A GM coleciona fiascos com seus elétricos.
Ela pagou o preço do pioneirismo com o Chevrolet EV-1, lançado em 1996, que teve a primeira série ainda montada com – imaginem – bateria de chumbo-acido e pegava fogo durante a recarga. Interrompeu a produção em 1999 e recolheu os carros, todos entregues pelo sistema de leasing. Depois veio o híbrido Volt (Opel Ampera na Europa), produzido de 2010 a 1019. E o Bolt em 2016, seu primeiro elétrico importado para o Brasil, também com vários problemas que geraram três recalls: das baterias, princípio de incêndio no interior e até choque no motorista, durante a recarga. Produção sendo encerrada nos EUA, para dar lugar a uma nova geração de elétricos.
O último grande atropelo elétrico da empresa foi de ordem estratégica: Mary Barra, sua CEO global, decidiu pular direto do carro a combustão para o elétrico sem passar pelo híbrido, ao contrário de todas as outras fabricantes, que estabeleceram um plano de evoluir para o elétrico passando antes pelo híbrido. Diretores da GM não podiam brigar com a grande chefe, mas internamente era voz corrente que Mary Barra estava equivocada. Diretores não podem, mas concessionários, sim: muitos deles nos EUA levantaram a voz em uníssono alegando não ter como vender o volume de elétricos que recebiam da fábrica e exigindo o desenvolvimento de híbridos.
No Brasil, a situação foi muito pior e levou Santiago Chamorro, presidente da GM local, quase ao desespero, pois aqui seria questão de vida ou morte: só produzindo elétricos a linha Chevrolet não teria condições de sobreviver. Chamorro – forçado pela conjuntura – ainda se esforçava para defender a tese da chefe. Mas sabia que, mantida a decisão de Mary Barra, a GM teria que fechar fábricas no Brasil e se transformar numa importadora.
Além dos protestos e clamores, empresas de pesquisas nos EUA revelavam o óbvio. A Delloite concluiu que, nos últimos doze meses, a intenção de compra de carros a combustão cresceu, enquanto a de elétricos caiu 1%. Outra consultoria, a S&P Global Mobility, revelou que, nos últimos dois anos, o interesse na aquisição de elétricos caiu em 19%. Aliás, o mesmo em todo o mundo:
- pela redução de subsídios governamentais;
- baixo valor de revenda no mercado de usados;
- dificuldade de recarga nas estradas;
- drástica redução de alcance no inverno;
- alto custo de reparo no caso de acidentes.
Diante de tantas evidências e antes que caísse do cavalo, Mary Barra preferiu cair na real e anunciou finalmente, no início deste ano, que iria desenvolver motorizações híbridas para os próximos lançamentos da GM. A empresa respirou aliviada, Chamorro voltou a dormir em paz e a filial brasileira tem garantido o futuro de suas fábricas.
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