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Carro barato é sinônimo de carro inseguro e pelado?

O assunto 'carro popular' voltou à tona, mas até o momento o cenário aponta para modelos literalmente depenados. É isso mesmo que resta para o consumidor?

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Renault Kwid 2022
Renault Kwid 2022 Foto: Renault Kwid 2022

A crise que a indústria automotiva vem enfrentando nos últimos tempos tem revelado que está difícil recuperar os volumes de vendas registrados antes da pandemia da COVID-19. O grande problema já não é mais a falta de semicondutores. O problema agora é a falta de dinheiro no bolso do consumidor, que não quer encarar os preços exorbitantes dos carros e as altas taxas de juros dos financiamentos. Então, as vendas não sobem e a indústria pensa em relançar um carro barato, o antigo “popular”, mas para isso acontecer será preciso retirar muita coisa dos modelos que, atualmente, são chamados de “mais baratos” no mercado brasileiro.

É isso mesmo! Imaginem pegar um Renault Kwid (R$ 68.190) e um Fiat Mobi (R$ 68.990) e retirar conteúdo deles para chegar ao carro barato... São dois modelos que já têm muito pouco a oferecer e se forem “depenados”, dá até medo de imaginar como ficarão. No quesito segurança, especificamente nos testes de impacto, ambos não foram muito bem. Portanto, se retirarem itens de segurança, a coisa pode complicar.

Fiat Mobi Trekking 2022 vermelho de frente
O Fiat Mobi, segundo modelo mais barato no Brasil, também poderá ser "depenado" para ter o preço reduzido

A princípio, a legislação brasileira não permitiria isso. Os airbags frontais e os freios ABS são itens obrigatórios. Mas e se resolverem recorrer ao “jeitinho brasileiro” para alcançar o preço ideal do carro barato e permitirem retirar esses itens? Tudo para aquecer as vendas e fazer literalmente a roda girar. Mas pode-se pagar um preço muito alto por isso. Tomara que não tenham essa ideia e que a legislação não seja atropelada pelo carro popular.

Nos países desenvolvidos, a segurança nos carros é item primordial e inegociável. O consumidor não compra modelos que não sejam seguros. E as montadoras sabem disso. No Brasil não pode ser diferente. Não é possível abrir mão da segurança para se ter acesso ao chamado carro barato.

Mas o problema é que esse é o argumento dos fabricantes de automóveis. Eles alegam que as legislações de segurança e emissões de poluentes fizeram encarecer os carros, pois tiveram que investir em novas tecnologias e desenvolvimento de motores mais eficientes. Mas quando se produz em larga escala o custo dos componentes não caem? Ou a realidade hoje é outra?

Nos mercados europeu e norte-americanos os consumidores têm acesso ao carro barato, compatível com a realidade salarial. Por aqui, o carro mais barato beira os R$ 70 mil. São quase 54 salários mínimos que o cidadão tem que desembolsar para ter na garagem um carro que está longe de ser o ideal. E o valor que estão cogitando para o novo carro popular é de R$ 50 mil. Será que vai resolver a questão das vendas em baixa? É pouco provável.

Surge então uma questão: se não é possível mexer no pouco que os carros trazem de segurança e nos motores que atendem a legislação antipoluente, de onde vai sair a gordura para se chegar ao preço ideal para o carro barato? É difícil se chegar a um consenso em relação a essa questão, pois as prioridades mudam de acordo com os interesses de cada um.

No passado, o consumidor brasileiro dirigia carros com direção sem assistência, os vidros e as travas das portas eram manuais, o entretenimento era feito no máximo com um bom toca-fitas ou um CD Player e a segurança era garantida apenas pelo velho e fiel cinto. Será que teremos que regredir a esse ponto para chegar ao carro barato?

A indústria evoluiu, os carros estão mais modernos e seguros (nem todos, é claro), e os preços dos componentes vão caindo conforme o volume da produção aumenta. Pelo menos é assim que se espera que aconteça. Porém, a prática tem demonstrado que não é bem assim. Com as variações dos preços do petróleo, do aço e do dólar o que se viu nos últimos meses foi só a elevação dos preços dos carros no Brasil. Carro barato é coisa de sonho cada vez mais distante.

Mas e se você, consumidor, fosse convidado a participar da elaboração do projeto do novo carro popular, para se chegar ao carro barato, quais os itens considerados dispensáveis seriam cortados? Central multimídia? Ar-condicionado? Direção com assistência hidráulica ou elétrica? Comandos elétricos para os vidros e retrovisores? Do que você abriria mão para ter um carro seguro e barato estacionado na garagem de sua casa? Pense nisso, pois deve ser essa fórmula que os executivos das montadoras estão tentando encontrar.

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