O improvável para muitos aconteceu e Javier Milei, de extrema direita, foi eleito o novo presidente da Argentina. Tal notícia poderia ser vista como outra qualquer em países de regime democrático, onde as ideologias e bandeiras se revezam no poder. Mas, nesse caso específico, a tensão se concentra nas promessas do presidente eleito, que anunciou o fim do Banco Central, dolarização da economia e uma revisão na participação da Argentina no Mercosul, o que pode comprometer ainda mais as exportações de veículos do Brasil para o país vizinho.
Caso as falas de Milei não sejam apenas bravatas de um fanfarrão com sede de poder, fica difícil não enxergar um cenário pessimista para a indústria automotiva no Mercosul em um futuro próximo. Principalmente para o Brasil, que tem a Argentina como um de seus principais parceiros comerciais.
E os números não mentem. De acordo com a Anfavea, as exportações de veículos do Brasil para a Argentina caíram significativamente nos últimos meses. De janeiro a setembro a queda foi de cerca de 15% em comparação a igual período em 2022.
Atualmente, a Argentina representa menos de 30% das exportações de veículos do Brasil. No passado, o país vizinho era responsável por mais de 50% das exportações brasileiras no setor automotivo. E a queda é percebida não apenas nos segmentos de automóveis e comerciais leves, mas também em caminhões e ônibus.
Com isso, de Acordo com a Anfavea, a Argentina deve perder este ano o posto de principal destino para as exportações de veículos produzidos no Brasil. A posição deve ser assumida pelo México. No início do ano, a entidade havia feito uma previsão de queda de cerca de 3% nas exportações de veículos no Brasil, mas com os últimos resultados negativos a projeção foi revista para algo em torno de 13%.
A crise argentina, com a maxdesvalorização do peso, que eleva o preço dos produtos importados para 'los hermanos', prejudica não só as exportações de veículos no Brasil, mas também em outros países do Mercosul.
Vale lembrar que enquanto o Brasil manda para a Argentina modelos compactos, o país vizinho envia para o nosso mercado veículos de maior valor agregado, como SUVs e picapes. Negócio bom para o mercado brasileiro, que tem a moeda mais forte do que o peso argentino.
Enquanto isso, montadoras como Volkswagen, Ford, General Motors e grupo Stellantis fazem investimentos em suas fábricas na Argentina sem saber ao certo o que os espera nos próximos anos. O presidente eleito Javier Milei fez ameaça de tirar a Argentina do Mercosul, pois não concorda com alguns pontos do acordo firmado entre os países membros no passado.
A ideia da dolarização da economia argentina assusta e desafia a inteligência dos executivos das grandes montadoras. Qual será a mágica que Milei fará para transformar um país com moeda enfraquecida, sem reservas em dólares, em uma economia produtiva e bem sucedida?
Antonio Filosa, que está deixando o cargo de chefe do grupo Stellantis na América do Sul para assumir como CEO global da Jeep nos Estados Unidos, é mais comedido ao analisar as possíveis ações futuras de Milei. O executivo lembra que “o comércio internacional é fundamental para a Argentina e que o Mercosul é um tratado assinado entre países e, portanto, deve ser respeitado”.
Filosa afirma que a Argentina tem que focar em promover acordos comerciais, pois precisa exportar e o Brasil é o seu principal parceiro na região. Uma visão realista de quem ajudou a levar a Fiat de volta ao topo do ranking no Brasil e também teve empenho fundamental na formação do grupo Stellantis.
Resta saber o que será feito por Javier Milei, que assumirá a presidência na Argentina em dezembro. Vai levar adiante suas ideias extremas para tentar reerguer a economia do país ou vai assumir um tom mais moderado? A expectativa do setor automotivo é de que ele contribua para a retomada das exportações de veículos, tanto de um lado quanto de outro.
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