A eletrificação veicular voltou à cena mais de um século depois de ter perdido a guerra para a gasolina que chegou farta e barata. E num momento crucial em que responde às exigências da sociedade para a descarbonização do planeta.
O motor à combustão virou o jogo em relação ao elétrico no início do século 20, principalmente pelo reduzido alcance (autonomia) das baterias da época. Com este problema sendo superado, o carro elétrico volta a ser uma importante peça no xadrez do setor, principalmente por seu reduzido teor de emissões, ao encontro das metas estabelecidas em acordos internacionais do meio ambiente.
O carro elétrico traz diversas vantagens em relação ao motor a combustão, a começar da simplificação da linha de montagem (redução de centenas de componentes) e também de sua manutenção. Além do menor custo do quilômetro rodado. E desvantagens: dificuldade de pontos de recarga, alcance (ainda) limitado, descarte das baterias e fontes não limpas de energia para a recarga.
Mas, além de alterar o modus operandi das fábricas e o sistema de pós-venda, a eletrificação do automóvel está resultando também numa completa disruptura do setor, jogando por terra conceitos, políticas e padrões centenários das marcas mais famosas e tradicionais do mundo.
Quem diria, 20 anos atrás, que uma desconhecida Tesla comandada por um bilionário excêntrico, que encasquetou de só produzir carros elétricos, atingiria patamares tão elevados, com valores em bolsa superiores aos da GM, Ford ou VW?
Quem diria, 10 anos atrás, que os carros chineses – então motivo de chacota – surpreenderiam o mundo com sua tecnologia e qualidade?
Aliás, tem uma história a este respeito pouco divulgada. Que há cerca de 20 anos, os chineses perceberam o atraso de seus modelos em relação aos ocidentais. O governo contratou um diretor da Audi na Alemanha para o Ministério do Comércio e Indústria (ou coisa que o valha) e pediu-lhe um estudo para se aprimorar o setor automobilístico chinês.
Ele disse que a indústria chinesa estava pelo menos uma geração atrasada em relação às marcas mais modernas e que, cada passo que dessem à frente, os ocidentais também já teriam se adiantado. E sugeriu que a possibilidade de os chineses avançarem e superar os demais seria investindo na eletricidade veicular. Uma tecnologia ainda incipiente no mundo inteiro. E ainda contribuiria para reduzir a poluição, que já tornava irrespiráveis os ares chineses.
Pelo jeito, sua sugestão foi muito bem recebida...
A Volkswagen não sabe com quem mais estabelecer alianças na China e nos EUA para tentar tirar o atraso tecnológico de seus elétricos. Perde participação para a Tesla e chineses até no próprio mercado alemão. A poderosa Mary Barra, CEO da GM, errou o alvo ao anunciar há dois anos que sua empresa eliminaria a transição pelo híbrido e migrar diretamente da combustão para a bateria. Foi rapidamente forçada a mudar de ideia por seus próprios concessionários norte-americanos, que ameaçaram num comunicado fechar as portas se não contassem com híbridos em sua gama.
Outras poderosas como Mercedes, Volvo, Audi, Renault estão desconsiderando seus comunicados anteriores que anunciaram interromper a produção de motores a combustão dentro de cinco a 10 anos.
Entrevistei outro dia um poderoso executivo brasileiro do setor que chegou a pertencer ao “board” de uma multinacional e perguntei-lhe sua previsão para o ranking das grandes marcas mundiais do mercado automobilístico dentro de 10 anos.
“Qual será exatamente a ordem eu não posso prever, mas, com certeza, marcas chinesas estarão no topo desta lista”.
E nada mais disse nem lhe foi perguntado...
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