Inépcia – A inabilidade do governo veio à tona antes mesmo de oficializar o plano do carro popular, ao anunciá-lo canhestramente antes de ser implementado e criando uma expectativa no mercado que esvaziou as concessionárias durante quase duas semanas. Ou alguém é idiota a ponto de comprar um carro sabendo que seu preço será reduzido daí a alguns dias?
“Galinha” – O plano de renúncia fiscal para o carro popular desagradou a gregos e troianos, pois nada resolveu para o consumidor nem para a indústria automobilística. A redução de R$ 2 mil a R$ 8 mil reais teria que ser acompanhada de um plano de financiamento com juros também reduzidos e a longo prazo. Pois a queda nas vendas não foi provocada apenas pelo preço, mas também pelos juros elevados. Para a indústria, nada resolve este “vôo de galinha”, um movimento pontual que ajudou a aliviar estoques por um curto período. Qualquer plano minimamente consistente deve durar pelo menos 12 meses para gerar resultados satisfatórios.
E as fábricas? O governo foi tão inepto em seu plano do carro popular que se limitou a conceder uma isenção tributária, sem exigir nenhuma contrapartida das fábricas. Ingênuo a ponto de não perceber o óbvio: as montadoras vieram aumentando as tabelas de preços desde o início do ano, pois já tinham vazado informações sobre um possível plano de incentivos no primeiro semestre e imaginavam que seriam forçadas a “colaborar” pelo governo. Tanto que, mesmo sem esta exigência, elas voluntariamente concederam descontos extras até em modelos de valor mais elevado, pois criaram “gordura” para tanto.
Ambiente – Outra distorção do plano do carro popular foi a falta de estímulo aos modelos “limpos”, numa época em que não se trata de outro assunto no planeta. Ou melhor, só se lembraram do assunto ao – ridiculamente – atribuir mais pontos classificatórios aos modelos a etanol, que não existem no mercado. Ou aos híbridos e elétricos: nenhum dentro do valor máximo de R$ 120 mil para fazer jus aos incentivos.
Prazo – Enfiaram as mãos pelos pés ao conceder o prazo (inicial, depois prorrogado) de 15 dias para que a pessoa física aderisse ao plano do carro popular. Por acaso, imaginavam que, se o prazo não fosse estendido, as empresas, frotistas e locadoras não esgotariam o crédito remanescente em questão de minutos? E, pensando bem, qual o propósito de conceder incentivos para locadoras que já gozam de descontos elevadíssimos e colocam o carro à venda (pelo preço de mercado) 18 meses depois da compra?
Pesados! Cereja do bolo na trapalhada foi a inclusão de caminhões e ônibus no plano, numa frustrada tentativa de estabelecer, a toque de caixa, uma renovação de frota para retirar os mais idosos em circulação. Com regras que deveriam teoricamente estimular o caminhoneiro autônomo a sucatear seu veículo, mas que na prática se revelaram inócuas.
“Carro popular” – Só mesmo entre aspas: anunciá-lo é uma ilusão, pois o carro barato já acabou no mundo inteiro, pela inflação e pelos custos dos equipamentos de segurança e emissões. A pura renúncia fiscal não resolve e ainda complica as contas públicas. Se o governo pretende tornar o carro mais acessível, tem que articular com todo a cadeia e pensar nas opções para reduzir custos de fornecedores, fábricas e concessionárias. Além de reclassificar a obsoleta tributação que hoje privilegia a cilindrada, ao invés de emissões e eficiência energética.
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