Toda novidade gera controvérsia e reação contrária. No Brasil, discute-se os biocombustíveis, etanol e biodiesel. Ninguém pode ser contrário a queimar um combustível de origem vegetal ao invés do fóssil, do derivado do petróleo.
Mas existem várias sutilezas e detalhes envolvidos neste projeto. E são tantos os interesses econômicos envolvidos, que fica difícil uma análise técnica imparcial, que realmente aponte reais vantagens e desvantagens. Decisões são orientadas mais pelo lobby que pela técnica. Quando o ministro diz que vai pedir um estudo para a viabilidade de aumentar o teor do etanol na gasolina ou do biodiesel no diesel, pode assinar embaixo que o percentual vai subir.
No caso do etanol, por exemplo, a internet realmente “dá voz ao idiota” (Umberto Eco) e tem vídeos de pretensos técnicos sem nenhuma formação científica afirmando que ele “destrói” motores. Mostram na tela carros que chegam rebocados com motores danificados “pelo etanol”. Explicam levianamente serem motores projetados fora do país para queimar só gasolina e somente adaptados aqui para o etanol. E por isso quebram antes de atingir altas quilometragens. Mas se esquecem dos mesmos problemas vitimando motores a gasolina e desconhecem a centenas de engenheiros que se dedicam ao seu aperfeiçoamento.
Procurei analisar os componentes dos carros flex acusados de abrir o bico se abastecidos com etanol. As fábricas de automóveis e fornecedores de autopeças colocaram à disposição os projetos dos principais dispositivos em contato com o álcool. A começar do sensor de linha, que fica entre o tanque e o motor mais moderno, com turbo e injeção direta. Depois vem a bomba de alta pressão exigida por estes motores. A sede de válvula foi completamente reformulada para receber o etanol ao invés da gasolina. E, claro, os próprios bicos injetores.
Até as velas são outras e recebem níquel e não zinco. Fui na Bosch, que fabrica, além de outros componentes, bombas e bicos injetores. Sabe o que vi? Bomba de combustível com sinais de iodo. Como assim? Porque o tanque abastecido com etanol estava adulterado com água do mar. E mais: são vários os casos de carros de locadoras com graves problemas, pois quem os aluga deve devolvê-los com o tanque cheio. E aí, colocam meio a meio de água com etanol, ou completam com xixi e outras malandragens que destroem tudo pela frente. Sempre bem perto da locadora para o carro pelo menos chegar lá.
Nunca vi um relatório de uma dessas oficinas que acusam o etanol tendo anexa a análise do combustível no tanque. O etanol tem problemas? Tem. Mas gasolina, gás e diesel também. Todos contêm hidrocarbonetos, que prejudicam não somente o meio ambiente, mas também os próprios motores. Mas, não existe problema técnico sem solução. Ela pode ser cara e demorada, mas tem.
Já existe um consenso de que as soluções limpas para a mobilidade não serão globais, mas diferenciadas de acordo com o potencial de cada região. E a sinalização para a América do Sul indica os biocombustíveis como a melhor alternativa para os derivados do combustível fóssil.
No mundo de hoje, preocupado com o efeito estufa, o Brasil está entre poucos países no mundo com todas as condições favoráveis para incentivar o etanol, fazer dele a principal alternativa energética da mobilidade e ainda exportar esta solução para outros países da região.
Mesmo com meia dúzia de espíritos de porco tentando derrubá-lo.
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