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Carros elétricos obrigam VW a investir bilhões para reverter fracasso

Presidente da marca diz que a empresa está com o "teto em chamas"; CEO do grupo VW sai em busca de parcerias nos EUA e China

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Oliver Blume, CEO do grupo Volkswagen, não faz planos de investir em eletrificação no Brasil
Oliver Blume, CEO do grupo Volkswagen, não faz planos de investir em eletrificação no Brasil Foto: Oliver Blume, CEO do grupo Volkswagen, não faz planos de investir em eletrificação no Brasil

Oliver Blume, que assumiu em 2022 como o principal chefão de todo o grupo VW no mundo, está tão apavorado com o fracasso de seus carros elétricos que contratou, em 2023, um novo gestor para comandar a TI da empresa.

Não satisfeito, estabeleceu este ano duas parcerias para acelerar o processo de modernização de seus automóveis eletrificados.

Volkswagen ID.4 azul em eletroposto vista fronto lateral
Volkswagen ID.4 teve números desastrosos no ano passado, segundo a ABVE Foto: Volkswagen / Divulgação

Fracasso da Cariad

O erro começou, segundo analistas do setor, quando a VW, ao invés de oferecer a opção elétrica em seus modelos tradicionais (como a BMW, por exemplo), decidiu criar novas linhas de automóveis (ID na VW, e-Tron na Audi). Além disso, ela foi uma das pioneiras dos carros elétricos com uma nova plataforma (MEB) apresentada em outubro de 2016, no Salão de Paris. E assistiu de braços cruzados os concorrentes desenvolvendo modelos mais modernos, com tecnologia mais sofisticada e de menor custo de produção, enquanto ela mantém a MEB até hoje.

Em 2020, Herbert Diess, antecessor de Blume como CEO global da empresa, criou a Cariad, uma empresa especifica para desenvolver novas tecnologias e software dos carros elétricos. Foi um fracasso e a VW se viu sem condições de competir sequer no próprio mercado alemão, principalmente depois que o governo cortou os generosos subsídios para os elétricos.

“Teto em chamas”

Nova plataforma elétrica? Seria a MEB Plus, mas prevista apenas para 2026. E a VW perdendo vendas para os carros mais modernos e baratos da Tesla e dos chineses. O presidente da marca VW, Thomas Schäfer, declarou em meados de 2023 ao conselho da empresa que seu teto estava em chamas.

As vendas despencaram a ponto de ele determinar a parada, por várias semanas, da produção de carros elétricos nas fábricas de Emden e Dresden. E cancelou um investimento de bilhões de euros para a construção de uma nova fabrica.

Schäfer ainda tentou tapar o sol com a peneira e negou o fato quando o questionei sobre esta situação durante o Salão de Munique, no ano passado. Blume saiu em campo para apagar o incêndio e, no fim do ano passado, contratou Sanjay Lal, ex-Rivian, Tesla e Google, para gerir a Cariad e acelerar os projetos de TI para que o VW Group tivesse condições de entrar na corrida mundial dos carros elétricos.

Mas logo percebeu que o buraco era mais em baixo e decidiu acelerar o processo de modernização com duas parcerias: em abril deste ano anunciou a primeira com a chinesa XPeng. E agora, em junho, com a norte-americana Rivian, prevendo um aporte de US$ 5 bi para desenvolver novas plataformas.

Volkswagen ID.3 2024 sendo recarregado na parede de uma casa
O Volkswagen ID.3 está sobrando no pátio da montadora na Alemanha, por baixa demanda Foto: O Volkswagen ID.3 está sobrando no pátio da montadora na Alemanha, por baixa demanda

Bilhões de dólares no ralo?

O anuncio foi um choque para os acionistas e os papéis da VW despencaram imediatamente 2,5% nas bolsas. Outro temor é do prejuízo se, mesmo com investimentos de muitos bilhões de dólares, estas parcerias não estancarem o tombo nas vendas de carros elétricos. No ano passado, a VW vendeu metade do que se previa, enquanto Tesla e BYD venderam o dobro do previsto.

Resumo da ópera? Os usuários dos carros elétricos da Volkswagen estão insatisfeitos com seus automóveis, que, além de problemas, não oferecem a mesma modernidade da concorrência. E os interessados em comprar um carro elétrico desistem da VW, pois percebem sua tecnologia defasada em relação à Tesla e as chinesas.

A gigante de Wolfsburg está na corda bamba e em dificuldade para acertar o passo com o acelerado ritmo atual da evolução tecnológica da indústria automobilística. E o teto continua em chamas...

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