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Golpe baixo

Montadoras brasileiras, além de reservar informações técnicas para as concessionárias, vão tentar também o monopólio das peças de reposição

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No Brasil, qualquer "fundo de quintal" produz e vende impunemente peças de suspensão, direção, freios e outros componentes de segurança do automóvel.

Comentamos nesta coluna, na última semana, que a única forma de se adquirir uma peça fora do concessionário sem perder o sono é a confiança na imagem do fabricante. Se ele é fornecedor da montadora ou empresa tradicional, idônea e com reputação no mercado, não há problemas de qualidade.

O problema do componente de reposição adquirido na rede de concessionárias é seu preço. Como existe também a montadora como intermediária, ele - em geral - custa mais do que no paralelo. Por outro lado, tem qualidade assegurada e garantia.

Mas já existe um plano arquitetado para tirar do consumidor a opção de comprar mais barato, no paralelo, a mesma peça disponível na concessionária. O golpe é complicado, mas está em andamento.

A montadora argumenta que, ao projetar um automóvel, são desenhados milhares de componentes que serão agregados à linha de montagem para formar o produto final. Mas a produção da grande maioria desses componentes é terceirizada a fornecedores ou sistemistas que fornecem subconjuntos já montados. Daí a denominação montadora. A fábrica, na verdade, apenas monta na linha o que recebe de terceiros.

Direitos
A partir desse raciocínio, a montadora quer reservar os direitos de produção de cada componente. Ou seja, o fabricante terceirizado de peças só pode produzir para a montadora, ficando proibido de fornecer para o mercado.

Se a moda pega, não dá nem para imaginar a que altura subiria o custo da peça de reposição para o consumidor, pois a rede de concessionárias teria o monopólio de sua comercialização.

É necessário que o governo e as associações de proteção ao consumidor fiquem atentos a essa manobra, que será um golpe certeiro no saldo bancário dos motoristas.

Aliás, essa pretensão das montadoras está na exata contramão da história: na Europa, já existe uma legislação que protege o dono do automóvel contra a fúria de faturamento da indústria automobilística. Lá, além das peças de reposição, também as informações técnicas necessárias à manutenção do veículo devem obrigatoriamente ser fornecidas pelas montadoras às oficinas mecânicas.

Eletrônica
Isso se tornou necessário nos últimos anos com o advento da eletrônica na mecânica do automóvel. O que dava para fazer "de orelha" no passado exige hoje um computador ao lado. Sem os parâmetros estabelecidos pela engenharia da montadora, ninguém é capaz de calibrar nem ajustar sistema algum do automóvel.

Já existem oficinas independentes no Brasil, de bom nível técnico, incapazes de executar determinadas operações de manutenção porque as montadoras não fornecem os dados técnicos necessários, reservados exclusivamente às suas concessionárias.

Para completar o quadro, só faltava mesmo o consumidor não ter nem mesmo o direito de adquirir peças onde preferir.