No final de 2007, mais uma demonstração de fraqueza do governo brasileiro. De submissão ao poder e ao lobby das multinacionais, mesmo sob o vexame de enquadrar o Brasil na contramão da história.
Esta semana entrou em vigor a regulamentação do quebra-mato. Aquela aberração metálica colocada defronte ao pára-choque do automóvel com a finalidade única de agravar as conseqüências de um atropelamento. E, no caso de uma criança, torná-lo fatal, pois atinge sua cabeça em cheio.
Engate bola e quebra-mato. Dois acessórios grotescos, perigosos, inúteis, proibidos em países civilizados, mas "regulamentados" no Brasil. Só pode ter faltado ao Contran a coragem necessária para enfrentar seus fabricantes e proibir seu uso.
Estabelecer padrões para o "quebra&mata" é tapar o sol com a peneira, pois não reduz sua periculosidade. Ele vai continuar quebrando e matando do mesmo jeito. É medida inócua, inútil e ineficiente.
É fácil avaliar o tamanho do absurdo perpetrado pelas nossas autoridades de trânsito: enquanto o Contran "regulamenta" aquele estapafúrdio conjunto de canos na frente do veículo, a Europa já tem legislação que proíbe até mascotes e enfeites colocados na ponta do capô, sobre a grade do radiador. Pois tornam-se armas afiadas em caso de atropelamento.
Enquanto o Brasil oficializa o quebra-mato, a Europa desenvolve uma legislação para que os automóveis, dentro de poucos anos, sejam projetados de forma a reduzir as conseqüências de um atropelamento, aumentando a inclinação da frente do carro e criando uma distância entre o capô e o motor. Pára-choques dianteiros terão de ser mais absorventes e conter airbags.
Mas o famigerado acessório provoca mais danos: testes realizados em alguns veículos dotados de quebra-matos revelaram que eles prejudicam a atuação do airbag, pois confundem os sensores encarregados de disparar a bolsa inflável.
O leitor pode estar perguntando: "Mas, afinal, para que o quebra-mato?"
Acredite se quiser: para coisa nenhuma no trânsito urbano. Jipes e picapes podem eventualmente necessitar do equipamento quando estão na trilha. Ou no mato, como está a explicar o próprio nome da geringonça. Então, que sejam usados no "off-road", jamais no asfalto. Mas os marqueteiros das fábricas de automóveis perceberam que o mercado gosta da excrescência. Confere ar de robustez e o motorista se sente mais macho, másculo e poderoso. Nem precisa ser psicanalista ou psicólogo para perceber que a necessidade de ostentar na frente do carro um equipamento com sólidos tubos cilíndricos deve contribuir para compensar uma deficiência física ou circulatória do motorista...
Algumas montadoras já decidiram se alinhar com a tendência mundial e aboliram o quebra-mato. No Brasil, a Fiat foi a primeira, seguida da Volkswagen. Outras ainda oferecem o escatológico equipamento nas versões "aventureiras" de seus automóveis. Se o motorista se sente um "cabra macho" e compensado em suas deficiências, que se danem os pedestres...
"Quebra macho"
Ostentar na frente do carro um ridículo equipamento com tubos cilíndricos deve compensar eventuais deficiências psicológicas ou circulatórias do motorista