Desenho assinado por Giorgetto Giugiaro, o Uno Mille recebeu o apelido de botinha ortopédica no Brasil
Foto: Fiat/Divulgação
O primeiro Fiat Uno foi um daqueles momentos marcantes da indústria automotiva mundial. Isso porque o modelo foi considerado revolucionário para a época. A aerodinâmica do carro, a posição de dirigir e o aproveitamento do espaço interno foram só alguns predicados que o tornaram um sucesso na Europa e no Brasil.
Por aqui, inclusive, o Fiat Uno durou bem mais e até ganhou sobrenome depois de um tempo: Mille. Mesmo fora de linha há mais de 10 anos, o hatch compacto continua entre os mais vendidos e buscados no segmento de veículos usados, onde virou sinônimo de automóvel pequeno, econômico e robusto. Veja agora nove fatos sobre o Fiat Uno Mille.
O Fiat Uno nasceu na Itália em 1983 e começou a ser produzido no Brasil em 1984. O desenho assinado por Giorgetto Giugiaro lhe rendeu o apelido de botinha ortopédica por aqui, onde o carro logo se tornou um dos mais vendidos do mercado – 13 mil unidades só no primeiro ano.
Começou com motores 1.0 e 1.3, e, ao longo dos anos 1980, teve uma de suas versões esportivas mais emblemáticas, a 1.5R, com motor a etanol de 85cv – depois, surgiu a mesma opção movida a gasolina. Tal versão foi substituída pela 1.6R nos anos 1990.
Nesta época, porém, já havia surgido o Fiat Uno Mille, em uma alusão ao conjunto 1.0. Durante a década de 1990, o compacto também experimentou reestilização, novo motor 1.5, injeção eletrônica e um sem fim de versões e séries especiais – e até variante com propulsor turbo.
A partir dos anos 2000, o Fiat Uno passou a ser conhecido apenas com o sobrenome Mille. Ainda passou por uma discreta atualização visual em 2004, estreou motorização flex, adotou propulsor Fire, ofereceu kit Way e ainda teve versões bastante simples e aliviadas em equipamentos para disputar a base do mercado.
Com a chegada da segunda geração do Fiat Uno, a montadora passou a chamar o modelo antigo apenas de Mille. A querida botinha ortopédica continuou em produção até 2013, quando se despediu do país com uma série especial (da qual falaremos a seguir) e após 3,7 milhões de unidades vendidas em 39 anos.
2 - Por que o Fiat Uno virou Mille?
Nos anos 1990, o governo federal passou a dar incentivos para carros com motores de até 1.000cm³. A Fiat não pensou duas vezes, reduziu o curso dos pistões do manjado propulsor Fiasa, antes com 1.050cm³, diminuiu a lista de itens de série e “criou” o “carro popular”.
Assim surgiu o Fiat Uno com o sobrenome Mille, que passou a se valer das alíquotas menores de IPI para os veículos 1.0. O auge foi após 1993, quando o governo estabeleceu 0,1% do imposto para os carros “mil” com limite de preço até o equivalente a US$ 7.500. Mesmo passada essa tributação, o hatch manteve a alcunha e a proposta “popular”.
Só que ficou ainda mais popular em seu fim de vida. Em 2007, a Fiat lançou o Uno Mille Economy, que, como o próprio nome sugere, prometia ser mais econômico no consumo de combustível: cerca de 10%.
Isso graças à adoção de pneus de baixa resistência à rolagem, quinta marcha mais longa, uso de novo óleo lubrificante e um acerto de suspensão que deixou o carro mais baixo. Também foi aliviado em equipamentos – ar-condicionado e direção assistida eram opcionais –, e vinha com um indicador de consumo instantâneo.
3 – Uai, tem aventureiro?
O Fiat Uno Mille também teve direito a uma versão aventureira. Chamada de Way, ela foi lançada em 2006 na forma de um kit opcional. Desta forma, o compacto recebia suspensão elevada, molduras de plástico nos para-lamas, além de vão das portas e colunas pintados de preto.
Em 2008, o pacote virou versão de acabamento fixa na linha. Detalhe é que, no fim de vida, o Fiat Uno Mille Way ainda teve direito a uma série especial Xingu. Agradou tanto que a segunda geração do Uno também teve suas variantes Way – e série Xingu – com motores 1.0 e 1.4.
4 – Desempenho do hatch compacto
Vamos falar do último motor que o Fiat Uno Mille usou. O conhecido e robusto 1.0 Fire, que gera apenas 66cv com etanol e 65cv, com gasolina. É pouco, sofre nas ladeiras, mas consegue fazer o leve compacto de 820kg transitar pela cidade sem maiores problemas – e pressa. O 0 a 100km/h leva incontáveis 14,7 segundos.
A proposta, porém, não é ser um bólido. Mas é um carro com desempenho competente e com consumo baixo. Neste aspecto, as relações mais curtas do câmbio de cinco marchas ajudam o Fiat Uno Mille a sair do lugar e as médias urbanas de 9km/l com etanol e de quase 13km/l, com gasolina, são mais que verossímeis.
5 - Projeto atemporal
Um dos fatos de o Fiat Uno ser meio revolucionário está no seu design. Pequeno por fora, mesmo com 3,69m de comprimento e 2,36m de distância entre-eixos, o carrinho oferece uma cabine muito bem aproveitada, e superior aos rivais da época do lançamento.
Motorista tem posição alta de dirigir e bom vão para pernas e joelhos, além de ergonomia funcional. No banco traseiro é possível acomodar dois adultos e até uma criança sem sofrer demais. E ainda sobra um porta-malas razoável de 290 litros.
Tem a questão do coeficiente aerodinâmico (Cx) de 0,36 proporcionado pelo design assinado por Giorgetto Giugiaro. Se comparado aos compactos da época, dava um banho. Só para se ter ideia, o próprio antecessor Fiat 147 tinha Cx de 0,50.
6 - Nossa dica de melhor versão
Vamos de Fiat Uno Mille em seu último ano de produção, 2013, na versão Economy Way – para fazer uma graça. Facilmente você encontra modelos em bom estado de conservação, com preços entre R$ 27 mil e R$ 34 mil, e com itens que eram opcionais à época (lembre-se que ele era Economy).
Por isso mesmo você só vai ter ar-condicionado, direção com assistência hidráulica, controle elétrico dos vidros dianteiros, travas elétricas, banco rebatível e limpador, lavador e desembaçador do vidro traseiro.
7 - Série de despedida
Uma das séries mais emblemáticas do Fiat Uno foi justamente a de adeus, a Grazie Mille. Vendida nas cores verde Saquarema (essa exclusiva) e preto Bari, foi limitada a 2 mil unidades numeradas e atualmente tem gente que pede mais de R$ 70 mil nela no mercado de usados – mas não vende também.
Faróis com lentes escurecidas, rodas de liga leve aro 13 polegadas exclusivas, ponteira do escapamento esportiva, adesivos com o nome da série e frisos laterais são alguns dos diferenciais. O acabamento interno tem tecido bordado e o emblema da série especial espalhado pelo carpete, teto e até nas pedaleiras.
A produção do Uno Mille foi encerrada em 2013, após 3,7 milhões de unidades vendidas em 39 anos
Fiat/Divulgação
A versão de despedida do Uno Mille foi a Grazie Mille
Fiat/Divulgação
8 – Uma ideia sobre os custos de manutenção
O Fiat Uno Mille é aquele carro que não mete medo no mecânico. Ainda mais se for com o conhecido motor Fire. Simples de mexer, também tem peças baratas.
Jogo com quatro pastilhas de freio dianteiro: de R$ 50 a R$ 100
Kit com quatro velas de ignição: de R$ 60 a R$ 130
Kit troca de óleo*: de R$ 120 a R$ 250
Bomba de combustível: de R$ 170 a R$ 300
Jogo de amortecedores traseiros: de R$ 350 a R$ 520 (par)
Farol dianteiro: de R$ 150 a R$ 380
Para-choque traseiro: de R$ 200 a R$ 400 *Veja a recomendação do modelo no manual: há desde 3 litros de 5W30 a 4 litros de 15W40
Versão Economy do Uno Mille tem pneus de baixo atrito para otimizar o consumo de combustível
Foto: Marlos Ney Vidal/EM/D.A Press
9 - Principais problemas do Fiat Uno Mille
Na fase Fire, o Fiat Uno Mille costuma apresentar defeitos no motor de arranque e também vazamentos de óleo. Observe se há dificuldades em engatar a marcha do câmbio e faça uma inspeção na parte elétrica, que costuma dar problemas. Falhas ao acelerar também são comuns.
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