Questão levantada recentemente pelo órgão de segurança rodoviária norte-americano (NHTSA) diz respeito à recusa das montadoras em se responsabilizar por componentes que se deterioram prematuramente, alegando ?desgaste natural?. Trocando em miúdos, você compra um carro zero, roda 10 mil quilômetros e as pastilhas do freio já precisam ser substituídas. Ou o amortecedor deixa de funcionar aos 20 mil quilômetros.
"A embreagem acabou, madame? A senhora deve estar apoiando o pé desnecessariamente no pedal". Traduzindo em miúdos, essa é a forma elegante de negar a garantia.
Existe um padrão consensual de durabilidade, mesmo para essas peças, mas a montadora se vale do argumento de ?desgaste natural? para não assumir a responsabilidade.
Vem então a pergunta: e se o componente em pauta tiver mesmo um defeito de fabricação que reduza sua eficiência ou durabilidade?
Há dois ou três anos, proprietários do Renault Clio reclamaram que as pastilhas de freio duravam pouco. A resposta da montadora era a padronizada de sempre: 'desgaste natural'. Poucos meses depois, a marca francesa teve a honestidade de reconhecer um problema na peça, acionou o fornecedor e trocou-a gratuitamente. Não foi 'recall', pois o carro não ficava sem o freio: era simplesmente um desgaste anormal da pastilha.
Problema que vem afligindo milhares de proprietários de automóveis é a formação de borra. O óleo vira graxa, deixa de lubrificar e o motor funde, sempre depois de vencido o prazo da garantia. As montadoras têm a explicação na ponta da língua: gasolina adulterada, óleo fora da especificação, troca de óleo fora do prazo etc. Mas elas sabem que têm culpa no cartório.
Recentemente, um advogado teve o motor do seu Fiat Marea fundido e a concessionária afirmou que o problema foi provocado pela borra.
Ele recorreu à Justiça alegando que, apesar dos 80 mil quilômetros rodados, toda a manutenção tinha sido realizada conforme as orientações da montadora. E que as trocas de óleo do motor foram realizadas a cada 20 mil quilômetros, como constava do seu manual. E provou que, mais tarde, a Fiat reduziu esse prazo para 15 mil quilômetros, sem alertar os usuários que ainda se baseavam nas instruções do antigo manual. Ganhou a causa.
Chineses
Outro problema que vai para o bolso do cliente é a decisão da GM de equipar seus modelos mais baratos (Celta e Corsa) com pneus chineses da marca Maxxis. Em primeiro lugar, há quem diga nos bastidores que os pneus deram um trabalhão para a montadora, pois esvaziavam sozinhos no pátio.
Mas, vamos imaginar que os pneus tenham um mínimo de qualidade. Se estraga um deles num buraco, como fazer a reposição? As concessionárias não os têm em estoque (embora a GM afirme o contrário) e o jeito é apelar para outra marca que esteja disponível no mercado. Mas, tecnicamente não é recomendável rodar com pneus diferentes. Na pior das hipóteses, os dois de um eixo devem ser idênticos, o que já representa um rombo desnecessário no saldo bancário.
Em resumo: se o prezado estiver comprando um Celta ou Corsa, examine o carro antes de recebê-lo. Se os pneus forem os Maxxis, não aceite, por maior que seja a 'lábia' do gerente para te convencer do contrário...
Quem paga o pato?
As montadoras usam de todas as artimanhas para fazer com que a conta do prejuízo vá parar irremediavelmente no bolso do motorista