Dizer que brasileiro é apaixonado por carros é como chover no molhado. A paixão por veículos motorizados costuma vir da infância, passado de pai ou mãe para filho e filha. Uma relação quase afetiva que às vezes ultrapassa a barreira do bom senso. Mas será que, ainda hoje, nós, brasileiros, preservamos os mesmos hábitos em relação aos cuidados com o carro? Muita coisa mudou e o que antes era paixão parece ter se transformado em uma relação de interesses.
No passado, lá pelos anos 1970 e 1980, ter um carro era quase um sonho impossível para um jovem de classe média. E quando esse sonho era realizado, iniciava-se ali uma relação de verdadeiro amor e cuidados com o carro, que se tornava quase um membro da família, com direito a nome e mimos que nem mesmo os pets da época tinham direito.
O ato sagrado de lavar o carro toda semana
E esse sentimento passava de pai para filho(a), nas atitudes quase diárias para preservar aquele tão importante patrimônio da família. Alguns rituais eram considerados sagrados, como lavar o carro no fim de semana, retirando a sujeira dos locais mais improváveis, enxaguando rápido para a combinação de sol e sabão não queimar a pintura, e finalizando com aquela cera que proporcionava um brilho mágico e o famoso “pretinho” nos pneus.
Eram algumas horas de dedicação à higienização do possante, na maioria das vezes ao som do rádio ou do velho e nem sempre tão bom toca-fitas. Mas hoje quase não se vê mais essa cena. Coisa rara é ver alguém de short e camiseta na porta de casa, com o automóvel estacionado na calçada e um balde ou mangueira na mão para dar aquela geral de fim de semana. Os cuidados com o carro foram terceirizados, para a alegria dos donos de lava a jato.
Para os que gostam de sujar as mãos de graxa
No passado, a equipe do VRUM – que antes chamava Caderno Veículos, no jornal Estado de Minas – se empenhava para dar dicas de cuidados com o carro, estimulando o “faça você mesmo”, para que alguns detalhes de manutenção fossem realizados na garagem de casa. Com isso, muitos aprendiam alguns princípios básicos de mecânica automotiva e não passavam aperto em situações de pane do carro.
Na época dos carros com carburador, o motorista precavido costumava ter no porta-luvas ou no porta-malas uma dupla imprescindível para os momentos de aperto: um platinado e um condensador. Se o carro começasse a falhar, engasgar ou não virasse mais na chave, poderia ser problema em um desses dois componentes. Ou então uma vela de ignição suja. Eram problemas que alguns mecânicos de primeira viagem se aventuravam a tentar solucionar.
Atualmente, os carros modernos não têm carburador, contam com injeção direta de combustível e trazem sobre o motor uma tampa de plástico grosso que pode ser traduzida assim: “Não coloque as mãos aí, pois você não vai saber mexer”. E se você não conhece do assunto, é melhor não mexer mesmo, pois a mecânica dos automóveis evoluiu muito e não dá para correr risco se aventurando como mecânico. Se você se preocupa com os cuidados com o carro, é melhor levá-lo ao profissional que entende do assunto.
Mudanças de hábito que ficaram no passado
E as mudanças de hábito em relação ao carro não param por aí. Junto com os automóveis com carburadores (claro que ainda existem muitos rodando por aí) ficaram no passado algumas manias que eram vistas como sagradas, que deveriam ser levadas ao pé da letra.
Deixar o motor aquecer por alguns minutos antes de sair com o carro. Acelerar forte quando liga o motor e antes de desligar. No início dos carros com motor flex a recomendação popular era de alternar o uso de etanol e gasolina para evitar danos ao sistema. Dicas como lavar o chassi e o motor com óleo de mamona já foram vistas como ato de primeira importância, assim como calibrar os pneus com nitrogênio. Eram cuidados com o carro que agora não fazem o menor sentido e não devem mais ser praticados.
A indústria automotiva mudou, os automóveis evoluíram e a tecnologia chegou para tornar a relação com o carro mais prática, sem estresse. Os cuidados com o carro foram literalmente terceirizados, seja para a limpeza ou para os momentos de pane. O seguro te socorre nos momentos de emergência e ninguém precisa mais trazer no porta-malas uma caixa de ferramentas ou sujar as mãos de graxa e óleo tentando fazer o que não sabe.
O automóvel para muitos é cada vez mais um meio de transporte, sem relação afetiva ou qualquer coisa do tipo. Na lista de cuidados com o carro, atualmente, a prioridade é abastecer. Calibrar pneus e fazer manutenção regular são coisas que caíram no esquecimento para muitos. Só são lembrados quando algo deu errado. Ou seja, se um dia houve amor nessa relação, hoje são só interesses.
Se nos carros a combustão já é difícil se aventurar na manutenção, imagine nos elétricos? Confira o teste do BYD Tan EV:
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