Em 2004, no Salão do Automóvel de Paris, um sedã romeno, de formas quadradas e estilo bastante vintage –mesmo para a época – atraiu a atenção especial da imprensa brasileira. O Dacia (marca que já era da Renault) Logan era apresentado mundialmente para ser um carro de entrada, acessível e com custo de manutenção baixa. Claro, o Renault Logan caía como uma luva para o Brasil.
Tanto que no próprio motorshow francês o Renault Logan foi confirmado para o nosso mercado. Aqui, trocou o emblema da grade frontal pelo losango da Renault, mas manteve o estilo quadradinho e controverso, além do mais importante: a proposta racional. Entenda esse e outros fatos principais sobre o sedã.
Em 2014, a Renault lançou o câmbio automatizado Easy R para o Logan e Sandero. Fuja dessa opção!
1 - As diferentes fases do Renault Logan
O Renault Logan foi lançado no mercado brasileiro em junho de 2007, basicamente do mesmo jeito do carro mostrado três anos antes em Paris. Com suas linhas quadradonas, sempre foi claramente um veículo de baixo custo de produção, o que ficava evidente não só nas peças da carroceria, como no acabamento e componentes mecânicos.
Começou no Brasil com os motores 1.0 e 1.6, ambos 16 válvulas, e depois ainda ganhou a companhia do 1.6 8V. Entre idas e vindas, alterações de família de propulsores e calibragens na potência, são praticamente as mesmas capacidades volumétricas que acompanham o Renault Logan até hoje.
A primeira reestilização do Renault Logan aconteceu em 2010, como linha 2011. O padrão retilíneo da carroceria foi mantido, mas suavizado pela nova grade dianteira inspirada na do Symbol, e para-choque mais encorpado. Na traseira, mudou tampa do porta-malas e lanternas.
A segunda geração do Renault Logan foi lançada em 2014. A montadora trocou a plataforma Dacia B0 pela M0 e adotou um design bem melhor resolvido – e até mais requintado. Linhas arredondadas, faróis levemente angulosos e grade mais fina deixaram o sedã compacto muito mais bonito, sem sacrificar sua maior virtude: o espaço interno.
Depois de ganhar motor SCe e mudar nome de versões, a última e derradeira mexida na linha Renault Logan aconteceu em 2019. Com faróis integrados à grade e novo para-choque mais envolvente, o sedã também teve mudanças interessantes na cabine e ganhou opção de câmbio CVT.
Contudo, a linha foi sendo enxugada à medida em que as vendas do Renault Logan minguavam. Nos sete primeiros meses deste ano, segundo dados da Fenabrave, o modelo emplacou cerca de 6 mil unidades e, entre os sedãs compactos, fica na rabeira, à frente apenas do Nissan Versa – bem mais caro. Atualmente, o Logan só é vendido em duas versões, sempre com motor 1.0 12V e câmbio manual. A Life, que parte de R$ 85.590 e a Zen, por R$ 88.890.
2 - Como são os motores que equipam o sedã compacto?
Curiosamente, em toda a sua trajetória de mais de 15 anos, o Renault Logan sempre usou motores 1.0 e 1.6. A diferença está na linha destes conjuntos Os primeiros quatro-cilindros da linha Hi-Flex eram multiválvulas, sendo 1.0 16V com potências de 77cv (etanol) e 76cv (gasolina), e 1.6 16V com 112cv (e) e 107cv (g).
Meses depois da sua estreia, o Renault Logan passou a ser equipado, em suas versões intermediárias, com o 1.6 8V Hi-Torque, que, como o próprio nome sugeria, oferecia boa força em giros mais baixos. No caso, eram 95cv (e)/92cv (g) e 14,1kgfm (e)/13,7kgfm (g) a 2.850rpm. Na linha 2013, foi recalibrado e passou a gerar 106cv (e)/98cv (g) e 15,5kgfm (e)/145kgfm (g).
Em 2016, a Renault deu um belo upgrade na gama do seu sedã compacto. O Renault Logan passou a ser equipado com os motores SCe, com comando duplo de válvulas e variação na admissão e no escape. O 1.0 três-cilindros atual de 82cv (e)/79cv (g) e o 1.6 16V quatro-cilindros, com 118cv (e)/115cv (g).
3 - Automático, só o de verdade
Aqui já vai uma dica para quem está de olho em um Renault Logan seminovo ou usado. Se fizer questão do conforto de um câmbio automático, privilegie as versões mais recentes, com a caixa automática do tipo CVT e seis marchas virtuais, lançada em 2019, na carona da última reestilização – a transmissão deixou de ser oferecida em 2021.
Outra opção pode ser a desfasada transmissão automática de quatro marchas, que equipou determinadas versões da linha entre 2011 e 2013. Só fuja, o quanto possível, das configurações a partir da gama 2014, com a famigerada transmissão Easy’R. Trata-se da caixa automatizada, com embreagem simples, que padece de todo o funcionamento confuso das concorrentes Easytronic, Dualogic e i-Motion.
4 - Espaço interno do Renault Logan
Uma das grandes virtudes do Renault Logan sempre foi o espaço interno. O modelo inaugurou o segmento de sedãs crescidinhos, com preço de compacto e espaço interno dos então médios da época – depois seguido por modelos como Chevrolet Cobalt, Nissan Versa, Fiat Grand Siena, entre outros.
Com 2,63 metros de distância entre-eixos, o Renault Logan sempre se destacou por acomodar melhor os passageiros que os sedãs compactos de antes. Motorista e carona usufruem de bom vão para pernas e ombros, e o espaço no banco traseiro recebe dois adultos e uma criança sem dramas.
O porta-malas do Renault Logan também é que nem coração de mãe. Com 510 litros de capacidade, é possível colocar até duas malas grandes no espaço para bagagens e ainda encaixar outros volumes pequenos no que sobrar.
5 - Acabamento interno espartano
Um dos dramas do Renault Logan em toda a sua vida. O acabamento, desde a geração inicial, é alvo de críticas e controvérsias. O primeiro sedã tinha painel sem qualquer charme, muito plástico com aparência de baixa qualidade e rebarbas e falhas no fechamento perceptíveis a olho nu. O quadro de instrumentos com coloração âmbar piorava a situação.
Na primeira reestilização, a Renault tentou melhorar a cabine do Logan. O cluster também ganhou grafismos mais modernos e alguns revestimentos melhoraram de qualidade. Mesmo assim, o aspecto geral do Renault Logan ainda deixava evidente a proposta low cost do projeto de origem Dacia.
A segunda geração do Renault Logan, lançada no fim de 2013, melhorou bastante o acabamento interno, graças ao belo banho de loja promovido pela montadora. O plástico ainda imperava, mas o maior capricho no design dos revestimentos ficou evidente. Instrumentos e volante novos, além de equipamentos (conforme a versão) como ar-condicionado automático e central multimídia, conferiram mais modernidade.
Na remodelação do Renault Logan de 2019, novos bancos e, mais uma vez, novos padrões de acabamento. Cromados, preto brilhante e imitação de aço escovado em diversas partes do habitáculo – que variavam conforme a versão – representaram suspiros de sofisticação. Mas ainda acabam em contraste com o plástico de aparência simples na maior parte da cabine.
6 - Como é a posição de dirigir no Renault Logan?
Outro drama no Renault Logan desde o lançamento. A sensação de estar ao volante do sedã é a de estar abraçando um urso. Para complicar, os ajustes de altura do banco do motorista e da coluna de direção são limitados.
A ergonomia dos primeiros Renault Logan também era ruim. Comandos muito baixos ou outros pouco intuitivos – os botões do acionamento elétrico dos vidros só saíram do console central para os braços das portas na reestilização de 2010.
A posição de dirigir ruim perdurou, assim como falhas na ergonomia. Os primeiros Renault Logan com central multimídia tinham os displays posicionados muito baixos para os olhos e mesmo a operação do motorista. O volante, pelo menos, ganhou melhor pegada em 2019, assim como os bancos, com densidade mais agradável e firme.
7 - Qual é a melhor versão do sedã compacto?
As versões mais recentes com o câmbio automático do tipo CVT estão com preços bastante salgados. Por isso, recorremos a uma opção mais antiga e com caixa manual de seis marchas, porém, bem completinha e com o novo motor 1.6 SCe de 118cv (e)/115cv (g).
O Renault Logan Dynamique, modelo 2017, tem preços entre R$ 42 mil e R$ 48 mil nos principais sites de compra e venda de veículos. Além do airbag duplo e freios ABS obrigatórios, é equipado com ar-condicionado, direção eletro-hidráulica, trio elétrico, central multimídia com Bluetooth e entrada USB, ajustes de altura do volante e do banco do motorista, faróis de neblina, rodas de liga-leve aro 15 polegadas, sistema start/stop do motor, controle de cruzeiro e limitador de velocidade.
Uma coisa bacana nessa fase é a tampa do capô, com amortecimento a gás – dispensa aquela vareta para segurar. Nesta versão do Renault Logan, bancos revestidos em couro, sensor de ré, controle automático do ar-condicionado e GPS com informações em tempo real na multimídia eram opcionais.
8 - Os preços de manutenção do Renault Logan
O sedã foi idealizado sob a aura de manutenção simples e barata. No evento de lançamento, para se ter uma ideia, a marca colocou moedas de R$ 1 nas mesas dos jornalistas convidados para evidenciar que as revisões do carro custavam menos daquele valor por dia.
A Renault mantém uma política de revisão com preço fixo para quilometragens (bem) acima dos 60 mil quilômetros. Confira os valores dos serviços de alguns modelos ou fases do Renault Logan.
Renault Logan 1.0 16V Hi-Flex (com ar-condicionado e direção hidráulica) 2010/2010 a 2013/2013
- 100 mil km: R$ 596,51
- 110 mil km: R$ 541,55
- 120 mil km: R$ 1.277,11
Renault Logan 1.6 8V Hi-torque 2013/2014 a 2015/2016
- 80 mil km: R$ 1.418,76
- 90 mil km: R$ 539,35
- 100 mil km: R$ 654,35
Renault Logan 1.0 16V Hi-Flex (com ar-condicionado e direção hidráulica) 2016/2016 a 2021/2021
- 40 mil km: R$ 828,97
- 50 mil km: R$ 605,15
- 60 mil km: R$ 605,15
Renault Logan 1.6 16V SCe a partir de 2019
- 20 mil km: R$ 581,21
- 30 mil km: R$ 581,21
- 40 mil km: R$ 989,46
9 - Os principais problemas do sedã de origem romena
Nos primeiros anos do Renault Logan, as queixas mais recorrentes eram em relação a barulhos no acabamento interno. Mas o Logan também sempre foi pontuado por alguns problemas crônicos. Defeitos na direção assistida, que costuma ficar mais rígida, e no motor de arranque, são comuns desde a geração de estreia.
Câmbio com trepidação excessiva e dificuldade nos engates, além de pedal de embreagem duro são outras questões recorrentes no Renault Logan. Os motores 1.6 SCe também trazem relatos de falhas nos corpos de borboleta e sobre alto consumo do óleo lubrificante.
10 - O Renault Logan vai morrer
A própria montadora já admitiu que o Renault Logan não terá uma terceira geração no Brasil. Com o segmento de sedãs perdendo cada vez mais espaço para os SUVs, tanto ele como o Sandero vão deixar de ser produzidos por volta de 2024, para darem lugar a uma nova família de crossovers compactos que a marca francesa fará em São José dos Pinhais (PR).
O novo SUV pequeno usará a plataforma CMF-B – arquitetura modular e eletrificada que serve a modelos como a atual geração do Clio e ao Captur europeus – e será equipado com um também novo motor 1.0 turbo de três cilindros e potência acima dos 120cv. Ambos fazem parte de um plano de investimento de R$ 2 bilhões anunciado pela montadora recentemente.
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