O Salão do Automóvel, seja no Brasil ou em qualquer parte do mundo, sempre teve uma legião de fãs e admiradores que moviam as montadoras a investir rios de dinheiro por um espaço nas mostras. Era uma fórmula que parecia dar certo para todos os envolvidos, pois faturavam os organizadores, os expositores e os visitantes, que tinham acesso às últimas novidades do setor automotivo em primeira mão. Mas será que era realmente assim?
Em 2016, no Salão do Automóvel de Paris, já era possível perceber que algo estranho pairava no ar. Foram sentidas as ausências de marcas importantes como Ford, Chevrolet (representada pela subsidiária Opel), Aston Martin, Bentley, Rolls-Royce, Mazda, Lamborghini e Volvo. Todas com peso no cenário automotivo e presença marcante na Europa e em outros mercados.
Em 2014, o VRUM marcou presença no Salão do Automóvel de São Paulo. Relembre!
Já em 2019, as alemãs Audi, BMW e Mercedes-Benz decidiram não participar do Salão do Automóvel de Detroit, nos Estados Unidos. Motivo? A princípio alegaram que enviariam suas novidades para o Consumer Eletronics Show (CES), que foi realizado antes da mostra de Detroit, em Las Vegas.
Na ocasião, a Audi declarou ao site norte-americano Automotive News que “continuaria avaliando os 'Auto Shows' caso a caso, baseando-se no momento para apresentar um novo produto e as vantagens que o evento oferece em termos de mídia e clientes”. Era um claro sinal de que as marcas começavam a questionar o retorno dado por um Salão do Automóvel.
Na tentativa de buscar soluções para o problema, os organizadores do NAIAS, como é chamado o Salão do Automóvel de Detroit, decidiram que a edição de 2019 seria a última no inverno intenso dos EUA. Anunciaram que a mostra seguinte seria em junho de 2020, no verão da Motor City. Seria, mas não foi.
Em 2020 veio a pandemia da COVID-19 e todos os Salões do Automóvel foram cancelados, demonstrando ser o menor dos efeitos que abalariam as estruturas do setor automotivo. Para o público, ficar sem o Salão do Automóvel, pode ter sido um fato lamentável, mas para a indústria automotiva foi um momento de reflexão sobre a real necessidade de se investir vultuosas quantias em mostras pouco lucrativas.
Sim, as montadoras alegavam que gastavam muito dinheiro por um espaço em um Salão do Automóvel, mas não tinham como fazer negócio durante o evento. Ou seja, os organizadores ganhavam muito dinheiro enquanto os fabricantes investiam pesado sem ter o retorno desejado. A conta não fechava. E com isso muitas marcas começaram a fazer eventos isolados, bem mais baratos e lucrativos.
No Brasil, neste ano, chegaram a anunciar o Salão do Automóvel de São Paulo em novo formato. Até o nome seria diferente: São Paulo Motor Experience, que estava programado para acontecer em agosto no Autódromo de Interlagos. A ideia era fazer uma mostra diferente, permitindo que os visitantes fizessem teste drive nos carros apresentados e até comprassem os mesmos em condições especiais.
Bom para as montadoras, que investiriam menos no novo formato da mostra mais simples e ainda ganhariam dinheiro com o negócio. Mas não foi dessa vez que o São Paulo Motor Experience aconteceu. Foi adiado por cauda da pandemia, de acordo com a Anfavea. E não tem nova data confirmada.
Mas este ano algumas mostras retornaram de forma diferente, tentando se reinventar. O Salão do Automóvel de Detroit, que está acontecendo e vai até o dia 25, tem apenas 15 montadoras apresentando seus produtos. Em 2012 eram 35 e em 2019 já tinha caído para 24. É um retorno capenga que deve afetar também o Salão do Automóvel de Paris, de 18 a 23 de outubro, depois de quatro anos da última edição.
O certo é que as montadoras aproveitaram o efeito pandemia para rever se vale a pena mesmo investir em um Salão do Automóvel, principalmente no formato antigo. Depois das experiências digitais, com lançamentos de produtos on-line a baixo custo, muitas devem ter concluído que os Salões do Automóvel se resumem em muito glamour para pouco lucro.
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