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Trânsito: por que é baixa a adesão ao cadastro nacional positivo?

O excesso de multas e o descaso com as leis de trânsito podem justificar o ainda baixo número de inscritos no Registro Nacional Positivo de Condutores

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Motorista que consegue passar 12 meses sem receber uma multa de trânsito pode se registrar no Cadastro Positivo de Condutores
Motorista que consegue passar 12 meses sem receber uma multa de trânsito pode se registrar no Cadastro Positivo de Condutores Foto: Reprodução/Internet

O motorista brasileiro, em geral, não é um bom exemplo quando o assunto é o comportamento no trânsito. Respeitar regras simples e as próprias leis de trânsito parece tarefa árdua, quase impossível para muitos. Talvez por isso seja cada vez maior o número de infrações, multas, apreensões de CNH e veículos, além das tenebrosas estatísticas que comprovam a violência no trânsito no país. Tudo isso faz com que o Registro Nacional Positivo de Condutores (RNPC) seja desconhecido por grande parte dos motoristas brasileiros.

Para quem não conhece, o RNPC, também conhecido como Cadastro Positivo de Condutores, foi criado em outubro de 2020, por meio da Lei 14.071, e regulamentado pela Resolução 975 de 18 de julho de 2022. O programa tem como objetivo beneficiar motoristas que não cometeram infrações de trânsito nos últimos 12 meses.

De acordo com o Ministério dos Transportes, “o benefício pode ser concedido tanto pela União, estados, Distrito Federal e municípios, na forma de benefícios fiscais ou tarifários”. Na prática, os condutores que autorizarem a participação no RNPC e atenderem aos requisitos previstos no Artigo 268-A do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) poderão ter descontos em taxas, condições especiais para locação de veículos, contratação de seguros, tarifas de pedágio e estacionamento, ofertas de cashback, além de outras vantagens.

O RNPC foi criado pela Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) e permite que empresas e órgãos públicos ofereçam benefícios a motoristas que não cometam infrações de trânsito no período de um ano. O cadastro no RNPC pode ser feito de maneira fácil por meio da Carteira Digital de Trânsito (CDT). Basta preencher um formulário on-line.

Ao se cadastrar, o motorista participante permite que seu nome seja consultado para apurar se ele está apto ou não a receber os benefícios. A Senatran criou o selo Parceiro do Bom Condutor, que pode ser usado em ações promocionais, portais, redes sociais e aplicativos.

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Foto Marlos Ney Vidal/Estado de Minas - 16/02/2004 - Automoveis estacionados em vagas reservadas para deficientes fisicos na avenida Joao Pinheiro, em frente ao predio do DETRAN-MG (Departamento de Transito de Minas Gerais), bairro Funcionarios, Regiao Centro-Sul de Belo Horizonte Foto: Marlos Ney Vidal / EM / D.A Press

Mas o número de motoristas cadastrados no RNPC ainda é pequeno em relação aos 85 milhões de motoristas habilitados no país. Em 2023, um ano depois da regulamentação, eram cerca de 3 milhões, com aproximadamente 500 mil na fila esperando aprovação do cadastro. Atualmente, de acordo com o Ministério dos Transportes, são 7.141.353 registros ativos cadastrados no RNPC, menos de 10% do total de motoristas habilitados.

Os números demonstram duas possibilidades: ou os motoristas brasileiros desconhecem o Cadastro Positivo de Condutores ou a maioria não está em condições de preencher os requisitos necessários para ter os benefícios.

A olhar pelo comportamento de vários motoristas no trânsito das grandes cidades do país, a segunda opção deve ser a mais provável. Parece que está cada vez mais difícil encontrar motoristas com o prontuário limpo, que fiquem por longos períodos sem cometer uma infração e recebeu uma multa.

Excesso de velocidade, avanço de sinal vermelho, conduzir de maneira agressiva e imprudente são ações habituais no dia a dia do trânsito brasileiro. Sem falar nas infrações “menos graves”, como estacionar em local proibido, não respeitar faixa de pedestre, obstruir o trânsito em portas de escolas e ignorar a sinalização de trânsito.

O motorista brasileiro já normalizou essas ações e não vê problema em cometê-las, e tem sempre uma frase pronta para justificar: “Vou parar aqui rapidinho”, “eu não vi que era proibido parar”, “não sabia qual era o limite de velocidade da via”.

E a cara de pau do motorista infrator parece realmente não ter limites. Muitos estacionam em vagas para idosos ou portadores de deficiência sem o menor constrangimento. Outros chegam a colocar o carro com motor a combustão na vaga destinada à recarga de bateria de veículos elétricos. E neste caso, ainda se dão ao trabalho de pendurar o cabo do carregador no retrovisor do carro, para simular a recarga.

Realmente, com esse tipo de comportamento fica difícil ter a ficha limpa e passar 12 meses sem receber uma multa. O motorista brasileiro precisa entender que o trânsito é um reflexo das atitudes da sociedade, e se não soubermos viver em comunidade, respeitando os direitos de todos, ele ficará cada mais mais agressivo.

Respeitar as leis de trânsito e passar 12 meses (ou mais) sem receber uma multa sequer não é motivo de orgulho. É obrigação do cidadão. Mas se o RNPC veio para estimular os motoristas a preservarem a boa conduta no trânsito, que assim seja. Tomara que possamos ver o número de inscritos aumentando a cada ano.

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