Parece estar chegando ao fim a inacreditável novela dos pneus usados, pois a Organização Mundial do Comércio (OMC) acaba de considerar legítima a decisão do Brasil de proibir sua importação.
O parecer final da OMC não aceitou que o Brasil - diante do argumento de baixo volume - permitisse a importação de pneus usados e reformados do Uruguai e Paraguai.
Para que a novela chegue ao capítulo final, só falta uma decisão do Supremo Tribunal Federal em relação às liminares concedidas aos reformadores de pneus que permitiram a importação de milhões de carcaças nos últimos anos.
As fábricas de pneus remoldados, capitaneadas pela BS Colway, são as interessadas em manter essa estapafúrdia importação de pneus velhos, por dois motivos: permite a remoldagem do pneu, que acaba sendo vendido como "novo" sem o custo da carcaça; permite a venda (apesar de proibida) dos pneus usados no mercado, com lucros astronômicos, pois são obtidos sem custo nos países de origem.
A rigor, nada contra os pneus remoldados, desde que sejam produzidos com carcaças sucateadas no nosso mercado, jamais com pneus usados importados, transformando o Brasil em lixo do mundo.
Benevolência
As questões ambientais prevaleceram e foram suficientes para o governo brasileiro ganhar essa causa. Mas há também delicadas questões de segurança na remoldagem de pneus.
Em primeiro lugar, os padrões estabelecidos pelo Inmetro para o processo de remoldagem foram extremamente benevolentes com os fabricantes, mas colocam em risco a vida do usuário, pois não exigem, diferentemente das normas européias, que o remoldado informe sua origem - quais eram as características do pneu do qual se aproveitou a carcaça, que podia ser específico para chuva ou lama, baixa ou alta velocidade, etc.
Exatamente para evitar que dois remoldados instalados num automóvel tenham carcaças de características distintas, o que compromete a estabilidade do automóvel em condição extrema de frenagem ou em curvas.
A grave conseqüência desse "esquecimento" do Inmetro é que, apesar da mesma aparência externa, são pneus de reações completamente diferentes no comportamento dinâmico.
O outro problema da importação de pneus usados é que nem todos são remoldados. É questão de aritmética: só no ano passado, foram desembarcados no Brasil mais de 7 milhões deles, período em que foram produzidos cerca de 2,5 milhões de remoldados. Onde foram parar os outros cerca de cinco milhões?
Os importadores não confessam, é claro, mas a verdade é que grande parte é repassada para lojas na periferia das grandes cidades ou do interior e comercializada como pneus usados, com lucros extraordinários. Apesar de proibida, é uma prática tão aberta. É tanta a cara de pau que há até site de empresa anunciando a "venda de pneus usados importados".
Seja pela segurança, seja pelos problemas ambientais, é importante que o Brasil resolva definitivamente essa questão e risque o país da relação de receptores de lixo ecológico do mundo.
Fim da novela?
Além de problemas ambientais e do lixo ecológico, pneus usados importados representam alto risco à segurança do automóvel