Houve um tempo em que andar com o carro lotado, com passageiros bem acima da capacidade, era quase que um ato inocente, desprovido de maldade. Carro bom era igual coração de mãe: cabia todo mundo. E isso aconteceu em um período da história em que os automóveis não tinham sistemas de segurança. E havia a doce ilusão de que quanto mais grossa a lata da carroceria, mais seguro era o carro. E foi pensando assim que muitas pessoas morreram em acidentes no passado.
A preocupação e os investimentos para aprimorar a segurança dos carros veio com o tempo. Primeiro nos países de primeiro mundo, onde a capacidade de desenvolvimento de automóveis seguros era maior e onde o público consumidor aprendeu mais cedo que não dava para comprar um carro que não fosse seguro.
Enquanto isso, nos países menos desenvolvidos o que se via eram carros desprovidos de sistemas de segurança. Não havia interesse das montadoras, governos e até mesmo da sociedade em priorizar projetos que zelavam pela segurança de motorista e passageiros. Era comum ver um carro lotado, com três pessoas nos bancos dianteiros e quatro ou cinco no traseiro, além das crianças no porta-malas.
Cena que parecia ter ficado no passado, pois assim como os automóveis evoluíram no quesito segurança, as normas e leis de trânsito também ficaram mais rígidas, fazendo do carro lotado uma prática inconcebível nos dias de hoje. Crianças soltas no porta-malas ou amontoadas no banco traseiro sem cinto de segurança não pode mais. E já tem muito tempo que essa é a nossa realidade.
Acidentes não acontecem só com os outros
Mas parece que algumas pessoas ainda vivem no passado e acreditam que são imunes às consequências de suas irresponsabilidades. Ainda tem gente que acredita que dirigir um carro lotado, com passageiros sem o cinto de segurança, é coisa normal, sem problema. “É rapidinho. O lugar pra onde vamos não é longe. Não vai acontecer nada”, alegam os que não dão importância à segurança. E o pior é saber que, sim, as coisas acontecem quando a gente menos espera.
Estatísticas já comprovaram que muitos acidentes de trânsito graves acontecem próximo de casa, em deslocamentos curtos. Portanto, não dá pra vacilar. Normas e leis de trânsito foram feitas para serem seguidas e obedecidas. As capacidades de carga e passageiros dos carros também. Portanto, essa história de carro lotado de passageiros não cabe mais em nossa realidade.
Mas, infelizmente, os fatos comprovam que assim como muitos motociclistas conduzem suas motos sem capacete em algumas regiões do país, em outras o fenômeno do carro lotado ainda é uma prática comum.
A imprudência anda solta pelas ruas
Trago na lembrança um acidente ocorrido com meu pai, na década de 1980, quando ele retornava do clube em seu impecável Volkswagen TL, cor vinho reluzente, em uma avenida não muito movimentada de Belo Horizonte. Sem que tivesse poder de reação, ele foi surpreendido por um Ford Corcel que saiu de uma rua perpendicular e invadiu a avenida na contramão, batendo de frente com o TL.
Dois carros frutos de projetos antigos, sem zonas de deformação na carroceria e muito menos equipamentos de segurança. E o mais grave: dentro do Corcel oito pessoas se amontoavam, sem cinto de segurança, entre elas algumas crianças. Uma delas ficou gravemente ferida. O capô do TL do meu pai “enrugou” até o para-brisa, decretando a perda total do carro. Meu pai sofreu ferimentos nas mãos, braços e peito, mas nada muito grave.
Foi mais um acidente com carro lotado, fato comum no passado, que não deveria ocorrer nos dias de hoje. Mas, infelizmente, existem pessoas que insistem em ignorar as leis de trânsito e colocam em risco a própria vida e a de terceiros.
Na semana passada, também em Belo Horizonte, um motorista dirigindo uma picape da Cemig, passou direto por um cruzamento e acertou em cheio um Chevrolet Onix que tinha em seu interior 10 pessoas. É isso mesmo. Não há erro de digitação. Dez pessoas dentro de um hatch compacto: duas mulheres nos bancos da frente e oito crianças, sendo cinco no banco traseiro e três no porta-malas. Impressionante como uma cena de acidente pode ter tantos elementos graves.
A começar pelo motorista que conduzia a picape da Companhia Energética do Estado de Minas Gerais. De acordo com os policiais que estiveram no local, ele apresentava sinais de embriaguez. E ainda conduzia o carro fora do horário de trabalho.
E quanto ao carro lotado, tratava-se de uma família que retornava de um passeio no parque, que por pouco não terminou de forma trágica. Quatro crianças ficaram gravemente feridas e foram encaminhadas para o Hospital de Pronto-Socorro.
Triste é constatar que os carros evoluíram, ganharam carrocerias e estruturas mais eficientes, sistemas de segurança ativa e passiva, mas mesmo assim existem pessoas que teimam em ignorar os limites e desafiam as leis, andando por aí com o carro lotado, com gente saindo pelas janelas.
Até quando vamos ter que registrar esse tipo de irresponsabilidade? Quando as pessoas vão entender que os carros têm limites estabelecidos pelos fabricantes e pela lei? Tomara que o fenômeno do carro lotado fique de uma vez por todas no passado e que as pessoas entendam que o carro homologado para cinco pessoas só pode levar cinco pessoas, e que no porta-malas só podem entrar malas ou outros objetos. Vidas não!
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