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FALA, BORIS!

Carro no Brasil é mais caro que em outros países?

O que se diz é que são mais caros porque as fábricas ganham "rios de dinheiro". Mas não é bem assim...

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Fábrica de São José dos Pinhais (PR) produz os veículos Kwid, Stepway, Kardian, Oroch e Duster
Fábrica de São José dos Pinhais (PR) produz os veículos Kwid, Stepway, Kardian, Oroch e Duster Foto: Renault/Divulgação

Não foi só no Brasil: os automóveis ficaram mais caros em todo o mundo. Nos EUA, 12 modelos custavam abaixo de US$ 20 mil há cinco anos. Em 2023, sobrou apenas um, o Mitsubishi Mirage por US$ 19,205.00, segundo pesquisa da KBB. Alguns dos motivos que subiram os preços dos carros nos EUA provocaram o mesmo no Brasil, limite às emissões e inflação entre elas. Mas, por incrível que pareça, as fábricas não ganham “rios de dinheiro” no Brasil e às vezes ganham com alguns modelos para compensar o prejuízo de outros. Não sou advogado de nenhuma delas, pelo contrário: tem duas que nem conversam mais comigo.

Tributação

Nossos impostos estão entre os mais elevados do mundo. De cada R$ 100 desembolsados pelo cliente, mais de R$ 40 vão para os cofres públicos. Um pouco menos no caso dos carros “populares”. Nos EUA, o imposto único é de 8%.

Poder de compra

A grande massa da população, principalmente a que tinha acesso aos automóveis de entrada, perdeu parte de sua capacidade financeira, principalmente no período da pandemia da COVID-19.

Inflação

Vários países do mundo sofreram deste mesmo mal que nos assola, alguns com taxas semelhantes às nossas nos últimos anos. O que, obviamente, sobe o preço do carro.

Emissões

Cada vez que entra em vigor uma nova legislação que torna mais rigoroso o limite de emissões de gases poluentes, as fábricas são forçadas a sofisticar os equipamentos que os controlam. Alguns, como os catalisadores, de custo elevado.

Segurança

Outro custo adicional é provocado pela obrigatoriedade de equipamentos de segurança, a maioria eletrônica, como freios ABS, airbags, sistema eletrônico de estabilidade (ESC) etc.

Logística

As fábricas enfrentam aqui o “Custo Brasil”: a energia elétrica, a estrutura para lidar com a mais complexa (além de elevada) legislação tributária do mundo, os transportes (rodoviário pela falta do ferroviário) agravados pelas rodovias sem manutenção, os encargos trabalhistas, os portos, para citar alguns.

Pátio da Fiat em Betim com modelos Argo vermelho e Strada cinza em primeiro plano e outros modelos ao fundo estáticos no asfalto
O crescimento nas vendas de veículos nos quatro primeiros meses do ano surpreendeu até a Anfavea, mas o ano deve fechar com menos de 2,5 milhões de unidades vendidas Foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press

Câmbio

Um considerável percentual dos componentes que abastecem a linha de montagem é importada,  principalmente os eletrônicos. E até uma parte do aço. O que significa que as fábricas pagam em dólar, que se valorizou razoavelmente nos últimos cinco anos. Eram necessários R$ 3,87 para se adquirir um dólar em maio de 2019. Hoje, R$ 5,17. Um aumento de 33,6%.

Componentes

Além da desvalorização do real, outro fator que encareceu os componentes importados foi seu desabastecimento no exterior devido à pandemia e às guerras. Os microprocessadores (chips) estiveram na berlinda há dois anos. Mas, além deles, a Ucrânia é fornecedora de chicotes elétricos de diversas fábricas. E a Rússia, de revestimentos de bancos.

Escala

Nossa produção de automóveis foi recorde em 2013, com 3,7 milhões de unidades produzidas. As fábricas, entusiasmadas, investiam em novas plantas, ampliação das existentes e nossa capacidade de produção superou as quatro milhões de unidades. Mas os mercados doméstico e de exportação se encolheram e – mesmo com algum crescimento – as vendas este ano serão inferiores a 2,5 milhões de veículos. Isso significa uma redução de escala e aumento do custo unitário de produção. O que é produzido tem que pagar pelo que não foi... o que se chama de ociosidade.

Rentabilidade

É a palavra mágica da indústria automobilística mundial. As fábricas estão se adequando aos novos tempos e em busca de ganhar mais na unidade que na quantidade. Isso significa migrar de carros mais baratos, de entrada, para os mais sofisticados, aumentando o ticket médio da gama. A Renault é um bom exemplo: deixa de produzir no Brasil os modelos da Dacia, sua subsidiária romena que fabrica carros resistentes e baratos (Logan, Sandero, Duster) e vira a chave para os de origem francesa, como o SUV Kardian, que “muda tudo”, segundo ela mesma. Não somente no Brasil: é nova filosofia global da marca. O resultado é um sumiço geral de carros baratos, pois quase todas as marcas estão adotando mesma política.

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