O mercado brasileiro vive um verdadeiro caso de amor com a Fiat Strada, que desde 2021 é o automóvel mais vendido do país. Neste ano, os emplacamentos acumulados entre janeiro e setembro, segundo a Fenabrave, indicam que a caminhonete alcançará o tricampeonato. No último mês de agosto, o motor 1.0 turbo complementou a gama. Ele equipa a versão Ultra, avaliada, além da Ranch, que dividem a posição de top de linha e têm o mesmo valor.
- Preço da Fiat Strada Ultra: R$ 132.990
Com o novo motor, a Fiat Strada ganha, literalmente, força para encarar a Chevrolet Montana e a Renault Oroch Outsider, ambas ligeiramente maiores e também equipadas com turbo. O propulsor da picape produzida em Betim (MG) é menor, mas desenvolve boa potência para a cilindrada: são 125cv de potência com gasolina, 130cv com etanol e 20,4kgfm com ambos os combustíveis. E o melhor é que essa força chega a apenas 1.750rpm.
Na prática, o motor turbo proporciona ótimo desempenho à Fiat Strada Ultra. Elástico, ele reage com prontidão desde as baixas rotações, deixando a caminhonete ágil no trânsito. Na estrada, não há qualquer esforço em subidas de serra ou em ultrapassagens.
Mas o mérito vai também para o câmbio automático do tipo CVT, que simula sete marchas e tem borboletas no volante para trocá-las (item que alguns carros de categoria superior não oferecem). Se a ideia é acelerar forte e tirar proveito de tudo que o motor tem a oferecer, há ainda o modo Sport, acionado por um botão no volante, que mantém o giro mais alto.
Caso o motorista prefira seguir viagem em ritmo mais tranquilo, tudo bem: as relações do câmbio permitem rodar a 120km/h com giro baixo, em torno de 2.100rpm. Essa característica favorece o conforto acústico, principalmente na Fiat Strada Ultra, que não exibe bom isolamento e faz com que o motor turbo seja bastante ouvido. Alinda por cima, também beneficia o consumo.
Consumo da Fiat Strada Ultra com motor turbo
Além do bom desempenho, o motor turbo da Fiat Strada Ultra apresentou números coerentes de consumo. Com etanol no tanque, o VRUM aferiu 8,2km/l na cidade e 11,3km/l na estrada (confira os números do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular na ficha técnica).
Dinâmica aprimorada, mas ainda com limitações
O motor turbo veio acompanhado de uma recalibragem na suspensão das versões Ultra e Ranch da Fiat Strada. A arquitetura, porém, mantém o eixo rígido, com molas semi-elípticas, na traseira. O trabalho da engenharia surtiu efeito, e a caminhonete está mais estável e também mais confortável, mas ainda não se destaca em ambos os aspectos.
O caso é que a suspensão com molas semi-elípticas é um sistema conceitualmente voltado para o transporte de carga, em detrimento do comportamento dinâmico. Ao volante, tais características se confirmam. A estabilidade em curvas é não mais que razoável: não chega a pregar sustos, mas tampouco admite abusos. Ao menos a direção elétrica, que é leve em manobras, tem grande efeito regressivo e fica bem firme em alta velocidade.
Além disso, em pisos ondulados e malconservados, ainda é possível sentir com clareza a caçamba da picape "saltando". Pelo menos a generosa altura de 18,5cm em relação ao solo mantém a parte inferior da carroceria a salvo de esbarrões contra o solo, inclusive em estradas de terra batida, que a picape transpôs sem qualquer dificuldade.
Capacidade de carga da Fiat Strada Ultra
De qualquer modo, o caso é que a Fiat Strada Ultra obtém um equilíbrio interessante entre todos esses fatores. E, aliás, em relação à capacidade de carga, a caminhonete se destaca, com 650kg de peso máximo admissível: esse valor supera o da Volkswagen Saveiro e o da Chevrolet Montana e empata com o da Renault Oroch Outsider.
O volume da caçamba, de 844 litros, é até generoso, mas ela é limitada em largura e em comprimento, medidas que são as mais importantes. É na altura que o compartimento parece ser maior que nas concorrentes. Ali, há iluminação, protetor e capota marítima (que permite a entrada de poeira, como, lamentavelmente, é normal no segmento).
O que falta é um sistema de freios com discos no eixo traseiro. Afinal, é justamente ali que a maior parte do peso máximo fica concentrada. Ademais, ainda há o desempenho extra proporcionado pelo motor turbo. Do jeito que está, a Fiat Strada Ultra até entrega frenagens adequadas quando está vazia, mas sem qualquer tipo de destaque.
Interior da Fiat Strada Ultra
Na versão Ultra, a Fiat Strada ganhou discretas melhorias no acabamento interno. As portas dianteiras exibem um enxerto acolchoado nos apoios de braço, enquanto os bancos são forrados em material que imita couro. Mas é só isso mesmo: no mais, o habitáculo continua simples, com muito plástico duro.
Por sua vez, o painel mantém o quadro de instrumentos analógicos semelhante ao de Mobi, Fiorino e ao do antigo Uno. Nada contra os mostradores à moda antiga, com ponteiros, mas o problema é que o conta-giros é muito pequeno. Por outro lado, uma janela central digital traz, além das funções do computador de bordo, muitas informações, entre as quais a temperatura do fluido de arrefecimento e até a pressão do turbo.
A posição do motorista dá direito a um volante de boa pegada, mas com ajuste somente em altura: falta o de profundidade. Já os bancos têm assentos muito curtos e não acomodam bem as coxas, porém o apoio para a coluna é correto. Ao menos o do condutor, além da regulagem em altura, traz um apoio central, dobrável, para o cotovelo.
Todavia, o calcanhar-de-aquiles da Fiat Strada, seja na versão Ultra ou em qualquer outra com cabine dupla, é o banco traseiro muito limitado. Falta espaço tanto para as pernas quanto para a cabeça de ocupantes adultos, mesmo se os bancos dianteiros não estiverem muito recuados. Bara completar, o encosto ainda é muito vertical. Acomodar três pessoas ali, então, chega a ser martirizante.
Falta espaço ainda para pequenos objetos, em especial no console central, cujo destaque é um suporte com carregamento por indução para o celular. Atrás, há nichos nas duas portas, além de uma entrada USB: são duas no total, sendo que a outra fica na dianteira.
Equipamentos da Fiat Strada Ultra
As duas versões com motor turbo da Fiat Strada, Ultra e Ranch, vêm com os mesmos equipamentos. Elas se diferem pela decoração externa e por detalhes de acabamento. Em ambas, o pacote de itens de série é fechado: o único opcional é a pintura metálica. A garantia de fábrica é de 3 anos, mas pode chegar a 5 anos com a contratação de planos adicionais.
- EQUIPAMENTOS DE SÉRIE: rodas em liga de 16 polegadas, 4 airbags (frontais e laterais), câmera e sensores de ré, direção elétrica, controles de estabilidade e tração, central multimídia com tela touch de 7 polegadas, espelhamento e carregamento sem fio, ar-condicionado digital, vidros elétricos nas quatro portas, retrovisores elétricos, assistente de partida em rampa, banco do motorista com regulagem em altura, volante multifuncional com regulagem em altura, faróis full-LED com DLRs e auxiliares de neblina, sistema de monitoramento da pressão dos pneus, alarme e travas elétricas com acionamento à distância.
- OPCIONAIS: pintura metálica (R$2.290).
Central multimídia da Fiat Strada Ultra
Até mesmo as versões Ultra e Ranch, com motor turbo, da Fiat Strada trazem a conhecida central multimídia da marca, cuja tela de 7 polegadas já está modesta. Porém, o sistema tem uso intuitivo e inclui projeção sem fio com as plataformas Android Auto e Apple CarPlay para até dois smartphones simultaneamente. Há ainda duas portas USB e um carregador sem fio para smartphones.
Vale a pena?
O motor turbo, mais potente, era realmente o que faltava à Fiat Strada, que evoluiu bastante em dirigibilidade. Agora, a gama ficou completa e consegue fazer frente às concorrentes. Ao que parece, a caminhonete deve continuar liderando o segmento com folga.
Entretanto, o fato é que esse domínio do mercado não redime a picape de alguns problemas. Um dos pontos fracos é a pouca oferta de equipamentos de segurança: afinal, não há airbags do tipo cortina e nem os assistentes mais simples de direção, como alertas de ponto cego e de frenagem. Também não há controlador de velocidade de cruzeiro.
Por fim, quem pensa em uma Fiat Strada Ultra ou Ranch, com motor turbo, deve olhar com atenção para a Chevrolet Montana, principalmente se o objetivo for transportar carga apenas de maneira eventual. A concorrente é mais cara - a versão LTZ, a mais em conta com câmbio automático, custa R$140.890 -, porém traz seis airbags, tem rodar mais confortável e espaço interno maior.
Ficha técnica
FICHA TÉCNICA Fiat Strada Ultra 2024 T200 (motor turbo) MOTOR Dianteiro, transversal, flex, três cilindros em linha, 12 válvulas, 999cm³ de cilindrada, 70mm de diâmetro e 86,5mm de curso, com turbocompressor e injeção direta POTÊNCIA 125cv (gasolina) e 130cv (etanol) a 5.750rpm TORQUE 20,4kgfm (g/e) a 1.750rpm TRANSMISSÃO Tração dianteira, e câmbio automático do tipo CVT com sete marchas simuladas SUSPENSÃO Dianteira: McPherson com molas helicoidais e barra estabilizadora
Traseira: Eixo rígido com molas semielípticasRODAS/PNEUS 6J×16 polegadas (liga leve) / 205/55 R16 DIREÇÃO Do tipo pinhão e cremalheira, com assistência elétrica FREIOS A discos ventilados na frente e tambores na traseira, com ABS e EBD CAPACIDADES Tanque, 55 litros; capacidade de carga (passageiros e bagagem), 650 quilos DIMENSÕES Comprimento, 4,45m; largura, 1,73m; altura, 1,58m; e distância entre-eixos, 2,74m CAÇAMBA 844 litros PESO 1.251 quilos PERFORMANCE Velocidade máxima: 178km/h (g) / 180km/h (e)
Aceleração até 100km/h: 9,8s (g) / 9,5s (e)CONSUMO* Cidade: 12,1km/l (g) / 8,3km/l (e)
Estrada: 13,2km/l (g) / 9,4km/l (e)
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