Até parece que o Conselho Nacional de Politica Energética (CNPE) terá mesmo um grupo de trabalho “para analisar tecnicamente e deliberar sobre a proposta de aumentar o teor de etanol anidro na gasolina de 27,5% para 30%”, conforme declarou o ministro Alexandre Silveira, do Ministério de Minas e Energia.
O ministro está repetindo afirmação feita por ele mesmo em maio deste ano. Quando o CNPE, aliás – pressionado pela bancada ruralista – aprovou o aumento do teor do biodiesel de 10% para 12%, apesar de todos os problemas provocados nos veículos, e antes mesmo de qualquer estudo da ANP que avalizasse o novo percentual.
Como cabe ao CNPE (que pertence ao MME) estabelecer a composição dos combustíveis no país, é quem autoriza os percentuais de biodiesel no diesel, de etanol na gasolina etc. No caso da gasolina, o “texto enviado pelo governo diz que fixação de percentuais superiores ao limite atual (27%) depende de constatação de viabilidade técnica”.
Pura conversa para boi dormir. Primeiro porque, ao aumentar o percentual de 25% para 27%, o CENPES (Centro de Pesquisas da Petrobrás) testou a gasolina com vários percentuais de etanol, inclusive com 30%. E o resultado foi positivo. O que é óbvio, pois, nos motores flex, o etanol pode ser misturado em qualquer teor, até mesmo 100%, já que foram projetados para isso. Aliás, postos desonestos já “batizam” a gasolina com percentuais muito maiores de álcool e o motor não reclama, só o bolso do motorista, pelo aumento do consumo de combustível.
O único problema técnico de se elevar mais e mais o teor do etanol está nos automóveis com motor a gasolina, que sofrem com o excesso do combustível verde no tanque. Para quem roda com carro flex (85% da frota), problema é a conta no fim do mês: fosse o Brasil um país de conduta ilibada, o preço da gasolina deveria cair quando se aumenta o teor de álcool, que tem menor valor energético. Ou seja, quanto mais etanol, maior o consumo e a conta no bolso do motorista.
Solução para não prejudicar o funcionamento dos motores a gasolina é manter – como já se fez ao aumentar o teor para 27% – a do tipo premium com apenas 25% de etanol anidro.
O resumo da ópera é que o governo faz de conta ser responsável, preocupado com o cidadão e com as emissões de CO². Anuncia então com toda a pompa um grupo de trabalho para analisar o aumento de etanol na gasolina para só então aprovar a medida.
Farsa: duvidê-o-dó de que a conclusão não seja assim divulgada: “Depois de profundos e cuidadosos estudos, simulações, análises e testes, este grupo de trabalho conclui que, sim, é possível aumentar para 30% o teor de etanol. E reduzir em tantas toneladas a emissão de CO², contribuir para a descarbonização do planeta, incentivar o setor agrícola e respeitar a premissa de que o nosso etanol é, definitivamente, um dos combustíveis do futuro”. Quer apostar?
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