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Aumento do biodiesel: ótimo para o produtor, péssimo para o usuário

Bancada ruralista força governo a subir o percentual do biodiesel que entope motores

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Biodiesel é ecologicamente correto, mas se for adicionado ao diesel em percentuais elevados pode causar danos ao motor
Biodiesel é ecologicamente correto, mas se for adicionado ao diesel em percentuais elevados pode causar danos ao motor Foto: Euler Júnior/EM/D.A Press

Que se danem os motoristas! Seus caminhões, ônibus, jipes e máquinas agrícolas entopem os motores com o biodiesel, mas o produtor do biodiesel garante seu faturamento sob o poderoso argumento de estar descarbonizando o planeta.

Não há como negar: o biodiesel seria – teoricamente – um excelente substituto do diesel de origem fóssil, pois é renovável e produzido a partir de vegetais. Uma excelente bandeira a ser defendida. Entretanto, há um consenso de que o percentual máximo para sua adição ao diesel – adotado na Europa – não deve ser superior a 7%, sob risco de prejudicar e encarecer a operação e manutenção dos motores.

No Brasil, os motores resistiram sem problemas até 10%, o chamado B10, mas está atualmente em B12, previsto o B15 para 2025, e o governo quer elevá-lo – irresponsavelmente – para 25%, forçado pela bancada ruralista.

PROBLEMAS NOS MOTORES

O biodiesel produzido no Brasil – principalmente a partir da soja – é obtido a partir do antigo processo de transesterificação e sua molécula é bem diferente do diesel. Seus principais problemas:

  • Custo é muito superior e encarece o do diesel na bomba;
  • É mais higroscópico e absorve, portanto, umidade, que provoca a formação de borra no fundo do tanque, exigindo troca muito mais frequente de filtros e limpeza de reservatórios;
  • Em temperaturas muito baixas – que ocorrem no Sul do país –, ele congela ou forma cristais que prejudicam ainda mais (entopem) filtros e bicos injetores;
  • Aumenta o consumo de combustível;
  • Aumenta a emissão de Nox, um dos gases que poluem o ambiente.

USUÁRIOS PROTESTAM

A Confederação Nacional dos Transportes (CNT) tem 200 mil associados que sofrem na pele (ou melhor, no bolso) os problemas provocados pelo excesso de biodiesel. Ela acaba de publicar uma nota afirmando que:

“A Confederação Nacional do Transporte (CNT) expressa sua grande preocupação com o risco de novo aumento do percentual de biodiesel de base éster ao diesel. A Confederação entende que, para essa decisão, não deve ser considerada apenas a capacidade de produção do insumo no Brasil, mas as consequências desse aumento sobre o funcionamento dos veículos e os impactos econômico, ambiental e de segurança sobre toda a cadeia de transporte e logística do país”.

Quem também se manifestou contra a medida do governo que favorece os produtores, mas prejudica os usuários, foi a Sambaíba Transportes Urbanos, que opera uma frota de ônibus em São Paulo. Em matéria do jornalista Nicola Pamplona (Folha de São Paulo), a empresa diz ter realizado testes com o B15 e “concluiu que o uso de 15% de biodiesel no diesel de petróleo danifica ônibus e amplia o custo do serviço prestado”. Ela apresentou o estudo à ANP, onde afirma ter usado o B15 por sete meses e ter encontrado “um cenário desfavorável do ponto de vista técnico, causando aumento de custo operacional, além de diversas ocorrências que prejudicaram o desempenho técnico de nossa frota”.

A Sambaíba precisou reduzir de 30 mil para 4.500 quilômetros o intervalo de substituição de filtros dos ônibus. Foi necessário também aumentar a frequência de troca de filtros do sistema de recebimento de combustível e do tanque da garagem, com aumento de 417,7% nos custos destes itens. Além disso, os ônibus (Mercedes-Benz) “foram impactados por perda de potência e falhas no sistema de partida”.

BIODIESEL SEM PROBLEMAS?

Existe a possibilidade de usar biodiesel em percentuais maiores sem causar danos aos motores?

1- Sim, desde que tomadas medidas extremas de cautela e com aditivos específicos pode-se abastecer o veículo até com o B100;
2- Outra opção é o “Diesel Verde”, ou Hydrotreated Vegetal Oil (HVO), também produzido a partir de oleaginosas em um processo mais sofisticado, com a presença do hidrogênio. Sua molécula é exatamente igual a do óleo produzido a partir do petróleo, mas é um processo mais caro, que exige investimentos que os produtores do biodiesel não estão dispostos a fazer. Por isso, brigam para “emplacar” seu produto atual, ainda que prejudicial ao usuário. A Petrobrás já iniciou a produção do Diesel Verde.

Enquanto o governo se curvar diante do poderoso lobby da bancada ruralista, que defende o biodiesel protegida sob a bandeira ecológica, ignorar os problemas técnicos e os prejuízos dos motoristas, nossos motores a diesel vão continuar entupindo e encarecendo o transporte no país.

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