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JAC J2: bonitinho. Mas....

Hatch é bem equipado, tem proposta urbana, design simpático e chamativo, desempenho razoável e preço competitivo. Mas ainda falta muita lição de casa para os carros chineses

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JAC J2: bonitinho. Mas....
JAC J2: bonitinho. Mas.... Foto: JAC J2: bonitinho. Mas....

O pequeno chinês JAC J2 chama a atenção pelo pacote de equipamentos de série, mas tem detalhes que comprometem sua imagem

Rodei com o JAC J2 alguns dias e percebi que o brasileiro tem razão de estar com um pé atrás em relação aos carros chineses. Aliás, no Primeiro Mundo estão com os dois atrás: marca nenhuma da China conseguiu emplacar na Europa ou nos Estados Unidos. Deve-se também separar o joio do trigo, pois há chinesas e chinesas: algumas oferecem produtos um pouco melhores. Entre as que já vendem aqui, a própria JAC e a Chery.

O J2 é um hatch subcompacto e tem proposta urbanoide: com apenas 3,54m de comprimento (23cm menor que o Uno, 6cm menos que o Kia Picanto, mesmo tamanho do Fiat 500) leva motorista e passageiro da frente com razoável conforto. Mas nem pensar em três adultos atrás. Ao viajar, melhor despachar as malas, pois na traseira vai um “porta-objetos” com apenas 121 litros de capacidade.

Traseira chapada não tem limpador do vidro, que faz falta

É competitivo pelo que oferece de série: R$ 31.990 com ar-condicionado, direção assistida, trio elétrico, som com CD/MP3, ABS e airbag duplo. Na China, o motor é 1.0 com apenas 68cv. Mas Sérgio Habib, seu importador (que constrói fábrica da marca na Bahia), um dos mais brilhantes empresários do setor, convenceu os chineses a equipá-lo com o motor do J3. Tem 1.4 no nome, mas só de mentirinha, pois é um 1.3 com seus 1.332 cm³ de cilindrada. E ganhou uns cavalinhos no navio, vindo da China, pois sua potência lá é de 99cv e aqui são 108cv, quase 10% a mais. Mudou-se algum chip, é o etanol na gasolina, ou puro otimismo mercadológico? O desempenho do J2 na estrada é bom, pois dá para manter o motor sempre em alta rotação. Mas em cidades de topografia complicada, como Belo Horizonte, ele sofre até o ponteiro chegar nas 3.000 rpm.

POSITIVOS Seu design é um charme, do tipo “vira-pescoço” por onde passa. O consumo é baixo, acima de 10km/l, graças ao motor moderno (dois eixos de comando, quatro válvulas por cilindro) e peso baixo (915kg). O acabamento interno é razoável, materiais de boa qualidade convivem com arremates tortuosos na montagem.

Volante é muito fino e movimenta junto com os instrumentos

NEGATIVOS Entre as deficiências de projeto, direção e freios são exageradamente assistidos. Conceitos ergonômicos passam longe das pranchetas: o acesso aos botões de comando é complicado. O porta-luvas não tem tampa, como os mais refinados “pé de boi” brasileiros da década de 1970. Se a porta estiver travada, não adianta puxar a maçaneta interna: tem que levantar o antiquado pino vertical. O volante é regulável, mas só na altura. Procurei – em vão – pelo comando do limpador do vidro traseiro: inexplicável sua ausência num hatch todo equipado.

DEFEITOS Na unidade testada, além dos previsíveis barulhos na suspensão dianteira, um outro inédito e imprevisível, de frequência irregular, sob o capô: um misterioso tapa acústico/mecânico perceptível em pistas asfaltadas. Com o vidro das portas dianteiras no meio do curso, a bateção é digna de uma escola de samba. E o ar condicionado funcionou alguns minutos, para... nunca mais.

MISTÉRIO O teste quase termina no reboque: liguei o carro, pisei na embreagem, engatei a primeira, acelerei com o direito, soltei o esquerdo e... nada!!! O motor continuou em marcha lenta e o carro não se mexeu. Percebi que podia engatar qualquer marcha, mesmo com o motor funcionando, sem apertar a embreagem. Como se ela tivesse agarrada no fundo. E o acelerador também inoperante: podia apertá-lo à vontade que o motor não saía da marcha lenta. Já dirigi centenas de automóveis na vida e me deparei com dezenas de problemas. Jamais um tão misterioso. Busquei o número do reboque no celular (quem tem carro antigo precisa...). Só como tira-teima, antes de chamá-lo, liguei novamente o J2. Engrenei a primeira, acelerei, o motor respondeu, a caixa engatou e eu voltei – rapidamente – para o jornal. Vai que o diabo baixa de novo nesse chinesinho maluco!

Espaço limitado no banco traseiro, que tem encosto muito reto

Com recheio, mas sem qualidade
O pequeno chinês JAC J2 chama a atenção pelo pacote de equipamentos de série, mas tem detalhes que comprometem sua imagem, como acabamento ruim e porta-malas pequeno


FICHA TÉCNICA
» MOTOR

Dianteiro, transversal, de quatro cilindros em linha, 1.332cm³ de cilindrada, 16 válvulas, a gasolina, com potência máxima de 108cv a 6.000rpm e torque de 14kgfm a 4.500rpm

» Transmissão
Tração dianteira, câmbio manual de cinco marchas

» Suspensão/Rodas/Pneus
Dianteira, independente, McPherson com barra estabilizadora; traseira com barra de torção / 5 x 14 polegadas de liga leve / 175/60 R14

» Direção
Tipo pinhão e cremalheira, com assistência elétrica

Porta-malas com capacidade reduzida leva apenas bagagens demão

» Freios
Discos ventilados na dianteira e tambores na traseira

» Capacidades (**)
Peso, 915kg; tanque, 35 litros; do porta-malas, 121 litros/155 litros (***); de carga (passageiros e bagagem), 375kg

» Dimensões
Comprimento, 3,53m; largura, 1,64m; altura, 1,47m; entre-eixos, 2,39m; medida de conforto (distância entre o pedal de freio e o encosto do banco traseiro), 1,86m

» Performance (**)
Velocidade máxima de 187km/h e aceleração até 100km/h em 9,8 segundos

» Consumo km/l (**)
Cidade e estrada: não divulgado

(**) Dados dos fabricantes
(***) Medição do caderno Vrum



A JAC afirma que o carro tem motor 1.4, quando na verdade é 1.3

Equipamentos
» De série

Airbag duplo, cintos de segurança traseiros laterais de três pontos, cintos de segurança dianteiros com pré-tensionador, chave com destravamento remoto das portas, travamento automático das portas a 15km/h, freio ABS com EBD, trava central das portas, alarme antifurto, sensor de estacionamento traseiro, vidros elétricos, desembaçador traseiro, retrovisores elétricos, faróis de neblina, lanternas traseiras de neblina, terceira luz de freio (brake light), porta-copos, antena no teto, bancos em Black Fabric, apoios de cabeça dianteiros com ajuste de altura, volante com regulagem de altura conjugado com painel de instrumentos, direção elétrica, ar-condicionado eletrônico, CD MP3 Player com entrada USB, abertura interna do porta-malas, luz de segurança nas portas dianteiras e porta-revistas.

» Opcionais
Não tem.
Volante é muito fino e movimenta junto com os instrumentos (Marlos Ney Vidal/EM/D.A Press )
Volante é muito fino e movimenta junto com os instrumentos

Quanto custa
O JAC J2 é vendido por preço único de R$ 31.990.

Notas (0 a 10)
Desempenho 7
Espaço interno 6
Porta-malas 5
Suspensão/direção 6
Conforto/ergonomia 7
Itens de série/opcionais 7
Segurança 7
Estilo 7
Consumo 8
Tecnologia 6
Acabamento 6
Custo/benefício 5