Diesel HDi custa a partir de R$ 79.990. A versão testada Pack é vendida por R$ 87.990. Com os opcionais listados, a unidade testada custa R$ 90.328.
Notas (0 a 10)
Desempenho 8
Espaço interno 8
Compartimento de carga 9
Suspensão/direção 8
Conforto/ergonomia 8
Itens de série/opcionais 8
Segurança 7
Estilo 9
Consumo 8
Tecnologia 7
Acabamento 7
Custo/benefício 9
CITROËN JUMPY x CONCORRENTES
CITROËN JUMPY 1.6 PACK X PEUGEOT EXPERT 1.6 BUSINESS PACK X MERCEDES-BENZ VITO 1.6 111 VTI
Potência (cv) 115 115 114
Torque (kgfm) 30 30 27,5
Dimensões (A x B x C) (m) (*) 5,31x1,92x1,93 5,31x1,92x1,94 5,14x1,93x1,91
(D x E) (m) (*) 3,27x0,15 3,27x0,15 3,20x0,15
Peso (kg) 1.719 1.719 1.825
Compartimento de carga (m³) (**) 6,1 6,1 6
Carga útil (kg) 1.500 1.500 1.225
Consumo cidade (km/l) (***) 11,4 11,4 10,1
Consumo estrada (km/l) (***) 12,1 12,1 14
Preço (R$) 87.990 87.990 105.000
(*) A: comprimento, B: largura, C: altura, D: entre-eixos, e E: altura em relação ao solo
(**) Dados dos fabricantes
(***) Dados do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular – Inmetro
(g) gasolina; (e) etanol
ND: Não disponível