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Carro zero: está mais fácil comprar depois de 30 anos do Plano Real?

Desde que o Plano Real foi implementado em meados de 1994, os números da economia brasileira mudaram muito, mas comprar carro novo ainda é missão difícil para muitos

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Atualmente, as condições para a compra do carro zero são mais favoráveis, exceto pelos preços elevados
Atualmente, as condições para a compra do carro zero são mais favoráveis, exceto pelos preços elevados Foto: Automax/Divulgação

Não há como negar que a vida do brasileiro melhorou muito depois da implementação do Plano Real, em 1º de julho de 1994. Antes disso, o país viveu um longo período de hiperinflação, chegando a registrar índice acumulado de 6.390% em 12 meses. Na época da virada da moeda, de cruzeiro real (CR$) para real (R$), o preço médio de um carro zero, modelo de entrada, era em torno de R$ 7 mil. Atualmente, o modelo mais barato tem preço sugerido de R$ 72.990. Será que ficou mais fácil para o brasileiro comprar carro zero?

A matemática não é tão simples assim, pois vários fatores devem ser considerados para se chegar a uma conclusão. Tomando como base o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação acumulada de 1994 até os dias de hoje foi de 708%.

Na virada do Plano Real, há 30 anos, o Chevrolet Celta, um dos modelos mais baratos comercializados no mercado brasileiro, tinha preço sugerido de R$ 7.350. Na prática, para comprar um exemplar do Celta, o trabalhador precisava desembolsar cerca de 113 salários mínimos, que na época era R$ 64,79.

O Fiat Uno Mille Eletronic duas portas não era muito diferente, pois era vendido por R$ 7.254, exigindo praticamente o mesmo esforço do trabalhador que sonhava com o carro zero.

Mas, corrigindo os valores desses modelos pelo o IPCA, atualmente o Chevrolet Celta valeria R$ 59.389, enquanto o Uno Mille Eletronic teria preço de R$ 58.613. Considerando o salário mínimo de hoje (R$ 1.412), o trabalhador precisaria direcionar toda a sua remuneração por 42 meses para ter o carro zero estacionado em sua garagem.

Chevrolet Celta modelo 2015 prata escuro quatro portas de frente no estúdio
O Chevrolet Celta resistiu até 2015, quando saiu de linha, mas continuou valorizado no mercado de usados (Foto: Chevrolet/Divulgação) Foto: O Chevrolet Celta resistiu até 2015, quando saiu de linha, mas continuou valorizado no mercado de usados (Foto: Chevrolet/Divulgação)

Porém, outros fatores pesam nessa conta e é claro que um trabalhador não direciona todo o seu salário para a compra de um carro. A opção para a grande maioria é o financiamento, que na época da virada do plano real era uma missão bem difícil, pois não era fácil aprovar o cadastro nos bancos, que faziam uma série de exigências e ainda cobravam juros bem altos.

Atualmente, a situação mudou um pouco para o consumidor que pretende comprar um carro zero. O preço médio de um modelo de entrada no mercado brasileiro é de R$ 73 mil, que equivale a 52 salários mínimos. Ou seja, teoricamente, o trabalhador tem de fazer um esforço menor para ter um carro zero em casa se comparado à condição na época da implementação do Plano Real.

É preciso considerar, é claro, que o custo de vida do trabalhador atualmente é bem mais alto, pois a vida moderna exige gastos com coisas que não existiam na década de 1990. Paga-se caro para morar, comer, vestir e tudo mais que um cidadão precisa. E nem sempre sobra dinheiro, principalmente para comprar um carro zero.

Alguns pontos precisam ser considerados para tentar entender a diferença de preço de um carro zero em 1994 para os dias de hoje. O primeiro deles é o fator tempo, pois é difícil imaginar que em um país como Brasil o preço de um produto vai se manter estável por 30 anos. Impossível!

Além disso, os carros dos anos 1990 são bem diferentes dos atuais, mesmo os de entrada. Além da diferença na construção dos carros, que ganharam aços mais resistentes e zonas de deformação mais eficientes para garantir a segurança dos ocupantes, os modelos mais modernos trazem equipamentos como freios ABS, airbags, controles de tração e estabilidade, motores menos agressivos ao meio ambiente, tudo para atender às legislações vigentes.

Tudo isso encarece o carro zero, que ainda tem que oferecer um design atualizado para agradar o cada vez mais exigente consumidor. Se no carro da década de 1990 o luxo era o toca-fitas ou CD Player, atualmente o custo sobe bem mais com o sistema multimídia com tela tátil cada vez maior e com recursos intermináveis.

E na hora de comprar o carro zero, o consumidor consegue, hoje, algumas facilidades, como juros mais baixos no financiamento, às vezes sem entrada, e com o usado entrando no negócio com preço de tabela Fipe. Tudo para seduzir o consumidor e convencê-lo a levar o automóvel novo para casa.

Mas a prática mostra que no Brasil vende-se cada vez mais modelos com maior valor agregado, ou seja, carros mais caros que são adquiridos por pessoas de poder aquisitivo maior. As montadoras investem cada vez menos em modelos de entrada, que poderiam ser a solução de transporte para a população de renda mais baixa, contribuindo para a renovação da frota e consequente redução na emissão de poluentes.

Para muitos brasileiros ainda não dá para dizer que um carro de R$ 73 mil é barato. Pode ser para quem ganha muito, mas para assalariados continua sendo um esforço muito grande. Ter o carro zero na garagem ainda é um sonho distante para uma parcela considerável da população brasileira.

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