A Fiat foi intimada pelo Departamento de Proteção e Defesa do consumidor (DPDC), do Ministério da Justiça, a fazer um recall para substituir os cubos das rodas traseiras do Stilo. Em alguns acidentes com esse modelo, a roda traseira estava solta, pois o cubo tinha se rompido.
E veio a questão: o acidente aconteceu porque a roda se soltou e o carro ficou desgovernado, ou a roda se soltou por causa do impacto provocado pelo acidente?
Tive acesso ao exame metalográfico de um cubo de roda quebrado que não deixa margem a dúvida: a peça se rompeu depois de submetida a um violento esforço lateral para o qual não foi projetada. Ou seja, quebrou em função do acidente. Qualquer engenheiro que não tenha faltado às aulas de resistência dos materiais (meu caso...) sabe interpretar o resultado do exame e determinar a causa do rompimento da peça.
O DPDC pesquisou o assunto e encomendou um laudo técnico a dois órgãos de muita credibilidade: o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e a Universidade Federal de Campinas (Unicamp). Ambos examinaram os cubos e se declararam incapazes de emitir um parecer conclusivo.
O DPDC solicitou então ajuda ao Denatran, que recorreu ao Centro de Experimentação e Segurança Viária (Cesvi), órgão independente de pesquisas do setor automobilístico. O seu laudo foi conclusivo: a Fiat deveria fazer o recall.
Tive acesso também ao documento emitido pelo Denatran baseado no parecer do Cesvi. Ele diz ser "irrelevante" determinar se a roda solta e provoca o acidente ou se solta por causa do acidente.
Essa afirmação é um disparate, pois não tem nada de ?irrelevante? saber quem veio primeiro: o ovo ou a galinha. Na verdade, esse é o ?xis? da questão: uma coisa é o cubo quebrar e provocar o acidente. Aí a culpa é da Fiat. Outra coisa é a roda se soltar como consequência de um acidente, o que isenta a fábrica de responsabilidade.
Será que o Cesvi imaginou ou pesquisou algum outro problema do Stilo que poderia estar provocando os acidentes? Alguma característica da direção, suspensão ou freios que o tornam mais sensível a uma ?barbeiragem? do motorista?
Curiosamente, o DPDC não só determinou o recall como também a solução do problema: substituir os cubos de ferro fundido por outros, de aço forjado.
A Fiat decidiu não discutir a decisão do governo: importou os cubos de aço (que ela usou inicialmente no Stilo) e está fazendo o recall. Mas vai recorrer judicialmente dessa decisão, para provar que não tem culpa no cartório.
A determinação de recall no Stilo deixa uma dúvida no ar: se a culpa é do cubo de ferro fundido, como ficam as outras dezenas de modelos de automóveis produzidos no Brasil e no mundo também equipados com cubos de ferro?
O ovo ou a galinha?
Se o cubo de ferro fundido é o culpado pelos acidentes do Fiat Stilo, então milhões de automóveis no mundo teriam que fazer o mesmo recall