Muito antes de o novo Citroën C3 vir com essa marra de “hatch altinho”, a Volkswagen já tinha investido nesse filão. Em 2003, foi lançado o VW Fox, um compacto com teto elevado e maior distância do solo justamente para passar um porte diferente e uma sensação de amplitude na cabine maior.
O VW Fox foi basicamente o mesmo desde o lançamento, no último trimestre de 2003. Sobre a mesma base simplificada do antigo Polo brasileiro, passou por duas reestilizações, teve uma gama racional de motores, muitas versões e diversas séries especiais. Confira 10 fatos sobre o VW Fox.
1 - Como nasceu o VW Fox?
No fim dos anos 2000, a Volkswagen começou a desenhar o projeto Tupi. A ideia era fazer um carro compacto, menor, porém, mais alto que o Gol. Mais importante: ter um automóvel que justificasse a fábrica da marca alemã em São José dos Pinhais (PR) e diluísse os altos custos da arquitetura do Polo, que seria lançado em 2002.
Os engenheiros e projetistas iniciaram o VW Fox com essas premissas. Além do comprimento menor que o do Gol “G3” – sucessor do Bolinha –, a missão era fazer um compacto com ponto “H” de mais ou menos 8cm (mais alto que o dos hatches de entrada da época).
Apelidado internamente de “Highroof”, o VW Fox também teria de ter outras características. Assoalho traseiro plano, banco traseiro corrediço, compartimento abaixo do banco do motorista estavam nas missões das pranchetas dos designers da época.
O modelo, porém, passou por uma via crucis. Desenvolvido inteiramente no Brasil, e sem o conhecimento da alta cúpula do Grupo VW, por pouco não foi abortado. Acabou sendo aprovado na matriz diretamente pelo então chefão da montadora na época, Ferdinand Piëch, que não só disse que o VW Fox seria feito no Brasil como seria importado para a Alemanha.
O modelo, então, recebeu o mesmo nome do Voyage exportado para os Estados Unidos nos anos 1980. Foi lançado em outubro de 2003, já como linha 2004, dentro do “briefing”. Com 1,54m de altura e vão livre do solo de mais de 16cm, o VW Fox acabou “seguido” pela concorrência. Anos mais tarde a Renault usava a mesma lógica com o Sandero e a Chevrolet, com o Agile.
2 – A trajetória do hatch compacto
Em uma época bem diferente do mercado, o VW Fox nasceu apenas na configuração duas portas e em quatro versões de acabamento. Apesar de ser tratado como o substituto do Gol e de usar uma versão simplificada da arquitetura PQ24, a Volks não conseguiu segurar o preço e o hatch altinho virou o meio-termo entre o então carro mais vendido do país e o Polo.
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Meses após o lançamento, em abril de 2004, a marca alemã apresentou a configuração quatro portas do VW Fox. De maneira geral, o início de vida do modelo não foi fácil, e as vendas demoraram a embalar. Além do desenho longe de ser unanimidade, sofria a concorrência do Gol, que, além de mais barato, na régua ainda era maior.
Mesmo assim, em 2004 o VW Fox teve 54 mil unidades vendidas e fechou aquele ano como o sétimo carro de passeio mais emplacado do país. Em 2005, contudo, as vendas saltaram para 94 mil unidades e o VW Fox passou para a quinta posição no ranking geral, atrás apenas dos pesos-pesados de então: Uno, Celta, Palio e Gol.
Em 2009, veio a primeira remodelação, quando o VW Fox aderiu aos novos padrões retilíneos da marca alemã – então inaugurados pelo novo Scirocco na Europa. O hatch teve para-choques e grade redesenhados, enquanto os faróis eram claramente inspirados nos do Polo. A cabine também foi levemente reestilizada, com novo quadro de instrumentos.
A segunda atualização aconteceu em 2014, já como linha 2015. A inspiração, daquela vez, foi o Golf. O VW Fox recebeu grade mais fina, conjunto óptico com elementos quadrados, lanternas que invadem a tampa do porta-malas, além de nova arquitetura eletrônica, com novos equipamentos de série e opcionais. Dentro, volante herdado do referido hatch médio.
Foi a última mudança significativa do VW Fox. O modelo se manteve no mercado com muitas séries e versões, mas no fim de vida ficou cada vez mais enxuto e racional. Nos últimos anos, foi vendido em apenas duas versões e sempre com o mesmo motor 1.6 8V.
Em outubro do ano passado, a Volks confirmou o fim de produção do hatch, que somou 1,8 milhão de unidades fabricadas e mais de 1,3 milhão de vendas no país.
3 – Modelo made in Brazil
Por ordem do presida geral do Grupo VW na época, o VW Fox foi o primeiro Volks brasileiro a ser exportado para a Alemanha. As vendas para o país europeu começaram em abril de 2005, e obviamente o carro que desembarcou no Velho Mundo era bem diferente do nacional.
O VW Fox para exportação era feito na fábrica de São Bernardo do Campo (SP) e recebeu ajustes diferentes na suspensão, além de acabamento diferenciado e mais equipamentos, em especial os freios com ABS e o airbag duplo frontal, que nem sonhavam em equipar os exemplares brasileiros.
Na Europa, o carro foi o modelo de entrada da marca e custava menos de 9 mil euros na época. Porém, não teve muito sucesso por lá. A valorização do real frente ao euro naqueles tempos (quanta saudade!) deixou o carro caro no país. Em seis anos de venda, o VW Fox brasileiro teve menos de 180 mil unidades entregues no continente.
Além da Alemanha, o VW Fox também foi exportado para mercados da América do Sul e para o México. No país latino, especificamente, uma curiosidade. Por lá foi chamado de Lupo, nome dado ao subcompacto da VW vendido na Europa. Tudo para evitar confusões políticas, já que o presidente mexicano era Vincent Fox.
4 – Quais eram os motores do VW Fox?
Ao contrário de outros Volks, o VW Fox sempre teve conjuntos mecânicos bem definidos. Começou sua trajetória com os 1.0 e 1.6 quatro-cilindros da família EA111, já flex, e aliados ao câmbio manual de cinco marchas.
Em 2008, o VW Fox 2009 aderiu aos motores VHT, sigla para Very High Torque. Nada mais era que a linha de propulsores EA111 com mudanças em componentes internos e nova calibração. A Volks mudou o filtro de ar, adotou pistões mais leves e compactos, além de novos anéis e bielas, com menor atrito.
Como o próprio nome sugere, o ganho de torque foi expressivo, especialmente no 1.0. Passou de 9,2kgfm (com etanol) e 9,1kgfm (com gasolina) para, respectivamente, 10,6kgfm e 9,7kgfm a 3.850rpm. Já a potência do “mil” saltou de 72cv (e)/71cv (g) para 76cv (e)/72cv (g). No caso do 1.6, só a potência com etanol ganhou 1cv e foi para 104cv, enquanto o toque foi elevado em quase 1kgfm: 15,6kgfm (e)/15,4kgfm (g).
O mesmo motor 1.0 EA111 ainda ia ganhar outro tapa. Em 2012, a unidade adotou o padrão BlueMotion Technology, da Volks global, e ganhou o apelido TEC com a promessa de melhor eficiência. O conjunto de 999cm³ recebeu novo sistema de partida a frio, nova ECU e promessa de 3% de economia de combustível. Potência e torque foram mantidos.
Coube ainda ao VW Fox estrear o motor tricilíndrico da Volks no Brasil, o mesmo que seria aplicado posteriormente no Up!, no Gol e no novo Polo. O 1.0 12V da família EA211 passou a equipar o VW Fox Bluemotion em 2013. São 82cv com etanol e 75cv com gasolina a 6.250rpm, e torque máximo de 10,4kgfm (e)/9,7kgfm (g) a 3.000rpm.
Segundo a marca alemã, o três canecos tem cilindros maiores, que otimizam a compressão na câmara de combustão, além de bielas 20% mais leves e virabrequim reduzido. O motor ainda tem variação nos comandos e dispensa o tanquinho auxiliar de partida a frio.
Na remodelação da linha 2015, o VW Fox ainda adotou nova motorização, a 1.6 16V também da gama EA211. Com quatro cilindros, comando duplo no cabeçote e variação na admissão, o propulsor rende 120cv (e)/110cv (g) e 16,8kgfm (e)/15,8kgfm (g) a 4.000rpm. Porém, atuou em conjunto com um câmbio manual de seis marchas – além da opção (dispensável) do automatizado i-Motion.
O motor multiválvulas chegou a conviver com o 1.6 8V. Contudo, a partir de 2017, o velho EA111 de até 104cv foi o único sobrevivente na linha até o fim dos dias para o hatch altinho
5 – As crias: aventureiro e familiar
O VW Fox também teve suas variantes ao longo da vida. Em 2005, se rendeu ao segmento dos aventureiros com o CrossFox. Sempre com motor 1.6, o pseudo-off-road seguiu a receita da categoria, com suspensão elevada e reforçada, pneus de uso misto e muitos piercings fora de estrada pendurados na carroceria, como molduras plásticas, soleiras e rack no teto.
O CrossFox acompanhou as mudanças do hatch “civil”. Foi reestilizado em 2009 e 2014. Nesta última mudança também passou a ter opções com o conjunto 1.6 16V aliado ao câmbio manual de seis marchas. Com a iminente chegada de um SUV compacto de verdade, o T-Cross, o aventureiro foi encerrado antes da linha como um todo, em 2017.
Em 2006, foi a vez de a Volks lançar a SpaceFox. A station-wagon derivada do VW Fox era uma alternativa maior e mais equipada à Parati, e uma forma de a montadora alemã produzir algo na Argentina. Também só conheceu motores 1.6 (8V e 16V) e duas remodelações, deu origem à aventureira Space Cross e teve o fim decretado em 2019.
6 – Com fama de João Bobo
Os primeiros anos do VW Fox nem lembram a dinâmica mais apurada e o acerto mais firme típico dos Volkswagen. Mais alto e estreito, e sem o refino das soldas a laser do Polo, o hatch compacto da marca alemã começou com fama de João Bobo.
Isso devido ao comportamento especialmente em curvas. A carroceria torce bastante e o carro aderna em situações de estrada. A coisa começou a melhorar na reestilização de 2009, com uma calibragem mais firme dos amortecedores e reforços pontuais na carroceria.
Ao longo dos anos o VW Fox melhorou bastante nesse quesito. A cada período, o carro foi recebendo acertos para melhorar essa dinâmica. Quem compara um carro de 2004 com o de 2019, por exemplo, vai achar que é outro projeto.
7 - Versão Legal I
O VW Fox Bluemotion 2015 é uma boa opção de carro econômico para se ter na garagem e rodar pela cidade. O modelo tem preços entre R$ 38 mil e R$ 42 mil no mercado de usados, é dotado do motor três cilindros de até 82cv e com boa força em baixas rotações, além de pneus verdes de baixa resistência à rolagem.
Na tabela de 2016 do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV), recebeu nota A e o selo de eficiência energética do Inmetro. Os consumos anotados com etanol ficaram em 8,5km/l (urbano) e 9,9km/l (rodoviário). Com gasolina, 12,8km/l na cidade e 14,2km/l, na estrada.
Na parte de equipamentos, era uma das versões de entrada. Só tinha os airbags frontais e freios com ABS obrigatórios. Direção elétrica, vidros dianteiros e travas elétricos, volante com ajustes de altura e profundidade, limpador e desembaçador traseiros e computador de bordo eram de série, mas ar-condicionado, sensores de estacionamento, retrovisores elétricos, alarme e luzes no porta-luvas e no porta-malas eram opcionais.
8 - Versão Legal II
Para quem quer um VW Fox mais completo, novo e bem disposto, há a possibilidade da versão Xtreme ano 2020. O carro é o mais completo dos últimos anos de vida do hatch e está ainda na garantia. Tem câmera e sensor de ré, ar-condicionado, direção hidráulica, trio, alarme e controle de cruzeiro. O multimídia é o Composition Touch, com tela de 6,5” e conexão com Apple CarPlay e Android Auto.
Por fora, grade do tipo colmeia, faróis com lentes escurecidas e para-choque exclusivo, Os faróis de neblina em formato retangular desempenham tripla função: luz de conversão estática, luz de neblina e de longo alcance. As rodas de liga leve com aros de 16 polegadas, são escurecidas e diamantadas.
O VW Fox Xtreme 2020 usa o motor 1.6 8V e tem preços entre R$ 65 mil e R$ 70 mil. O consumo, pela tabela do Inmetro do mesmo ano, fica em 7,7km/l e 9,2km/l, com etanol na cidade e estrada, respectivamente, e 11,3km/l e 13,3km/l com gasolina. A nota na comparação da categoria ficou em D, e na comparação geral, B.
9 – As séries mais marcantes do VW Fox
Em 18 anos de existência, o VW Fox soma 11 séries especiais (uma delas repetida por duas vezes). Desde os primeiros anos no mercado, o compacto contabiliza edições limitadas das mais variadas: Route, Extreme, Sunrise, BlackFox, SilverFox, Pepper, Run, Seleção e Rock in Rio.
A série Rock in Rio teve três momentos. A primeira, junto com o Gol, foi apresentada em 2011 com 300 carros do hatch altinho, sempre com motor 1.6. As cores seguiam os tons do festival – azul, vermelho e branco.
O modelo traz adesivos com o símbolo do festival, colunas centrais em tom preto fosco, friso cromado no para-choque, faróis e lanternas com máscaras escurecidas, bancos com a silhueta de uma guitarra azul nas laterais do encosto, volante do Passat CC e soleiras cromadas com a marca do evento musical.
O Fox Rock in Rio retornou em 2013 e em 2015. Os símbolos do festival foram espalhados pela carroceria, soleiras das portas, bancos e cinzeiro. Por fora, grade do tipo colmeia, capas dos retrovisores pintadas de cinza, saias traseiras, lanternas escurecidas e rodas de liga leve aro 15 polegadas.
Outro VW Fox emblemático foi o Seleção, lançado em 2013, antes do catastrófico 7 x 1. A marca alemã era patrocinadora da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e aproveitou a conquista da Copa das Confederações daquele ano, conquistada no Maracanã.
Foram 20 mil unidades para o VW Fox, Gol e Voyage, com escudo da CBF no para-lamas, ícone verde e amarelo na traseira, faixas com o nome “Seleção” e o número 10 estilizado, porta-objetos com o símbolo da confederação e bancos com desenho que lembra uma bola de futebol.
10 - Manutenção e defeitos do hatch altinho
O VW Fox tem custo de revisões apenas regulares, mas carrega a fama de robustez dos Volks e motores geralmente confiáveis. Confira o custo das revisões com preço fixo da versão 1.6 dos últimos modelos produzidos.
- 10.000 km: R$ 649,99
- 20.000 km: R$ 1.058,31
- 30.000 km: R$ 838,10
- 40.000 km: R$ 1295,50
- 50.000 km: R$ 649,99
- 60.000 km: R$ 1.712,60
Como boa parte dos Volks compactos, o VW Fox também tem uma oferta vasta de componentes no mercado de reposição. Veja alguns valores:
- Jogo de pastilhas do freio dianteiro: R$ 90 a R$ 120
- Kit de velas (quatro, 1.6 8V): R$ 95 a R$ 130
- Kit de velas (três, 1.0 12V): R$ 70 a R$ 100
- Bomba de combustível: R$ 250 a R$ 550
- Jogo de amortecedores traseiros: R$ 450 a R$ 700
- Farol dianteiro (2015 a 2019): R$ 380 a R$ 650
O modelo, como qualquer carro, tem seus problemas crônicos. Fique atento a manchas e infiltrações nos faróis nos modelos dos primeiros anos de produção, falhas no motor 1.6 8V e a ruídos estranhos no desempenho dos motores 1.0 VHT – isso devido a uma mudança de óleo que a própria VW admitiu em 2008.
Já o motor 1.6 16V apresenta consumo excessivo de lubrificante. Ruídos na coluna de direção e defeitos na bomba de combustível.
Confira ainda os recalls:
- para troca da unidade de comando do airbag em modelos feitos em 2014
- substituição do volante em carros feitos entre 2014 e 2015
- troca do alternador de unidades produzidas entre 2016 e 2017
- substituição da polia do motor em carros fabricados em 2021
- para recompra dos veículos produzidos entre 2015 e 2018
Bônus: cuidado com o dedo
O VW Fox esteve envolvido em um dos imbróglios judiciais mais polêmicos do setor automotivo.
Em 2004, surgiram dezenas de casos com donos do compacto que tiveram os dedos parcialmente decepados na tentativa de rebater o banco traseiro do veículo.
O defeito dizia respeito a uma alça no porta-malas, que devia ser puxada para que a trava do banco corrediço fosse liberada. A peça em questão ficava presa a uma argola, o que podia prender o dedo do usuário. Foram 37 pessoas que tiveram os dedos parcialmente decepados e a Volks disse que não era preciso recall. O presidente da marca chegou a dizer na TV que os acidentes eram culpa dos clientes.
No fim, a fabricante teve de pagar R$ 3 milhões para um fundo de defesa de direitos do consumidor do Ministério da Justiça e de fazer o recall de mais de 800 mil unidades de VW Fox, CrossFox e SpaceFox.
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