Às vezes vivemos situações que nos fazem refletir sobre as transformações pelas quais o mundo e a sociedade vem passando. Recentemente, nos vimos diante da necessidade de contratar dois estagiários para compor a equipe do VRUM. Dois estudantes de jornalismo, sem a obrigação de entender sobre o assunto automóvel, apenas com o compromisso de ajudar a produzir conteúdo. A dificuldade para conseguir preencher as vagas nos levou à conclusão de que jovens e carros já não formam mais uma parceria. Pelo menos não como nos moldes do passado.
Quem já passou dos 50 anos, certamente se lembra como era importante para um jovem ter acesso a um carro. Podia até ser o do pai, emprestado para um “role” no fim de semana. Mas melhor ainda se fosse um carro próprio, símbolo de autonomia e liberdade. Porém, parece que nos últimos anos essa relação entre jovens e carros vem mudando, revelando um comportamento que afeta diferentes setores, de forma positiva ou negativa.
Em nossa busca pelos estagiários, o que mais ouvimos foram jovens dizendo que não entendem nada sobre carros ou que não têm interesse por eles. Levando essas afirmações para um campo mais amplo, nota-se que isso já traz reflexos na venda de veículos, na busca por habilitação para dirigir e no uso do transporte por aplicativos. Um claro sinal de que jovens e carros atualmente têm uma relação no mínimo diferente.
Pesquisa recente revelou que jovens entre 18 e 30 anos estão dependendo cada vez menos do carro próprio. Foi registrada uma queda de mais de 10% no número de pessoas nessa faixa etária que buscam a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Se a faixa for ampliada de 18 a 35 anos, a redução chega a 35%.
Despesas e responsabilidades afastam jovens e carros
Os jovens alegam que carro é como filho, pois dá despesa: manutenção, IPVA, seguro, combustível, sem falar no valor investido na compra. Muitos acham mais viável e barato gastar a grana com o transporte público ou aplicativo. Principalmente se o transporte por aplicativo for debitado no cartão de crédito dos pais. O melhor dos mundos. Uma zona de conforto que livra os jovens dos gastos e das responsabilidades.
Realmente, comprar e manter um carro exige esforço e responsabilidades. Uma consultoria britânica apurou que o Brasil é o quinto país com o custo mais caro para se ter e manter um carro. E como boa parte da juventude afirma que não está interessada em bens materiais, o apego pelo carro vai ficando cada vez mais distante.
Quem perde com isso? A indústria automotiva, por exemplo, que deixa de vender boa quantidade de carros e se vê obrigada a refazer seus planos, ingressando até no ramo de aluguel de carros. Quem sabe assim consegue fisgar os jovens?
E quem ganha com o desinteresse dos jovens por carros? Os aplicativos de transporte, que passam a ser a principal alternativa para locomoção da juventude, que afirma que tal atitude contribui para reduzir os estragos no meio ambiente, já que a frota circulante diminui.
Teorias e estatísticas a parte, o que se nota é que aquele jovem aficionado por revistas especializadas em automóveis está em extinção. O carro já não é mais símbolo de liberdade e muito menos sonho de consumo para aqueles que querem uma vida mais prática, com todas as soluções bem na palma da mão, no celular. Com ele se chega a qualquer lugar.