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O catalisador do Aerolula

Oficinas faturam às custas das marmitas catalíticas. Um crime ecológico sem punição, pois nosso governo é inepto e leniente

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O maior sucesso no Salão de Frankfurt, em setembro, eram três automóveis alemães (BMW, Audi e Volkswagen) fantasiados pelo Greenpeace de porcos poluidores. Não estavam, é óbvio, dentro do pavilhão, mas lá fora, defronte aos portões principais da exposição.

O escapamento dos veículos é considerado o maior vilão ecológico do planeta e responsável pela baixa qualidade do ar que respiramos. Não é bem assim.
É claro que os veículos poluem, mas o quadro não é tão terrível como pintam. Estimava-se que as atividades de transporte no mundo eram responsáveis por 20% das emissões que resultavam em efeito estufa (aquecimento global). Mas uma revista alemã, a Stern, publicou novo estudo que reduz este percentual para cerca de 14%.

Curiosamente, no interior do salão, os estandes de quase todas as marcas destacavam os esforços de seus engenheiros para reduzir o nível de emissões. Soluções alternativas como carros híbridos, elétricos, a gás, biodiesel, hidrogênio, células a combustível e outras fontes energéticas estavam todas na berlinda.

Montadoras suecas já desenvolveram também o motor flexfuel. A BMW oferece motores que consomem hidrogênio. A GM apresenta o carro elétrico. A Mercedes exibe um enorme sedã, com pequeno motor 1.8 tão potente quanto um V8 da marca. O segredo? O protótipo de uma novíssima tecnologia chamada "diesotto" que mistura os conceitos do motor a gasolina (ciclo Otto) com os do diesel. Bebe pouco e não polui quase nada.

Caos
No Brasil, a situação é caótica. O governo se limita a exigir que as montadoras enquadrem seus modelos numa rigorosa legislação copiada do primeiro mundo.

Mas não faz sua parte, não fiscaliza coisa alguma, não implanta a inspeção veicular para verificar o escapamento dos veículos e não se preocupa em melhorar a qualidade dos combustíveis derivados do petróleo.

Nem mesmo a etiqueta de consumo e poluição, obrigatória em outros países, é exigida nos nossos automóveis. O consumidor brasileiro não tem nem o direito de saber quanto consome nem quanto polui o seu carro.

Por falar em emissões, quem adora o assunto são oficinas de escapamento, que perceberam um novo e criminoso filão de faturamento: o cliente chega com o carro e o mecânico imediatamente condena o catalisador, embora esteja em ótimo estado. E convence o dono do carro a substituí-lo por um pedaço de cano que custa R$ 15, evitando colocar um novo por quase R$ 500. "O carro vai até andar melhor, viu doutor". Não vai. E tome poluição pela descarga.

Mais tarde, a oficina vende os catalisadores por uma nota preta, pois contêm elementos químicos nobres e valiosos, exatamente os responsáveis pela redução dos gases poluentes. Um crime sem punição, pois o governo brasileiro é inepto, ineficiente e corrupto.

Se o nosso presidente não sabe o que se passa na sala do lado, imagine na oficina da esquina. E viaja pelo mundo carregando a bandeira ecológica do combustível verde. Sorte que ainda não trocaram o catalisador do Aerolula por um pedaço de cano.