O Toyota Etios Cross exibe boas virtudes mecânicas e vem com o status de uma montadora com boa referência no Brasil. No entanto, seu design controverso, excesso de economia em detalhes e falta de mimos acabam por destoar da proposta do veículo. E com rivais com forte apelo no visual, a vida desse aventureiro não é fácil.
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Lançado em novembro de 2013, o Etios Cross veio para ser o topo de linha do modelo compacto da Toyota. Apesar da roupagem de fora-de-estrada, não se engane: a suspensão não foi elevada e os pneus não são apropriados para terra. Há um rack funcional no teto, com capacidade de até 50 kg, para bagagens ou pranchas de surf, por exemplo.
O pacote é completo com vidros elétricos nas quatro-portas, ar-condicionado, direção, trava e retrovisores elétricos. Há ainda repetidores de seta, faróis de milha e os obrigatórios freios com ABS e airbag duplo. Não há opcionais de fábrica e o preço sugerido é de R$ 48.240.
Design
Num país em que a imagem e o status que o veículo confere ao proprietário são muito importantes, a família Etios encontra seus grandes problemas. O design inusitado encontra alguns admiradores, mas é bastante contestado. No caso do Etios Cross, há uma renovada na dianteira, com estilo que relembra os carros da Mitsubishi: um santatônio prateado contorna a grade do radiador, conferindo um aspecto mais agressivo.
O estilo off-road segue com para-choques e molduras laterais robustas na cor preta. Detalhes prateados reaparecem no acabamento inferior das portas e no para-choque traseiro. Há ainda aerofólio e belas rodas de 15 polegadas com desenho exclusivo.
Os bancos dianteiros têm acabamento com o logo Cross aplicado nos encostos e o console é na cor black piano. Com certeza a versão Cross é a mais bem resolvida da família Etios. Mas não é aquele carro capaz de atrair olhares ou despertar paixões por onde passa.
Vida a bordo
As grandes críticas da família Etios, lançada em setembro de 2012, vieram do acabamento da cabine. O Etios Cross foi o primeiro da turma a ter algumas alterações para elevar um pouco a qualidade. A solução da Toyota foi aplicar acabamento black piano no painel, que foi repetido na versão civil do hatch e do sedã a partir do modelo 2014. Os plásticos do painel e console são de boa qualidade, mas duros e ásperos ao toque. Mesmo com as alterações, a continua a sensação de que o carro merecia algo mais requintado.
Encontrar uma boa posição ao digirir não é fácil, pois o Etios Cross dispõe apenas de ajuste de altura do volante, enquanto outros rivais têm ainda regulagem de profundidade. O banco não possui ajuste de altura e os cintos de segurança são fixos: até carros populares mais baratos podem ter o cintos ajustados. Felizmente, motorista e passageiro têm espelhos de cortesia no quebra-sol.
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O Etios apresenta uma disposição incomum do quadro de instrumentos, localizada mais ao centro do painel. Essa escolha é porque o modelo vendido no Brasil tem o mesmo projeto do similar comercializado na Índia, onde a direção é à direita. Na prática do dia-a-dia, no entanto, essa escolha não é legal e o motorista se vê frequentemente com a obrigação de deslocar o olhar da estrada para o centro do painel.
Os grafismos do Etios são nas cores azul e preto e têm desenho bonito, mas são difícieis de ver durante o dia. Outro desafio é conferir o nível de combustível. O minúsculo marcador digital em barra requer muito esforço para saber quanto tem no tanque. Outro porém é que o quadro de instrumentos não exibe a luz-espia informando que os faroletes estão acesos. E caso fiquem acesos durante o dia, o motorista corre o risco de esquecê-los ligados, pois o carro também não dispôe de alarme para isso.
Quando de noite, motorista e passageiros têm que tatear no painel de portas para encontrar os comandos dos vidros elétricos, que não têm retro-iluminação. O carro também não tem computador de bordo. Há abertura interna da tampa do tanque de combustível, mas sem abertura do porta-malas.
O Etios Cross tem trava-elétrica das portas e porta malas, mas o sistema não entra em funcionamento automaticamente. O motorista deve acioná-lo travando a porta manualmente. Uma surpresa interessante é que o porta-luvas pode ser refrigerado, basta virar o difusor do passageiro para dentro do compartimento.
O volante em couro tem boa pegada, com ressaltos no aro que se ajustam bem às mãos. O tecido dos bancos é agradável e apesar das dimensões compactas, quatro pessoas viajam com espaço. O passageiro do meio, além de apertado não tem encosto de cabeça e dispôe apenas de cinto abdominal. O porta-malas comporta 234 litros e possui revestimento em carpete.
Ao Volante
As grandes virtudes do Etios Cross estão justamente nos principais elementos de um automóvel, motor e câmbio. Se o comprador ignorar o design contestado ou os problemas de ergonomia poderá fazer um bom ‘casamento’. Em 2013, a versão hatch da linha Etios vendeu 34.801 unidades, 28ª posição no ranking geral de veículos leves no Brasil.
O Etios Cross é muito ágil e gostoso de dirigir. O motor 1.5L 16V DOHC é capaz de render até 96,5 cv com etanol ou 92 a gasolina a 5.600 rpm. O torque de 13,9 kgmf, disponível a 3.100 rpm, permite boas arrancadas e o carro mostra bom desempenho na cidade, graças ao peso de apenas 965 kg.
A direção elétrica é outro ponto ponto positivo. Como é progressiva, torna-se extremamente leve em baixa velocidade e o condutor fica com a impressão que pode fazer qualquer manobra com o carro. Como é progressiva, a direção endurece em altas velocidades. O câmbio manual de cinco marchas possui engates precisos e bom escalonamento entre as velocidades, sem a necessidade de trocas constantes.
O carrinho é bem estável, graças ao ajuste da suspensão com eixo de torção na traseira. O Etios Cross faz curvas com tranquilidade, mas por outro lado transmite as irregularidades do piso, algo comum nas nossas vias. O sistema de freios com ABS respondeu muito bem às frenagens.
Conclusão
Nesse hipotético casamento entre o dinheiro do consumidor e a Toyota, o Etios Cross apresenta boas virtudes. É um carro com ótima dirigibilidade, com câmbio preciso, direção progressiva e bom desempenho. Além disso, conta com a boa imagem da marca japonesa e rede de concessionárias, baseado no irmão-rico Corolla.
No entanto, os problemas ergonômicos e estilo controverso pesam contra o carrinho. A falta de mimos também irrita o consumidor, com pequenos detalhes ausentes no Etios Cross e que são disponíveis em modelos de valor inferior. E justamente o custo/benefício fica prejudicado em desfavor do modelo japonês.
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Antes de preencher o cheque dos R$ 48.240 pelo Cross, o consumidor ficará balançado com o Volkswagen Gol 1.6 Rallye 2014, que custa R$ 720 a mais. E por um pouco mais, pode-se levar para casa o Hyundai HB20X Style manual, que vale R$ 49.715. Isso sem falar no Renault Sandero Stepway, que ainda por cima custa menos: R$ 46.090,00. Mas atenção: nos próximos dias a Volks começa a vender o Gol Rallye 2015 com novo motor de 120 cv, enquanto no segundo semestre chega o Sandero reestilizado. Com tantos oponentes, a ida do Etios Cross para a garagem do futuro dono acaba sem final feliz.