Carro chinês? Ainda não está nas cogitações do brasileiro.
Primeiro, porque poucos sabem que ele está chegando e já estará exposto no salão do automóvel em São Paulo daqui a um mês.
Além disso, quem leu esta notícia leu também que os chineses, além de baratos, são muito ruins. O QQ Geely por exemplo, poderá chegar ao nosso mercado por menos de R$ 20 mil, mesmo pagando os pesadíssimos impostos que incidem sobre os automóveis nacionais e importados.
Aliás, a notícia que fala do preço esclarece também que o modelo tem baixa qualidade e pouca durabilidade e é extremamente inseguro no caso de uma batida.
Mas o que quase nenhum brasileiro sabe (ou esteja lembrado) é de que algumas fábricas coreanas de automóveis tentaram o mercado norte-americano há cerca de vinte anos e fracassaram com sua pavorosa qualidade. Rabo entre as pernas, desistiram de suas pretensões, voltaram humildemente para casa, aperfeiçoaram seus produtos e retornaram aos EUA alguns anos depois para conquistarem (junto com os japoneses) os primeiros lugares em qualidade e vendas.
A história provavelmente se repetirá com os chineses, com uma diferença: eles estão absorvendo com enorme rapidez a tecnologia das grandes marcas ocidentais e terão condições de aperfeiçoar seus produtos num piscar de olhos.
Diferença
Conversava outro dia com o presidente da Volkswagen do Brasil, Herr Maergner, sobre o'?perigo chinês'. Ele apontou uma característica impar das fábricas de automóveis chinesas. "Eles sabem que são o mercado de maior potencial do mundo e, por isso, cobiçado pelas grandes marcas do setor. Não há nenhum obstáculo para que qualquer uma delas estabeleça lá uma fábrica, desde que associada com uma empresa local. E aí é que está a esperteza dos chineses - concluiu Maergner - pois eles estão absorvendo rapidamente toda a moderna tecnologia da indústria automobilística".
Herr Maergner, muito elegante, não foi explícito mas deixou nas entrelinhas a diferença entre a inteligência chinesa e a burrice brasileira: nós estamos entre os maiores produtores mundiais de automóveis mas não temos domínio sobre a tecnologia do setor. Se um dia a GM ou a Volkswagen fecharem as portas de suas fábricas no Brasil e voltarem para seus países de origem, elas carregam junto todo o know-how necessário para fabricar um automóvel. Exatamente ao contrário dos chineses.
Impostos
Outra esperteza da China é estimular as vendas domésticas e as exportações, mantendo os impostos reduzidos e a moeda local desvalorizada. Novamente ao contrário da política estabelecida pelo governo brasileiro.
A manutenção do câmbio artificialmente favorável aos exportadores não é permanente, e a moeda chinesa deverá se valorizar a médio ou longo prazo. Mas segurar num patamar baixo os impostos sobre a indústria automobilística não é problema para nenhum país, exceto o Brasil, que insiste em sua visão míope e pratica os mais elevados impostos do mundo.
Perdemos o prazo para exigir que as montadoras se associassem com empresas locais ao se estabelecerem no Brasil. Mas ainda está em tempo de corrigir a segunda burrice.
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