Durante muitos anos, as fábricas de automóveis no Brasil não davam a menor pelota para o consumidor ao perceber algum problema num automóvel recém-lançado.
A solução era instruir as concessionárias a reparar o problema quando (e se...) o carro fosse levado para a revisão. Em alguns casos mais graves, as fábricas se dignavam a enviar cartinhas ou telegramas (eta coisa antiga, hein?) para os donos dos automóveis.
Claro que o esquema não funcionava, pois muitas vezes o automóvel já não pertencia ao primeiro proprietário. Ou o carro não era levado para a revisão. Era o recall ?Na moita?.
Um caso curioso foi um problema na suspensão dianteira do Corcel. Como se espalhou a notícia de que o carro, recém-lançado, gastava um jogo de pneus em apenas 10 mil quilômetros, a Ford decidiu divulgar pela imprensa que estaria substituindo gratuitamente alguns componentes do carro. Uma excelente jogada de marketing, muito antes de o recall se tornar obrigatório, o que ocorreu com o novo código do consumidor e que provocou uma guinada de 180º no assunto, pois determinou que as fábricas divulgassem pela imprensa qualquer operação de serviço relacionada com a segurança.
Foi um passo importante na defesa do consumidor, mas não uma solução definitiva: tem sempre uma ?zona cinzenta?, onde a fábrica pode considerar que a falha não seja ligada à segurança do veículo.
E tem a falta de informação do brasileiro, que comemora a obrigatoriedade do recall sem perceber que ele só acontece nos casos relacionados com itens de segurança.
Um recall que deu o que falar foi o da Volkswagen no ano passado, com o encosto do banco traseiro do Fox, que poderia ferir (ou decepar) o dedo de quem o articulasse. A fábrica insistiu na culpa do usuário que não seguia as recomendações do manual. O Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), do Ministério da Justiça, pensou diferente (e certo) e obrigou a VW a fazer o recall.
Como gato escaldado tem medo de água fria, a mesma VW decidiu (corretamente) na semana passada anunciar a solução de problemas em motores 1.0 do Gol, Voyage e Fox. Ela decidiu esclarecer com muita transparência que os ruídos e desgaste em alguns componentes desses motores estão sendo provocados por falhas de lubrificação.
Os engenheiros da VW perceberam que o problema surgiu depois que decidiram alterar as especificações do óleo.
A solução? Chamar os 400 mil automóveis envolvidos para trocar o óleo. Volta o antigo para o cárter. E aumentar a garantia do motor de três para quatro anos. No caso de o automóvel apresentar ruídos, substituir o propulsor.
Apesar de não ser uma operação de recall, pois não envolve item de segurança, a Volkswagen, antes de anunciá-la (Oficina Ativa), tomou o cuidado de comunicar ao DPDC qual era o problema e a solução adotada.
Mas, algumas vezes, a fábrica decide passar batido pelo problema e adotar a teoria do ?recall na moita?. Caso atual da GM com os pneus do Vectra. Mas isso é assunto para uma próxima coluna.
Gato escaldado...
Volkswagen agiu rápida e corretamente no caso dos motores 1.0. Mas ainda tem fábrica que continua querendo tapar o sol com a peneira