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Culpa no cartório

O motorista brasileiro é acusado de não se preocupar com segurança. Mas as montadoras não ajudam em nada, muito antes pelo contrário...

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Os equipamentos de segurança estão na berlinda e o brasileiro é acusado de não ligar para eles. Mas tem a dúvida: poucos os encomendam porque são caros ou são caros porque poucos os encomendam?

Alguns leitores retrucaram que a culpa não é só do consumidor, pois algumas montadoras complicam a vida de quem pretende adquiri-los e também têm culpa no cartório.

Em primeiro lugar, existem modelos populares (motor 1.0) que não oferecem as bolsas infláveis nem como opcionais. Simplesmente porque não foram projetados para serem equipados com elas. Entre eles, o Mille, o Fiesta, o Gol, o Ka e o Celta.

Alguns compactos oferecem o airbag por preços razoáveis, sempre no entorno de R$ 2 mil: Palio, Peugeot 206, Fox, Clio e Polo, entre outros. Mas alguns leitores reclamam que as concessionárias nunca dispõem destes modelos em estoque. Como devem ser encomendados, o prazo de entrega é longo e o freguês acaba desistindo.

Entretanto, adquirir alguns modelos com o airbag ainda é mais complicado. A Ford e a General Motors, por exemplo, carregam a mão. Para que o Fiesta 1.6 venha equipado com airbag, é obrigatório levar um pacote que inclui freios ABS, ar-condicionado e direção hidráulica. Ou tudo ou nada. E a conta final chega acrescida de R$ 15 mil no bolso do freguês.

Mais 'amena' que a Ford, mesmo assim a General Motors também elabora um pacote para enfiar goela abaixo do cliente. No Corsa 1.8 e na Meriva, além do airbag, a montadora exige a compra do ar-condicionado e da direção hidráulica. A "facada" cai para R$ 6 mil.

Ou seja, as montadoras alegam que o brasileiro não liga para a segurança e que prefere pagar pelo item de conforto ou estética. Mas elas não facilitam em nada a vida dos interessados ao incluir o airbag num pacotão de itens de conforto.

Além disso, o governo não alivia o pé na tributação nem quando se trata de itens de segurança. Airbag e rodas de liga leve são igualmente taxados em mais de 30% de impostos. Existe no momento uma movimentação para se reduzir ou isentar esses equipamentos dos impostos federais.

Apoio

Uma prova de que as montadoras não se preocupam com a segurança dos automóveis nacionais é o grande volume de modelos que não dispõe de apoio de cabeça no centro do banco traseiro.

A legislação brasileira exige que automóveis projetados a partir de janeiro de 1999 tenham o apoio apenas nas laterais do banco traseiro. O lobby das montadoras conseguiu eliminar a exigência no centro do banco. E, para fazer economia de palito, raramente o instalam.

O apoio de cabeça é barato, mas importante para proteger a coluna cervical dos passageiros no caso de um impacto traseiro. Por que deixar desprotegido quem vai sentado no meio?

O descaso com esse equipamento é tão evidente que, mesmo sabendo que sua utilização correta exige regulagem da altura, os bancos dianteiros do Chevrolet Celta são costurados no encosto, sem possibilidade de ajuste.

Dá para entender?