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Da água para o vinho

O carro chinês ganhou imagem de baixa qualidade. Mas não se pode generalizar nem imaginar que vai continuar assim a longo prazo

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Eu já tinha lido e ouvido falar dos carros chineses. O crescimento da indústria automobilística na China é um fenômeno: já é a quarta mundial, vai produzir seis milhões de unidades esse ano, o dobro da nossa. E estão previstos quase oito milhões em 2008.

São dezenas de fábricas produzindo de tudo, desde pequenos carrinhos até imponentes e luxuosos BMW. As mais importantes marcas do mundo não querem perder a chance de disputar um mercado de centenas de milhões de consumidores.

A confusão que se faz em relação aos automóveis chineses é a diferença - da água para o vinho - entre as diversas marcas. Não se pode falar genericamente em carro chinês, pois assim como existem marcas obscuras no mundo ocidental como Cherry, Geely, Chana ou Byd, tem também BMW, VW, Fiat, Ford e GM. Montadoras tradicionais que se estabeleceram lá mantendo seus rigorosos padrões internacionais de qualidade. Os modelos podem não estar atualizados e o nosso velho VW Santana, por exemplo, ainda é produzido na China. Aliás, é campeão de vendas entre os taxistas: nove entre 10 táxis são Santanas.

A GM também é forte por lá com a marca Buick, que usa em todos os seus produtos locais. Assim como tudo o que faz no Brasil é Chevrolet. (Cada subdesenvolvido tem a marca que merece...).

Algumas das chinesas produzem modelos sob licença e mantêm um padrão mínimo de qualidade, mas outras improvisam projetos ou copiam descaradamente e sem critério automóveis do primeiro mundo.

Estive na China, a convite da Michelin que organizou em Xangai o "Challenge Bibendum", e não perdi a chance de conhecer de perto alguns modelos produzidos localmente. Cheguei a dirigir um deles, o Cherry QQ, que deverá ser importado para o nosso mercado. É um dos menores e mais baratos produtos locais e sonho de consumo num país que ainda está abandonando a bicicleta e a carroça.

O QQ é horrível: acabamento e desempenho mandaram lembranças, o motorzinho 1.1 é pior que qualquer dos nossos 1.0, plásticos e material de revestimento são de última categoria. O carro, apesar de novinho, trepidava o conjunto motor e caixa e dava a impressão de ser um usado com 50 mil quilômetros. Em compensação, custa (versão básica) apenas 2.500 euros, cerca de R$ 6 mil. O mais sofisticado fica por R$ 9 mil.

No Brasil, mesmo com o nosso real supervalorizado, os pesados impostos de importação elevariam seu preço para R$ 15 mil a R$ 20 mil. Perigosamente próximo dos nossos mais baratos como o Mille ou Celta, embora de qualidade muito inferior.

Claro que a Fiat e GM têm armas para combatê-los. Reduzindo o preço de seus modelos de entrada ou usando as mesmas armas e importando seus modelos produzidos na China para o Brasil.

Resta uma dúvida: será que as marcas chinesas não serão capazes de aprimorar sua qualidade e entrar para valer na concorrência internacional?